tag:blogger.com,1999:blog-4179942703538484782024-03-05T10:15:04.449-03:00O XiquexiquenseUm blog que traz informações e analisa criticamente as notícias de interesse dos xiquexiquenses. Ideal para você que não se satisfaz com o mero relato dos fatos e exige um aprofundamento sobre o que lê. Comprometido com o dever de fundamentar as conclusões a que chega, aceita como inevitável a parcialidade que deixa transparecer. Por isso está sempre aberto a críticas. Seja bem vindo. Boa leitura!O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.comBlogger214125tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-41525691700534381422015-10-24T16:38:00.001-02:002015-10-24T16:45:02.719-02:00Com a palavra: Lula<div><div class="editor" style="box-sizing: border-box;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Ouça no link abaixo entrevista exclusiva do ex-presidente Lula para Mário Kertész. Em uma conversa descontraída, Lula falou sobre diversos assuntos relacionados ao cenário político nacional, ao Partido dos Trabalhadores, além de ressaltar a necessidade de levantar a autoestima do povo brasileiro. O ex presidente também contou a história do nascimento de um dos seus filho, quando ele estava no Hotel da Bahia, no mesmo local onde conversou com MK na manhã de hoje. Além disso, o petista ainda lembrou a importância de Mário em sua formação política. Confira a entrevista completa. </span></div></div><div class="editor" style="box-sizing: border-box;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><br></span></div><div class="editor" style="box-sizing: border-box;">http://metro1.com.br/audios/468,lula.html</div><div><br></div><div><span style="font-family: 'Helvetica Neue Light', HelveticaNeue-Light, helvetica, arial, sans-serif;">https://soundcloud.com/grupometropole/23-10-15-entrevista-lula</span></div>O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-84577169030133964372013-09-21T20:51:00.001-03:002013-09-21T20:51:14.442-03:00O homem que inventou o pré-sal levava mapa de campos da bacia de Santos
no bolso<p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Oito anos depois de aposentado, Guilherme Estrella foi chamado de volta ao trabalho. Dois anos depois da posse do presidente Lula, levava ao presidente os mapas dos gigantescos reservatórios do pré-sal brasileiro, concentrado na bacia de Santos. Virou o "pai do pré-sal" para Lula. Cotado para presidir a PPSA, que vai administrar os contratos de partilha do pré-sal, ele diz não querer nem pensar na possibilidade.</span></p><p class="star" style="text-align: start; margin: 0px; height: 30px; background-image: url(http://f.i.uol.com.br/star.gif); background-position: 50% 50%; background-repeat: no-repeat no-repeat;"><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">*</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Nasci durante a Segunda Guerra, justamente a responsável por fazer da geologia a ciência de maior crescimento na época. Os submarinos alemães se escondiam em formações geológicas em frente aos EUA, daí a necessidade de conhecer essa ciência.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Sou de uma família classe média da Ilha do Governador, zona norte do Rio. Vivia de frente para a baía de Guanabara, que não era o esgoto que é hoje. Morávamos na Lagoa, na zona sul, mas meu pai reclamava do barulho da obra do bonde e nos mudamos.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Fui o geólogo descobridor de um dos maiores poços da bacia do Recôncavo, Miranga, no interior da Bahia, que produz até hoje. A Petrobras produzia 100 mil barris por dia. Em 1966 fiz um levantamento de Alagoas até Vitória e encontrei formações favoráveis a muito petróleo.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Tinha uma frase famosa, do geólogo americano Walter Link, de que o petróleo no Brasil era no mar, e não em terra. Com os primeiros dados, foi dada a autorização para contratar sonda e perfurar no mar.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Eu vivia no interior da Bahia e nem via os movimentos políticos, não participava de nada, mas sabia que os governos militares sempre privilegiaram a Petrobras.<br>A empresa nunca foi uma empresa do governo, mas de governo, seja qual for.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Na época do Geisel [presidente Ernesto Geisel, <a href="tel:1974-1979" x-apple-data-detectors="true" x-apple-data-detectors-type="telephone" x-apple-data-detectors-result="0">1974-1979</a>] fizemos a primeira perfuração no mar do Espírito Santo, no campo de Guaricema. Os testes indicaram óleo, mas subcomercial. Conta-se que Geisel não aceitou e disse que ia produzir de qualquer maneira, e acabou sendo a primeira descoberta relevante do Brasil.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Descobrimos assim que as simulações que eram feitas antes estavam erradas.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">No início dos anos 1970 eram produzidos entre 5.000 e 10 mil barris por dia no mar.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Nessa época fundaram a Braspetro [1972], durante a crise do petróleo, porque os países fornecedores exigiam que os compradores investissem onde compravam, para achar mais petróleo. Faziam isso países como Argélia, Egito, Iraque, Irã e Líbia, que vendiam para o Brasil.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Fui trabalhar no Iraque em 1976 e descobrimos um dos maiores campos do mundo, Majnoon, com 50 bilhões de barris de reservas.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">O campo ficava perto do Irã e não podíamos queimar o óleo do teste de formação de poço. Tive que abrir uma bacia enorme no deserto para colocar o óleo.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Mas a Petrobras teve que devolver o campo. O governo nos chamou e disse que grandes campos não faziam parte da política de permitir a operação de estrangeiras no país, que deviam apenas complementar a produção.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">A Petrobras foi indenizada direitinho e algumas empresas brasileiras também foram beneficiadas. A Mendes Júnior foi construir estrada de ferro, a Sadia entrou no mercado lá e passamos a exportar Passats para lá.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Voltei ao Brasil em 1978 e fui trabalhar na bacia do Espírito Santo. A bacia de Campos já produzia mais que as outras, mas é um estigma, eu nunca trabalhei na bacia de Campos. Vimos que o petróleo no Espírito Santo estava mais embaixo do que previra o Cenpes, centro de pesquisa da Petrobras.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Perfurar mais fundo foi uma dica que veio de um geólogo franco-americano que trabalhava na Chevron. Ninguém vende uma informação dessa, ele nunca ganhou um tostão por isso.<br>Fui para o Cenpes e, em 1982, assumi a superintendência. Nessa época já se falava sobre a teoria da separação das placas tectônicas dos continentes sul-americano e africano, que levaram à formação dos reservatórios similares em ambas as costas, mas não havia tecnologia para pesquisar isso.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">No Cenpes elegemos um colega para uma vaga importante, mas a diretoria vetou porque ele era presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobras. Eu pedi demissão, não aceitei. Isso era 1995, a ditadura já tinha acabado.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Minha esposa morrera um mês antes. Fui morar em Friburgo [região serrana do Rio], casei de novo, entrei para o PT. Fui eleito presidente porque era único com tempo e dinheiro. E também porque a outra chapa perdeu prazo para se habilitar.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Quando Lula ganhou em 2002 fizemos a maior festa. Recebi ligações dizendo que se falava em meu nome para voltar à Petrobras. Recebi um convite do José Eduardo Dutra [presidente da empresa] e voltei.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Quando cheguei lá, não encontrei uma empresa de petróleo, mas uma instituição financeira que investia no setor de petróleo. Tinham acabado com os cursos fora, com as viagens para seminários. Estavam concentrados apenas na bacia de Campos, fazendo caixa, sem investir.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Começamos a expansão. E no primeiro leilão de áreas de petróleo eu vi que a coisa era séria. Quando perdi o primeiro bloco para a Devon, que colocou 100% de conteúdo nacional, a então ministra Dilma Rousseff me ligou cinco minutos depois e disse: "Soube que você perdeu um bloco, isso não vai se repetir, está entendido?".</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">E claro que não perdi mais nenhum. Ali eu senti que a Petrobras ia reassumir a hegemonia do setor de petróleo no Brasil.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">No final de 2005, o gerente-executivo Mario Carminatti me trouxe uns mapas da "picanha azul", como ficou conhecida a área do pré-sal da bacia de Santos. Fui ao Gabrielli [José Sergio Gabrielli, então presidente da Petrobras] e ele me levou para a Dilma, que me levou ao Lula.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Foi aí que começamos a fazer o marco regulatório, eu era o único geólogo naquelas reuniões do marco. O maior embate foi a Petrobras como operadora única, mas só inova quem faz, e decidimos manter assim.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">O Lula me chamava toda hora lá em Brasília para mostrar a apresentação de como era o pré-sal, já andava com o pendrive no bolso.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Fiquei muito orgulhoso de participar do marco regulatório, mas vi que era a hora de parar. Estava com 70 anos. Trabalhava de 7h às 21h, morava em uma apart-hotel no Leblon, estava separado.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Ocorreu uma revolução tecnológica, a Petrobras estava completamente diferente de quando cheguei.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Ficou claro para mim que não dava mais, tinha que deixar a turma nova entrar.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Muita empresa me chamou para participar do conselho de administração, mas não acho certo, possuo informações confidenciais da companhia, é difícil trabalhar numa concorrente. Não me arrependo. Estou cuidando do meu acervo, das minhas coleções em Friburgo, das plantas.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><br></span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><br></span></p>O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-34583594427833529132013-09-03T13:29:00.002-03:002013-09-03T13:29:28.151-03:00Orgulhosa, França tenta entender seu declínioPor STEVEN ERLANGER, em The New York Times<br />
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PARIS - Toda a Europa está falando na "questão francesa": será que o governo socialista do presidente François Hollande conseguirá reverter o lento declínio da França e impedir que o país escorregue definitivamente para a segunda divisão europeia?<br />
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O que está em jogo é se um sistema social-democrata, que há décadas se orgulha de servir como modelo para a oferta de um padrão de vida estável e elevado para seus cidadãos, será capaz de sobreviver à combinação de globalização, envelhecimento populacional e agudos cortes fiscais.<br />
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Pessoas próximas a Hollande dizem que ele está ciente do que é preciso fazer para cortar gastos e reduzir regulamentações que oneram a economia. Amigos da França, em especial a Alemanha, temem que Hollande possa simplesmente carecer de coragem política para confrontar seus aliados e tomar as decisões necessárias.<br />
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Mudar qualquer país é difícil. Mas o desafio na França parece especialmente árduo, em parte porque a vida francesa ainda é muito confortável para muita gente e o dia do juízo parece distante, especialmente para os sindicatos nacionais, pequenos, mas poderosos.<br />
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Os franceses têm um justificável orgulho do seu modelo social. A saúde pública e as pensões são boas, muitos franceses se aposentam com 60 anos ou menos, férias de cinco ou seis semanas são a norma e os trabalhadores com empregos em tempo integral têm jornadas semanais de 35 horas e proteções contra demissões.<br />
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Mas, numa economia mundial mais competitiva, a questão não é se o modelo social francês é bom, mas se os franceses têm condições de continuar a bancá-lo. Com base nas atuais tendências, a resposta é claramente não ou, pelo menos, não sem mudanças estruturais significativas -em pensões, impostos, benefícios sociais, regras trabalhistas e expectativas.<br />
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Mas o Partido Socialista, de Hollande, e a esquerda francesa mais aguerrida não parecem captar a famosa sacada do sobrinho do príncipe em "O Gattopardo", famoso romance de Giuseppe Tomasi di Lampedusa sobre turbulências sociais, segundo quem "é preciso que tudo mude para que tudo continue igual".<br />
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Às vezes, conversando com políticos e trabalhadores franceses, há a sensação de que todos eles se consideram revolucionários e membros de comunas -mas, ao mesmo tempo, como a extrema direita, eles desejam fixar o conforto do conhecido.<br />
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Em maio de 1968, alunos da Universidade Paris-Nanterre começaram o que julgavam ser uma revolução. Estudantes franceses de gravata e meia soquete atiravam paralelepípedos na polícia e exigiam que o esclerosado sistema do pós-guerra fosse mudado.<br />
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Hoje, em Nanterre, alunos preocupados em conseguir empregos e não perder os benefícios estatais exigem que nada mude. Para Raphaël Glucksmann, que liderou uma greve quando estava no colégio, em 1995, os membros da sua geração se sentem nostálgicos em relação a seus pais rebeldes, mas não têm estômago para arrumar briga em tempos difíceis.<br />
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"Os jovens marcham para rejeitar todas as reformas", disse ele. "Não vemos alternativas. Somos uma geração sem atitude."<br />
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Os socialistas se tornaram um partido conservador, tentando desesperadamente preservar as vitórias do último século.<br />
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Mas os sinais de alerta estão por toda parte: o desemprego na França, especialmente entre jovens, está em nível recorde. O crescimento é lento em comparação ao da Alemanha, Reino Unido, EUA ou Ásia. Os gastos públicos representam quase 57% do PIB, maior índice entre os países industrializados. Os aumentos reais de salários superam o aumento da produtividade. A dívida nacional ultrapassa 90% do PIB.<br />
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Em Amiens, no norte da França, a Goodyear mantém duas fábricas de pneus. Os empregados de uma delas aceitaram relutantemente mudar as escalas de trabalho, preservando sua fábrica. Os operários da outra rejeitaram a opção, e a Goodyear está tentando fechar a unidade, deixando mais gente sem trabalho.<br />
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Há um amplo consenso de que só a esquerda poderá promover uma verdadeira renovação. Mas isso só poderá acontecer se Hollande, que tem maioria parlamentar, estiver disposto a confrontar seu próprio partido em nome do futuro.O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-28863929637639855212013-08-28T11:50:00.002-03:002013-08-28T11:50:17.890-03:00Martin Luther King: discurso faz 50 anos<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
A história nos lembra do discurso, da multidão e do protesto pacífico. Mas nos bastidores, a famosa manifestação liderada pelo reverendo Martin Luther King Jr. em Washington, em 1963, provocou suspeitas, ansiedade e receio na Casa Branca de que o dia terminasse em violência.</div>
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Em todo o país, uma onda de protestos havia se espalhado após semanas de disputas raciais em Birmingham, no Estado do Alabama, onde cães policiais feriram manifestantes e potentes jatos de água foram usados em crianças.</div>
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Entre maio e o fim de agosto de 1963, houve 1.340 manifestações em mais de 200 cidades. Algumas aconteceram em comunidades por muito tempo divididas por questões raciais. Outras nunca haviam tido episódios de violência.</div>
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A aleatoriedade dos tumultos fez com que fossem ainda mais assustadores para as autoridades. Com 200 mil manifestantes prestes a se reunir na capital dos Estados Unidos, o governo tinha medo de que Washington testemunhasse o mesmo caos e desordem.</div>
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Para o reverendo Martin Luther King Jr., o líder não-declarado do movimento pelos direitos civis, os acontecimentos do início do verão americano haviam transformado a luta pela igualdade racial do que ele chamava de "protesto negro" em uma "revolução negra". Os Estados Unidos, segundo ele, tinham chegado a um "ponto de explosão".</div>
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Mas as vozes da ansiedade também se fizeram ouvir dentro da administração Kennedy.</div>
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"Assuntos que não se resolvam com justiça e equilíbrio, cedo ou tarde serão resolvidos pela força e pela violência", alertou o vice-presidente Lyndon Baines Johnson. O único conselheiro negro do presidente, Louis Martin, também alertou para uma possível confusão iminente.</div>
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"O ritmo acelerado da inquietação dos negros", disse ele a Kennedy, em particular, "pode provocar o estado mais crítico das relações raciais desde a Guerra Civil". Durante uma reunião tensa na Casa Branca em maio, o procurador-geral Robert Kennedy também alertou seu irmão mais velho do risco de que a situação saísse do controle.</div>
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"Os negros agora estão hostis e furiosos e eles ficarão furiosos com tudo. Não dá para conversar com eles", disse.</div>
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"Meus amigos dizem que (até) as empregadas domésticas e funcionários negros estão hostis."</div>
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Durante boa parte de seu governo, John F. Kennedy enxergou os direitos civis mais como um assunto político a ser administrado do que como uma questão moral a defender.</div>
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Pender para a última alternativa era arriscar a fragmentação do partido Democrata, que na época era um amálgama conturbado de liberais do norte, segregacionistas do sul e pragmáticos, como o presidente, que tentavam manejar as diferenças.</div>
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Kennedy, famoso por sua postura de distanciamento, tampouco tinha um compromisso emocional forte com a luta pela liberdade. Durante a maior parte do tempo, ele havia sido um observador da grande revolução social de sua época.</div>
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No verão de 1963, no entanto, ele percebeu que seu governo poderia vir a ser definido por sua resposta à crise racial. A inação não era mais uma opção. Como ele mesmo comentou durante um discurso televisivo em junho, as "chamas da frustração e da discórdia estão queimando em todas as cidades, ao norte e ao sul".</div>
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<b>28 DE AGOSTO</b></div>
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Em toda a manhã do dia 28 de agosto, enquanto manifestos ganhavam forma do lado de fora de sua janela, o Presidente Kennedy permanecia seguro dentro da Casa Branca liderando uma reunião com estrategistas em política internacional para discutir a guerra do Vietnã.</div>
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Antecipadamente à marcha, ele tinha resistido às exigências de Martin Luther King e demais líderes das chamadas "Big Six" (grandes seis) organizações de direito civil de recebê-los em audiência naquela manhã, já que ele não gostaria de ser identificado como um líder muito próximo das manifestações que poderiam se tornar violentas.</div>
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Seus conselheiros também estavam preocupados com a possibilidade de que os líderes negros chegassem à Casa Branca com uma lista de requisições nada razoáveis, impossíveis para o presidente realizar.</div>
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Se eles deixassem o salão oval da casa presidencial sem um acordo, toda a demonstração nas ruas poderia mudar drasticamente. Para desapontamento dos organizadores da marcha, Kennedy decidiu ser contra a iniciativa de enviar aos manifestantes uma mensagem presidencial, temendo que isso poderia provocar manifestações contra ele no "Mall" --área pública que circunda a Casa Branca.</div>
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Em vez disso, ele concordou em receber uma delegação de líderes negros na Casa Branca somente depois que a marcha terminasse, com a esperança de que isso abrandasse a retórica contra ele.</div>
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Como precaução extra contra pronunciamentos inflamados - e também para prevenir os subversivos de tomar o controle do sistema de anúncio presidencial - um oficial da administração foi posicionado do lado direito do Lincoln Memorial com um interruptor para desligar o equipamento de som e também com uma vitrola de tocar discos.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
Se os manifestantes conseguissem tomar o palanque do microfone, o som seria cortado e a música "Ele tem o mundo todo em suas mãos", cantada por Mahalia Jackson, seria tocada no lugar.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<b>DISCURSO HISTÓRICO</b></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<b><br /></b></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
Às 13h40, a asa oeste da Casa Branca acomodava uma pequena televisão no salão oval por meio da qual Kennedy começou a assistir King pouco antes de ele começar a falar.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
De pé e posicionado bem no meio da escadaria do mais magnificente púlpito que a América poderia oferecer, o orador pairou o olhar sobre o imenso "mar" de 200 mil manifestantes que se aglomeravam nos dois lados do espalho d'água até além dos limites do Mall, chegando ao Monumento Washington.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
Milhares também formavam uma multidão nas áreas laterais do gramado, enquanto outros se mantinham na água da piscina com água até os joelhos para amenizar o calor. Outros ainda cantarolavam amontoados nas árvores expostas à brisa de fim de tarde. Eles não estavam apenas cantando, mas rezando, se abraçando, dando risadas e aplaudindo.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
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Com a imponente estátua de Abraham Lincoln pairando sobre ele, King então começou a falar para os manifestantes que sua presença à sombra simbólica do "grande emancipador" oferecia uma prova maravilhosa de que uma nova ordem estava se espalhando pelo país.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
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Por muito tempo, ele reclamou do fato de os americanos negros serem exilados na sua própria terra, "paralisados pelas amarras da segregação e das correntes da discriminação".</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
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Seria fatal para a nação "não vislumbrar a urgência do momento e subestimar a determinação do negro". Sofrendo com o calor sufocante, a primeira reação dos manifestantes foi o silêncio. O discurso não estava indo bem.</div>
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<br /></div>
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"Fale para eles sobre o sonho, Martin", gritou Mahalia Jackson, se referindo ao já conhecido artifício de discurso utilizado por King muitas vezes.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
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A mensagem não havia entrado no discurso planejado por ele, porque seus assessores insistiram em material novo. Mas King decidiu deixar de lado suas anotações e adentrou espontaneamente no refrão pelo qual ele será lembrado para sempre na história.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
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"Eu tenho um sonho de que um dia esta nação levantar-se-á e viverá o verdadeiro significado de sua crença", gritou King com seu braço direito levantado para o céu. Rapidamente, ele já estava ganhando seu ritmo vigoroso pela coro emocionado da multidão. "Sonhe!", gritavam eles. "Sonhe!"</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
Com sua voz alcançando toda a extensão do Mall, King imaginou um futuro em que crianças poderiam "viver numa nação onde eles não seriam julgados pela cor de sua pele, mas pelo conteúdo de seu carácter". Foi assim que ele alcançou seu caloroso final.</div>
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<br /></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
King ainda pediu à multidão para sinalizar se estavam ouvindo bem.</div>
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<br /></div>
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Assistindo na Casa Branca, o presidente Kennedy estava imóvel. Como muitos americanos, esta foi a primeira vez que ele ouvira o discurso de um orador de 34 anos em sua totalidade - pela primeira vez ele avaliou seu método e ouviu sua cadência.</div>
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<br /></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
"Ele é bom", disse Kennedy para um de seus assessores. "Ele é muito bom". Entretanto, o presidente parecia ter se impressionado mais pela qualidade da performance de King do que no poder de sua mensagem.</div>
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<br /></div>
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Mas a mensagem era vital. King fez um poderoso discurso pela mudança racial de forma não-violenta. E fez isso com tanta eloquência e poder que a mensagem reverberou não apenas no Mall de Washington, mas também na sala de estar dos americanos.</div>
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<br /></div>
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Dias terríveis e violentos se seguiram. Ainda assim, mesmo com toda a preocupação com a segurança antes do manifesto, 28 de agosto de 1963 foi um dia incrivelmente belo.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
Sem confrontos, a marcha provou-se um alívio para a polícia. Até o cair da tarde, houve apenas três prisões, todas envolvendo brancos. No evento, a única ameaça para a polícia não veio de um manifestante desordeiro, mas do frango distribuído mais cedo naquela manhã, que não havia sido refrigerado adequadamente.</div>
<div style="font-family: verdana, helvetica, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 18px;">
<br /></div>
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Pouco depois das 16h, o chefe da polícia emitiu sua mais importante ordem do dia: nenhum dos oficiais deveria, sob qualquer hipótese, tocar no frango que fora preparado para o jantar.</div>
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Aos pés do Lincoln Memorial, Martin Luther King e seus colegas foram colocados em uma caravana de limousines oficiais que bem devagar cruzaram por entre a multidão no trajeto até a a Casa Branca.</div>
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<br /></div>
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Kennedy então recebeu os líderes negros com cumprimentos e repetiu o sonoro refrão que elevou o movimento de direitos civis a um novo plano espiritual: "Eu tenho um sonho". E assim, ele encaminhou todos ao salão oval.</div>
O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-13966957350536104092013-07-31T09:53:00.002-03:002013-07-31T09:53:15.506-03:00Economia: A República da Meia-entrada<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
As manifestações de junho continuam a estimular o debate sobre o modelo político-econômico brasileiro, e seus problemas. Recentemente, como tratado na minha coluna de segunda-feira, desenrolou-se a discussão sobre as causas mais profundas do mau funcionamento do Estado brasileiro.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Em longo artigo, o economista André Lara Resende, um dos pais do Plano Real, apontou para um setor público voltado para si mesmo, enquanto que Samuel Pessôa, do Ibre/FGV e Mansueto Almeida, do Ipea, responderam com comentários e artigos em que enfatizam que foram as demandas de transferências pela sociedade que debilitaram a capacidade do Estado de investir e de alocar recursos de forma mais eficiente.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Uma excelente contribuição a esse debate é um trabalho recente dos economistas Marcos Lisboa, diretor vice-presidente do Insper, e Zeina Latif, intitulado (na versão em inglês a que teve acesso este colunista) “Democracy and Growth in Brazil” (Democracia e Crescimento no Brasil). O artigo na íntegra está <em><strong><a href="https://docs.google.com/file/d/0B8yOsNFcxSV5M2Q5VWJsc0FYaFk/edit" style="color: #333333; cursor: pointer; font-size: 12px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;">aqui</a></strong></em>.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
O estudo é longo, e centra-se na ideia de que o Brasil é um país onde é particularmente forte o “rent-seeking”, expressão em inglês da literatura econômica que significa, nas palavras dos autores, “o processo pelo qual grupos especiais conseguem obter privilégios e benefícios de agências do governo”.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
O trabalho de Lisboa e Zeina (que é colunista da Agência Estado) historia as causas do “rent-seeking” no Brasil e descreve as suas atuais manifestações, além de mostrar como a literatura econômica explica o fenômeno, e como essas tentativas de interpretação se aplicam ao caso brasileiro. Há também uma detalhada análise das relações entre crescimento, democracia e rent-seeking, de forma geral e no Brasil.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
É um longo estudo, do qual eu destacaria dois aspectos: as quatro diferentes formas pelas quais o rent-seeking se manifesta no Brasil de hoje, e as sugestões dos autores para atacar o problema, o que seria positivo tanto para o crescimento econômico como para o fortalecimento da democracia.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
A primeira forma de rent-seeking nacional, segundo Lisboa e Zeina, vem por meio de impostos e transferências. Eles notam que o aumento da carga tributária e dos gastos sociais não é um fenômeno isolado do Brasil, mas sim uma tendência global que se fez presente sobretudo no século XX. O problema nacional, acrescentam, é que o Estado brasileiro arrecada de uma forma demasiadamente complicada, o que atrapalha a atividade econômica, e distribui mal.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Assim, apesar da introdução de programas bem elaborados e bem sucedidos, como o Bolsa Família, a ação do governo brasileiro, em termos de taxar e redistribuir, não melhora a distribuição de renda de forma agregada, segundo alguns estudos citados por Lisboa e Zeina. Uma das razões é que os benefícios distribuídos pelo governo são muito concentrados. Assim, o sistema previdenciário é responsável por 85% das transferências do governo para as famílias, o que equivale a 11% do PIB. Mas a distribuição dos benefícios previdenciários é concentrada, não contribuindo para reduzir a desigualdade de renda disponível.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Um exemplo de “rent-seeking” tributário citado pelos autores é a Zona Franca de Manaus, cujos subsídios foram criados para ser temporários, mas vêm se estendendo indefinidamente. Incentivos fiscais de pelos menos R$ 24 bilhões teriam sido concedidos em 2011, o que equivale a 0,6% do PIB, para um sistema de produção que exporta muito pouco (menos de 3% do faturamento das empresas) e “sobrevive com base na demanda doméstica cativa e barreiras ao comércio que protegem a produção local”.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
O segundo mecanismo de “rent-seeking” listado pelos autores sãos “as transferência compulsórias de dinheiro fora do orçamento do governo”. Lisboa e Zeina exemplificam com o Sistema S, que se alimenta de deduções em folha salarial, e que arrecadou 0,3% do PIB em 2010. Outro caso semelhante é o FGTS, que captou perto de 1,7% do PIB em 2010. Segundo Lisboa e Zeina, “não há nenhum mecanismo transparente para avaliar o custo-benefício desses instrumentos e o seu custo de oportunidade em relação a utilizações alternativas ou aumentos do salário real”.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
O terceiro item da lista são os subsídios cruzados, que vão da regulação do seguro-saúde aos serviços de infraestrutura, incluindo até a “meia-entrada” para eventos artísticos e culturais.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Uma faceta particularmente importante dos subsídios cruzados envolve o setor de crédito, onde, como os autores observam, a parcela de 20% dos empréstimos subsidiados (excluindo o BNDES) pagou um spread médio de 3,5% em 2012, comparado com 20% para o crédito livre.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
No caso do BNDES, eles notam que os empréstimos aumentaram “dramaticamente” de 6% para 11% do PIB depois da crise global, com subsídios implícitos calculados em R$ 22,8 bilhões em 2011.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
O quarto mecanismo, finalmente, é o protecionismo comercial. O Brasil está no grupo das economias mais fechadas do mundo, quando se mede o nível e a complexidade das tarifas e das barreiras não tarifárias, e a eficiência dos procedimentos de importação.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
<strong>Propostas</strong></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Lisboa e Zeina têm duas propostas básicas para ajudar a iniciar o desmonte da “República da Meia Entrada”, como já vem sendo ironicamente descrito o Brasil que sai dessa chave interpretativa onde o “rent-seeking” é o elemento central.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
A primeira seria a criação de uma agência governamental responsável por contabilizar os objetivos e os resultados de todas as políticas públicas. Para os dois autores, “transparência e responsabilização são essenciais para prover ferramentas democráticas que permitam à sociedade decidir sobre intervenções governamentais”.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
A segunda sugestão é que toda intervenção governamental tenha de ser inteiramente contabilizada no Orçamento, acabando assim com o ocultamento do custo dos milhares de “meias-entradas” distribuídas pelo Estado brasileiro. Eles admitem que, dada a dimensão do “rent-seeking” no Brasil, esta segunda proposta “está longe de ser modesta”.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Lisboa esteve à frente, em 2002, da elaboração da chamada “Agenda Perdida”, um documento de propostas econômicas, com foco na microeconomia e na regulação, que foi adotado pelo ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, no início do primeiro mandato presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Lisboa foi para o governo junto com a “Agenda Perdida”, como secretário de Política Econômica da Fazenda. Lá, comandou a bem sucedida implementação de boa parte das propostas, com destaque para a área de crédito, com o deslanche do consignado e dos empréstimos imobiliários.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Com a campanha eleitoral de 2014 já virtualmente iniciada, não seria má ideia que os pré-candidatos olhassem o que ele e Zeina têm para dizer.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
Fernando Dantas. Estadão.</div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 15px; line-height: 22px; margin-bottom: 10px; padding: 0px;">
<a href="mailto:fernando.dantas@estadao.com" style="color: #333333; cursor: pointer; font-size: 12px; margin: 0px; padding: 0px; text-decoration: none;" target="_blank">fernando.dantas@estadao.com</a></div>
<div style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', Times, serif; font-size: 12px;">
<em>Esse artigo foi publicado originalmente na AE-News/Broadcast</em></div>
O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-66076530113953573322013-07-28T16:24:00.001-03:002013-07-28T16:24:25.273-03:00Com a palavra: Eliana Calmon<p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Baiana, a ministra Eliana Calmon, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), afirma que o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) desrespeita propositadamente orientações do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que cobram mais transparência e eficiência no Judiciário baiano. Ela lembra que desde sua passagem pela corregedoria do CNJ constatou-se a existência de varas com insuficiência de servidores de um lado e funcionários fantasmas e servidores com altos salários e sem função nos gabinetes dos desembargadores de outro - uma das muitas irregularidades que geraram agora sindicâncias contra a direção do Tribunal.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Eliana aponta ainda a troca de favores entre o governo do estado e a ‘igrejinha’ que domina o poder no TJ-BA. Eliana Calmon recebeu o CORREIO em seu apartamento, no Edifício Oceania, com vista para o Farol da Barra, e, em mais de uma hora de conversa, falou ainda sobre o desejo de ocupar cargo político na Bahia. Veja os principais tópicos da entrevista:</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><img src="http://www.correio24horas.com.br/noticias/detalhes/detalhes-1/artigo/tj-ba-tem-varas-vazias-e-funcionarios-fantasmas-acusa-ministra-eliana-calmon/fileadmin/user_upload/tt_news/AFotos1/calmonelianaj.jpg" height="402" width="540" alt="" style="padding: 0px; margin: 0px; "><br style="padding: 0px; margin: 0px; "><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Eliana Calmon recebeu o CORREIO no Edifício Oceania (Foto: Arisson Marinho)</b></span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><br style="padding: 0px; margin: 0px; "><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Inspeção do CNJ no TJ-BA</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">Há, por parte do TJ, o entendimento de que não deve cumprir determinações do CNJ, que ninguém deve se meter no tribunal. Muitas irregularidades eu já havia apontado, e o ministro Francisco Falcão (atual corregedor do CNJ) veio saber se tinham sido cumpridas as determinações. Viu que não foram, encontrou novas irregularidades e decidiu abrir sindicâncias. Os problemas são antigos. O ministro Gilson Dipp (corregedor entre 2008 a 2010) veio aqui e verificou que estava caótica a gestão do tribunal. Fiz recomendações e eu vim aqui cobrar duas vezes. Constatei que nada tinha sido feito: estava pior. <br style="padding: 0px; margin: 0px; ">A população continuava sofrendo com falta de estrutura, faltando juízes e servidores, e eles diziam que não tinham recursos para fazer concurso. Essas situações não são novas.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Cálculo de precatórios que onerou o estado e prefeitura de Salvador em R$ 448 milhões</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">É uma gestão indevida, porque foram cálculos errados, feitos por ignorância, descaso, desprezo. Eu já tinha determinado que a Justiça Federal fornecesse os cálculos, eles têm tudo isso informatizado e ficou decidido que eles colaborariam, mas eles não buscaram ajuda. O que é corrupção? É ação ou inação. A inação é uma forma de corrupção. Eu não acho que seja uma corrupção ativa, que esse dinheiro tenha sido propositalmente dado a alguém. Acho que houve, porém, algumas facilidades de algumas pessoas favorecidas na fila, na ordem cronológica.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Funcionários fantasmas </b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">Há muitos cargos em comissão nos gabinetes dos desembargadores, enquanto as varas, onde o atendimento é feito, estão vazias. Encontrei varas com um ou dois funcionários na própria capital. E um monte de funcionários fantasmas ou sem fazer nada no TJ, com altos salários e gratificações. Havia caso de funcionária que morava em São Paulo e não vinha aqui, com salários altos, de R$ 15 mil. É muito difícil investigar a Justiça da Bahia, porque há uma resistência muito grande. Eu pedi, mas não apresentaram as declarações de renda (de mais de mil servidores e juízes).</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Política no TJ-BA</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">Na realidade, é uma política para nada, de domínio pessoal. O desembargador Dultra Cinta, que veio para substituir um grupo que era dominado pelo carlismo, terminou exercendo as mesmas práticas de domínio e deixou seguidores. Os desafetos não entram no tribunal, os desembargadores que não acompanham a igrejinha ficam em segundo plano. Isso é a prática diuturna de uma gestão viciada. A politica dentro da Justiça é para as pessoas se sentirem donas do tribunal.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Relação entre Judiciário e Executivo</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">Há uma vinculação muito grande do governador à presidência, ao grupo dominante, porque existe sempre a ideia de que o tribunal deve estar bem com o governo. Mas a Constituição de 88 acabou com isso. O Judiciário é fiscal das políticas públicas e pode se insurgir contra o governo quando as políticas não são adequadas. Existe na Bahia uma espécie de pacto onde o TJ está muito alinhado ao governador, o Ministério Público também tá alinhado ao governador e todos os poderes vivem tranquilamente dentro deste pacto silencioso que existe entre os poderes. Existem trocas de favores, existem algumas conivências. Existe o olhar mais apurado para as causas que os donos do poder têm interesse, e é exatamente isso que nós não gostaríamos que tivesse, que a Justiça fosse independente.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Reforma do Judiciário</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">A sociedade toda está indignada com a aposentadoria compulsória com proventos integrais de alguém que foi execrado pela Justiça. Eu não dou dois anos para a reforma acontecer, as ruas não gritaram ainda em razão do julgamento do mensalão e de Joaquim Barbosa. É o que está segurando o grito do povo contra o Judiciário, mas o povo não está satisfeito com os três poderes. Os magistrados querem reforma, mas sem perder benefícios, que eles chamam de prerrogativas. Os dias trabalhados de um magistrado são 162 dos 365 do ano. Ele tem dois meses de férias, vinte dias de recesso, tem os feriados, domingos e sábados. Isso não pode, não é prerrogativa: é falta de trabalho, em um órgão que está superlotado de trabalho, tem muito processo e não se julga porque não tem tempo, isso não se admite.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Novos tribunais federais </b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">A criação dos tribunais regionais (o Congresso aprovou a criação de quatro - um na Bahia - mas o STF suspendeu a lei) é bom para os juízes. Todos querem porque fazem com que mais juízes ascendam aos tribunais, as carreiras deslancham. Os políticos também querem, porque é uma forma de colocar parentes e aderentes no tribunal. O tribunal da 5ª Região, em Recife, que atende a todo o Nordeste, está muito bem, não tem atrasos, cada gabinete tem 200 processos. E o que vai acontecer? Vão ficar ociosos com a criação do tribunal Bahia/Sergipe.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Reforma política</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">A questão mais controvertida é o financiamento de campanha. É esse o ovo da serpente. Talvez a melhor forma fosse o plebiscito, porque as pessoas opinariam. Agora, o plebiscito a toque de caixa, a um ano das eleições, seria deletério, porque não se faria algo bem feito. Infelizmente, vimos a perplexidade (dos políticos) em relação ao grito das ruas e ainda a forma que tentam enganar o povo. Na semana seguinte às passeatas, houve a utilização do aviação da FAB na cara do povo. O que significa que eles não vão mudar. O povo tem que fazer como o bulldog, morde e não solta, continua agarrado. A presidente Dilma está acuada. Ela tem uma questão de governabilidade muito séria, o estado está parado em termos de desenvolvimento, e ela é refém de um congresso que não é parceiro dela.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Carreira política</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">Eu ainda tenho responsabilidade com o Poder Judiciário (se aposenta em novembro de 2015). Tenho recebido muitos convites, dos mais diversos partidos, eu fico até vaidosa de cogitarem meu nome. Mas o que fico questionando é: será que eu seria uma boa política? Tenho muito receio de entrar para a política. Não descarto, mas não digo que aceitarei, principalmente nas próximas, mas ainda não tenho segurança. Não tenho predileção por partidos. Os partidos no Brasil não têm ideologia própria: aqui se vota em pessoas, não em partidos.</span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Medos</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">Dentro de um panorama que se delineia de partidos, de financiamento de campanha, tudo isso é muito difícil. Eu vivo do meu salário, tenho poucas economias: e o dinheiro para campanha? Eu serei financiada por alguém e esse alguém vai ser meu dono? Eu até agora não fui propriedade de ninguém. Tenho dito com toda a sinceridade isso aos partidos que me convidam. </span></p><p class="bodytext" style="padding: 0px; margin: 0px 0px 10px; "><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b style="padding: 0px; margin: 0px; ">Cargo político na Bahia</b><br style="padding: 0px; margin: 0px; ">Eu tenho um carinho especial pela Bahia. Sou baiana, a minha família é toda da Bahia. Até meu neto, que nasceu em Brasília, gosta é da Bahia. É muito interessante observar como a gente vai se ligando a nossa terra, não é?</span></p>O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-78819527110949677562013-06-11T15:38:00.001-03:002013-06-11T15:38:28.974-03:00Bolsa Família x Coronelismo<h1 style="margin: 0px 0px 10px; "><span style="font-size: 17px; -webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Bolsa Família enfraquece o coronelismo e rompe cultura da resignação, diz socióloga</span></h1><div><span style="font-size: 17px; -webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><br></span></div><div><span style="font-size: 17px; -webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">FSP, 10/06/13</span></div><div><span style="font-size: 17px; -webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><br></span></div><div><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Dez anos após sua implantação, o Bolsa Família mudou a vida nos rincões mais pobres do país: o tradicional coronelismo perde força e a arraigada cultura da resignação está sendo abalada.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">A conclusão é da socióloga Walquiria Leão Rego, 67, que escreveu, com o filósofo italiano Alessandro Pinzani, <a href="http://livraria.folha.com.br/catalogo/1204532/vozes-do-bolsa-familia?tracking_number=1411">"Vozes do Bolsa Família"</a> (Editora Unesp, 248 págs., R$ 36). O livro será lançado hoje, às 19h, na Livraria da Vila do shopping Pátio Higienópolis. No local, haverá um debate mediado por Jézio Gutierre com a participação do cientista político André Singer e da socióloga Amélia Cohn.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Durante cinco anos, entre 2006 e 2011, a dupla realizou entrevistas com os beneficiários do Bolsa Família e percorreu lugares como o Vale do Jequitinhonha (MG), o sertão alagoano, o interior do Maranhão, Piauí e Recife. Queriam investigar o "poder liberatório do dinheiro" provocado pelo programa.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Aproveitando férias e folgas, eles pagaram do próprio bolso os custos das viagens. Sem se preocupar com estatística, a pesquisa foi qualitativa e baseada em entrevistas abertas.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);">Professora de teoria da cidadania na Unicamp, Rego defende que o Bolsa Família "é o início de uma democratização real" do país. Nesta entrevista, ela fala dos boatos que sacudiram o programa recentemente e dos preconceitos que cercam a iniciativa: "Nossa elite é muito cruel", afirma.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><br></span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"></span></p><div class="separator" style="clear: both;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivRAPXUu6rWgoRE4GGdVvvQ92QUceWT_zAESS4LX-X0v8l7nfWSJisZB3frtiOrWPt7oxITDC_Oc2hDYPxAcZWMV5aYb0hdUdnooSWV7Ue2NdqgKHxNL8AwjsFJc2qv0jA-UGwjfY1Qyir/s640/blogger-image-1726074124.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivRAPXUu6rWgoRE4GGdVvvQ92QUceWT_zAESS4LX-X0v8l7nfWSJisZB3frtiOrWPt7oxITDC_Oc2hDYPxAcZWMV5aYb0hdUdnooSWV7Ue2NdqgKHxNL8AwjsFJc2qv0jA-UGwjfY1Qyir/s640/blogger-image-1726074124.jpg"></a></div><br><p></p><p></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>Folha - Como explicar o pânico recente no Bolsa Família? Qual o impacto do programa nas regiões onde a sra. pesquisou?</b><br><b>Walquiria Leão Rego -</b> Enorme. Basta ver que um boato fez correr um milhão de pessoas. Isso se espalha pelos radialistas de interior. Elas [as pessoas] são muito frágeis. Certamente entraram em absoluto desespero. Poderia ter gerado coisas até mais violentas. Foi de uma crueldade desmesurada. Foi espalhado o pânico entre pessoas que não têm defesa. Uma coisa foi a medida administrativa da CEF (Caixa Econômica Federal). Outra coisa é o que a policia tem que descobrir: onde começou o boato. Fiquei estupefata. Quem fez isso não tem nem compaixão. Nossa elite é muito cruel. Não estou dizendo que foi a elite, porque seria uma leviandade.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>Como assim?</b><br>Tem uma crueldade no modo como as pessoas falam dos pobres. Daí aparecem os adolescentes que esfaqueiam mendigos e queimam índios. Há uma crueldade social, uma sociedade com desigualdades tão profundas e tão antigas. Não se olha o outro como um concidadão, mas como se fosse uma espécie de sub-humanidade. Certamente essa crueldade vem da escravidão. Nenhum país tem mais de três séculos de escravidão impunemente.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>Qual o impacto do Bolsa Família nas relações familiares?</b><br>Ocorreram transformações nelas mesmas. De repente se ganha uma certa dignidade na vida, algo que nunca se teve, que é a regularidade de uma renda. Se ganha uma segurança maior e respeitabilidade. Houve também um impacto econômico e comercial muito grande. Elas são boas pagadoras e aprenderam a gerir o dinheiro após dez anos de experiência. Não acho que resolveu o problema. Mas é o início de uma democratização real, da democratização da democracia brasileira. É inaceitável uma pessoa se considerar um democrata e achar que não tenha nada a ver com um concidadão que esteja ali caído na rua. Essa é uma questão pública da maior importância.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>O Bolsa Família deveria entrar na Constituição?</b><br>A constitucionalização do Bolsa Família precisava ser feita urgentemente. E a renda tem que ser maior. Esse é um programa barato, 0,5% do PIB. Acho, também, que as pessoas têm direito à renda básica. Tem que ser uma política de Estado, que nenhum governo possa dizer que não tem mais recurso. Mas qualquer política distributiva mexe com interesses poderosos.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>A sra. poderia explicar melhor?</b><br>Isso é histórico. A elite brasileira acha que o Estado é para ela, que não pode ter esse negócio de dar dinheiro para pobre. Além de o Bolsa Família entrar na Constituição, é preciso ter outras políticas complementares, políticas culturais específicas. É preciso ter uma escola pensada para aquela população. É preciso ter outra televisão, pois essa é a pior possível, não ajuda a desfazer preconceitos. É preciso organizar um conjunto de políticas articuladas para formar cidadãos.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>A sra. quer dizer que a ascensão é só de consumidores?</b><br>As pessoas quando saem desse nível de pobreza não se transformam só em consumidores. A gente se engana. Uma pesquisadora sobre o programa Luz para Todos, no Vale do Jequitinhonha, perguntou para um senhor o que mais o tinha impactado com a chegada da luz. A pesquisadora, com seu preconceito de classe média, já estava pronta para escrever: fui comprar uma televisão. Mas o senhor disse: 'A coisa que mais me impactou foi ver pela primeira vez o rosto dos meus filhos dormindo; eu nunca tinha visto'. Essa delicadeza... a gente se surpreende muito.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>O que a surpreendeu na sua pesquisa?</b><br>Quando vi a alegria que sentiam de poder partilhar uma comida que era deles, que não tinha sido pedida. Não tinham passado pela humilhação de pedi-la; foram lá e compraram. Crianças que comeram macarrão com salsicha pela primeira vez. É muito preconceituoso dizer que só querem consumir. A distância entre nós é tão grande que a gente não pode imaginar. A carência lá é tão absurda. Aprendi que pode ser uma grande experiência tomar água gelada.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>Li que a sra. teria apurado que o Bolsa Família, ao tornar as mulheres mais independentes, estava provocando separações, uma revolução feminina. Mas não encontrei isso no livro. O que é fato?</b><br>É só conhecer um pouco o país para saber que não poderia haver entre essas mulheres uma revolução feminista. É difícil para elas mudar as relações conjugais. Elas são mais autônomas com a Bolsa? São. Elas nunca tiveram dinheiro e passaram a ter, são titulares do cartão, têm a senha. Elas têm uma moralidade muito forte: compram primeiro a comida para as crianças. Depois, se sobrar, compram colchão, televisão. É ainda muito difícil falar da vida pessoal. Uma ou outra me disse que tinha vontade de se separar. Há o problema de alcoolismo. Esses processos no Brasil são muito longos. Em São Paulo é comum a separação; no sertão é incomum. A família em muitos lugares é ampliada, com sogra, mãe, cunhado vivendo muito próximos. Essa realidade não se desfaz.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>Mas há indícios de mudança?</b><br>Indícios, sim. Certamente elas estão falando mais nesse assunto. Em 2006, não queriam falar de sentimentos privados. Em 2011, num povoado no sertão de Alagoas, me disseram que tinha havido cinco casos de separação. Perguntei as razões. Uma me disse: 'Aquela se apaixonou pelo marido da vizinha'. Perguntei para outra. Ela disse: 'Pensando bem, acho que a bolsa nos dá mais coragem'. Disso daí deduzir que há um movimento feminista, meu deus do céu, é quase cruel. Não sei se dá para fazer essa relação tão automática do Bolsa com a transformação delas em mulheres mais independentes. Certamente são mais independentes, como qualquer pessoa que não tinha nada e passa a ter uma renda. Um homem também. Mas há censuras internas, tem a religião. As coisas são muito mais espessas do que a gente imagina.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>O machismo é muito forte?</b><br>Sim. E também dentro delas. Se o machismo é muito percebido em São Paulo, imagina quando no chamado Brasil profundo. Lá, os padrões familiares são muito rígidos. É comum se ouvir que a mulher saiu da escola porque o pai disse que ela não precisava aprender. Elas se casam muito cedo. Agora, como prevê a sociologia do dinheiro, elas estão muito contentes pela regularidade, pela estabilidade, pelo fato de poderem planejar minimamente a vida. Mas eu não avançaria numa hipótese de revolução sexual.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>O Bolsa Família mexeu com o coronelismo?</b><br>Sim, enfraqueceu o coronelismo. O dinheiro vem no nome dela, com uma senha dela e é ela que vai ao banco; não tem que pedir para ninguém. É muito diferente se o governo entregasse o dinheiro ao prefeito. Num programa que envolve 54 milhões de pessoas, alguma coisa de vez em quando [acontece]. Mas a fraude é quase zero. O cadastro único é muito bem feito. Foi uma ação de Estado que enfraqueceu o coronelismo. Elas aprenderam a usar o 0800 e vão para o telefone público ligar para reclamar. Essa ideia de que é uma massa passiva de imbecis que não reagem é preconceito puro.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>E a questão eleitoral?</b><br>O coronel perdeu peso porque ela adquiriu uma liberdade que não tinha. Não precisa ir ao prefeito. Pode pedir uma rua melhor, mas não comida, que era por ai que o coronelismo funcionava. Há resíduos culturais. Ela pode votar no prefeito da família tal, mas para presidente da República, não.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>Esses votos são do Lula?</b><br>São. Até 2011, quando terminei a pesquisa, eram. Quando me perguntam por que Lula tem essa força, respondo: nunca paramos para estudar o peso da fala testemunhal. Todos sabem que ele passou fome, que é um homem do povo e que sabe o que é pobreza. A figura dele é muito forte. O lado ruim é que seja muito personalizado. Mas, também, existe uma identidade partidária, uma capilaridade do PT.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>Há um argumento que diz que o Bolsa Família é como uma droga que torna o lulismo imbatível nas urnas. O que a sra. acha?</b><br>Isso é preconceito. A elite brasileira ignora o seu país e vai ficando dura, insensível. Sente aquele povo como sendo uma sub-humanidade. Imaginam que essas pessoas são idiotas. Por R$ 5 por mês eles compram uma parabólica usada. Cheguei uma vez numa casa e eles estavam vendo TV Senado. Perguntei o motivo. A resposta: 'A gente gosta porque tem alguma coisa para aprender'.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>No livro a sra. cita muitos casos de mulheres que fizeram laqueadura. Como é isso?</b><br>O SUS (Sistema Único de Saúde) está fazendo a pedido delas. É o sonho maior. Aliás, outro preconceito é dizer que elas vão se encher de filhos para aumentar o Bolsa Família. É supor que sejam imbecis. O grande sonho é tomar a pílula ou fazer laqueadura.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>A sra. afirma que é preconceito dizer que as pessoas vão para o Bolsa Família para não trabalhar. Por quê?</b><br>Nessas regiões não há emprego. Eles são chamados ocasionalmente para, por exemplo, colher feijão. É um trabalho sem nenhum direito e ganham menos que no Bolsa Família. Não há fábricas; só se vê terra cercada, com muitos eucaliptos. Os homens do Vale do Jequitinhonha vêm trabalhar aqui por salários aviltantes. Um fazendeiro disse para o meu marido que não conseguia mais homens para trabalhar por causa do Bolsa Família. Mas ele pagava R$ 20 por semana! O cara quer escravo. Paga uma miséria por um trabalho duro de 12, 16 horas, não assina carteira, é autoritário, e acha que as pessoas têm que se submeter a isso. E dizem que receber dinheiro do Estado é uma vergonha.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>Há vontade de deixar o Bolsa Família?</b><br>Elas gostariam de ter emprego, salário, carteira assinada, férias, direitos. Há também uma pressão social. Ouvem dizer que estão acomodadas. Uma pesquisa feita em Itaboraí, no Rio de Janeiro, diz que lá elas têm vergonha de ter o cartão. São vistas como pobres coitadas que dependem do governo para viver, que são incapazes, vagabundas. Como em "Ralé", de Máximo Gorki, os pobres repetem a ideologia da elite. A miséria é muito dura.</span></p><p><span style="-webkit-text-size-adjust: auto; background-color: rgba(255, 255, 255, 0);"><b>A sra. escreve que o Bolsa Família é o inicio da superação da cultura de resignação? Será?</b><br>A cultura da resignação foi muito estudada e é tema da literatura: Graciliano Ramos, João Cabral de Melo Neto, José Lins do Rego. Ela tem componente religioso: 'Deus quis assim'. E mescla elementos culturais: a espera da chuva, as promessas. Essa cultura da resignação foi rompida pelo Bolsa Família: a vida pode ser diferente, não é uma repetição. É a hipótese que eu levanto. Aparece uma coisa nova: é possível e é bom ter uma renda regular. É possível ter outra vida, não preciso ver meus filhos morrerem de fome, como minha mãe e minha vó viam. Esse sentimento de que o Brasil está vivendo uma coisa nova é muito real. Hoje se encontram negras médicas, dentistas, por causa do ProUni (Universidade para Todos). Depois de dez anos, o Bolsa Família tem mostrado que é possível melhorar de vida, aprender coisas novas. Não tem mais o 'Fabiano' [personagem de "Vidas Secas"], a vida não é tão seca mais.</span></p><div><br></div><p></p></div>O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-76719775020390441002013-04-15T14:32:00.001-03:002013-04-15T14:32:12.638-03:00Um CPC democrático.<br />
Caros e caras,<br />
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na Revista Veja que circulou neste fim de semana, o professor Antônio Cláudio da Costa Machado volta a apresentar suas críticas ao projeto de novo CPC, cujo relatório será lido na próxima quarta-feira. O ilustre professor qualifica o projeto de autoritário. Apresenta, nesta reportagem, cinco críticas.<br />
Gostaria de apresentar uma breve resposta a cada uma delas.<br />
<br />
1) Critica a ausência de pressupostos específicos para a concessão de medida cautelar como o arresto. A crítica, com todo o respeito, não procede. A possibilidade de concessão de medidas cautelares com base nos pressupostos genéricos da probabilidade do direito e do perigo da demora existe desde 1973 – é o conhecido poder geral de cautela (art. 798, CPC/1973). Esta cláusula geral autoriza a concessão de qualquer medida cautelar atípica, inclusive o arresto atípico – o que fez com que Galeno Lacerda dissesse, há trinta anos, que um sistema em que há poder geral de cautela torna desnecessária a especificação de pressupostos para a concessão dessa ou daquela medida cautelar. O projeto apenas preserva o poder geral de cautela.<br />
<br />
2) Critica a ausência de recurso contra as decisões em matéria de prova. A crítica não procede, por duas razões: a) expressamente se prevê agravo de instrumento contra decisão que redistribui o ônus da prova (art. 1028, XIII, do projeto); b) as interlocutórias em matéria de prova são recorríveis na apelação (art. 1022, §2º, projeto). Atualmente, as decisões sobre prova são impugnáveis por agravo retido, que, como todos sabem, tem de ser reiterado na apelação, sob pena de não ser conhecido. O projeto exige que o interessado demonstre a sua irresignação no primeiro momento em que couber falar nos autos, por meio de mecanismo semelhante ao do “protesto” da Justiça do Trabalho – que funciona muito bem há anos e que se parece com o agravo retido, embora mais simples. Depois, cabe ao interessado reiterar a sua irresignação na apelação. Pergunto: em que esse sistema difere do atual? A decisão sobre prova é irrecorrível, na linha do que foi dito pela Revista Veja? Não, ela é recorrível no mesmo padrão em que é hoje.<br />
<br />
3) Critica a ausência de efeito suspensivo, como regra, na apelação. O professor, no particular, deve ter examinado uma versão mais antiga do projeto: a versão que será lida na próxima quarta-feira preserva o efeito suspensivo da apelação, ressalvadas as hipóteses atualmente existentes em que ela não tem efeito suspensivo automático (art. 1025, caput e §2º, do projeto). Prevê-se, porém, a possibilidade de o relator retirar o efeito suspensivo da apelação, se o apelado demonstrar que, em razão da execução provisória da sentença, não há risco de dano irreparável ao apelante e que é improvável o acolhimento do recurso.<br />
<br />
4) Critica a possibilidade de tutela antecipada liminar sem urgência, com base apenas em documento suficiente. A crítica, no particular, é simplesmente equivocada. O projeto traz apenas duas hipóteses de tutela antecipada liminar sem urgência (tutela antecipada da evidência: art. 306, par. ún., do projeto): a) no caso de ação de depósito (repetindo regra que já existe atualmente, decorrente do art. 902, I, CPC/1973, vigente há quase quarenta anos); b) nos casos em que há pedido cujo lastro fático se comprova documentalmente e a tese jurídica afirmada está consolidada em súmula vinculante ou julgamento de casos repetitivos: esta hipótese, embora nova, é totalmente razoável, já que a evidência do direito é, no caso, manifesta.<br />
<br />
5) Critica, ainda, a restrição à liminar possessória nos casos de litígios coletivos de posse. No caso, a reportagem simplesmente não explicou a medida, tornando a crítica meramente ideológica. Vou tentar explicar a regra proposta. Atualmente, o possuidor, para ter direito a uma liminar possessória em que se dispensa a demonstração de urgência, precisa ingressar com sua ação possessória em até um ano da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial – regra bem antiga. O projeto mantém a regra, para os casos de conflitos possessórios individuais (Tício contra Caio). Quando a possessória disser respeito a litígio coletivo, propõe o projeto que, para ter direito ao mencionado benefício, o possuidor ingresse com a possessória no prazo de seis meses, contados da data da turbação ou do esbulho afirmado na petição inicial. Se propuser a ação depois deste prazo, antes de examinar o pedido de tutela antecipada, o juiz marcará uma audiência de mediação (art. 579 do projeto). Não se nega a tutela antecipada, mas, tendo em vista a existência de uma coletividade no polo passivo, e o prazo superior a seis meses da turbação ou do esbulho, entende-se que, então, é o caso de ouvi-la, a coletividade, antes da concessão da tutela antecipada. A regra é bem razoável: não se pode querer dar o mesmo tratamento a conflitos possessórios tão diferentes como o individual e o coletivo. Note que, se o possuidor ingressar com a ação possessória em menos de seis meses, terá direito à mesma tradicional liminar possessória sem urgência. De todo modo, pode-se acusar a regra de tudo, menos de autoritária.<br />
<br />
O projeto pode ser bom ou ruim.<br />
<br />
O que não é correto é acusá-lo de autoritário.<br />
<br />
Nunca se debateu tanto um CPC – nossos dois únicos foram produzidos em períodos de exceção, sem debate, foram Códigos outorgados. Eu testemunhei este debate; o Brasil falou e foi ouvido. Mais de mil alterações foram feitas na versão que veio do Senado. Novecentas emendas parlamentares foram apresentadas; mais de trezentas pessoas foram ouvidas em audiências públicas; todas as entidades de classe e associações que apresentaram sugestões foram atendidas, escutadas e, quase sempre, ao menos um dos pleitos foi atendido; professores de todo o Brasil foram escutados – sem protagonismo de qualquer Região. O próprio professor Antônio Cláudio teve várias propostas acolhidas – muitas delas encampadas por alguns deputados, inclusive. Na Comissão de Juristas que auxiliou a Câmara dos Deputados, havia um baiano, um sulmatogrossensse, um pernambucano, um paulistano, um gaúcho, um paraibano e um carioca.<br />
<br />
Este será um código sem sotaque.<br />
<br />
Jamais, em nossa história, se viu um projeto de lei que atribuísse ao magistrado tantos deveres: a) dever de respeitar a jurisprudência e mantê-la estável (arts. 520-521 do projeto); b) dever de prevenir as partes sobre defeitos processuais, evitando, com isso, decisões de inadmissibilidade mesquinhas e desnecessárias (arts. 76, 322, 945, par. ún., 1023, § 3º, 1030, §3º, 1042, §2º); c) dever de ouvir as partes sobre qualquer ponto relevante para a sua decisão, mesmo que se trate de ponto a respeito do qual poderia conhecer de ofício – versão substancial do contraditório (art. 10 do projeto); d) dever de dar publicidade ao comparecimento informal do advogado ou de qualquer das partes ao seu gabinete (art. 190 do projeto).<br />
<br />
Transcrevo os §§1º e 2º do art. 499, o mais belo conjunto de dispositivos do projeto: “§ 1º Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou acórdão, que: I – se limita a indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo; II – empregue conceitos jurídicos indeterminados sem explicar o motivo concreto de sua incidência no caso; III – invoque motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV – não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V – se limita a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI – deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento. § 2º No caso de colisão entre normas, o órgão jurisdicional deve justificar o objeto e os critérios gerais da ponderação efetuada”.<br />
<br />
Esses são dispositivos de um código autoritário?<br />
<br />
O projeto resgata, ainda, o protagonismo das partes no processo, dando à autonomia privada um papel no processo civil brasileiro jamais visto: a) prestigia-se a arbitragem (art. 3º, §1º; arts. 345-350 do projeto); b) a autocomposição é extremamente valorizada (art. 3º, §2º; arts. 166-176 do projeto); c) permitem-se acordos de procedimento atípicos (art. 191 do projeto), cláusula geral de autonomia privada processual inédita no direito brasileiro; d) aprimora-se a convenção sobre o ônus da prova (art. 380, §3º, do projeto); e) permite-se a escolha consensual do perito pelas partes (art. 478 do projeto); f) cria-se o negócio processual típico chamado “acordo de saneamento”, permitindo que as partes, principais conhecedoras da causa, levem o processo saneado ao órgão jurisdicional (art. 364, §2º, do projeto).<br />
<br />
Tudo isso sem falar no regramento minucioso do benefício da justiça gratuita (arts. 98-102 do projeto) e nas regras de fungibilidade recíproca entre os recursos extraordinário e especial, em enfrentamento direto de importante manifestação da jurisprudência defensiva dos tribunais superiores (arts. 1045-1046 do projeto).<br />
<br />
Este Código, no futuro, será inevitavelmente apelidado de “Código das Partes”. Basta lê-lo sem pré-compreensões, que isso se revela com muita clareza.<br />
<br />
Não é fácil elaborar um código em regime democrático. Como podem opinar, todos sempre terão algo para divergir e criticar. O projeto não pode ser chamado de autoritário porque não se concorda com alguns de seus dispositivos – que são, por óbvio, opções políticas construídas pelo debate parlamentar. Eu mesmo tenho as minhas críticas: há muita coisa que eu não colocaria no projeto. Mas isso é bom; melhor: é fundamental. O simples fato de que ninguém está totalmente satisfeito é o quanto basta para demonstrar que este projeto é resultado de um processo legislativo democrático.<br />
<br />
Como não estamos acostumados com isso, não sabemos reconhecer essa grande qualidade.<br />
<br />
Em 14.04.2013.<br />
<br />
Fredie Didier Jr. - Professor de Processo Civil da Universidade Federal da Bahia, Livre-docente pela USP.<br />
O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-13464929683438201252013-04-04T20:23:00.000-03:002013-04-04T20:25:09.143-03:00Joelma e Daniela Mercury são as duas caras da cultura brasileiraAs duas vêm da metade norte do país e fazem música com forte apelo
popular. Esbanjam energia no palco, usam roupas provocantes e estão
sempre sorridentes. No entanto, mesmo com tantas semelhanças, neste
momento estão a anos-luz uma da outra.<br />
<br />
Bem-vindos à versão brasileira da guerra cultural. O termo foi cunhado
nos Estados Unidos nos anos 80 e descreve a divisão da sociedade em
relação a assuntos como aborto, contracepção, drogas e homossexualidade
(cultura aqui tem um sentido mais amplo, não se limitando apenas à arte e
à educação).<br />
<br />
De um lado, conservadores brandindo Bíblias e anunciando o fim dos
tempos; do outro, liberais (no sentido americano) pregando o "liberou
geral". A guerra cultural foi usada como arma pelos dois lados, e serviu
para definir o resultado de inúmeras eleições por lá.<br />
<br />
Mas não aqui no Brasil. Apesar das enormes diferenças sociais, aqui
sempre nos orgulhamos de sermos um povo só. Além do mais, temas
polêmicos eram rapidamente descartados do debate político: afinal, temos
mais com que nos preocupar, como a miséria, a falta de infraestrutura e
a corrupção.<br />
<br />
Isto mudou de uns anos para cá. De uma hora para outra, liberação do
aborto e aprovação do casamento gay se tornaram assuntos de campanha
eleitoral. E o Brasil se revelou um país muito mais dividido do que se
supunha antes.<br />
<br />
A guerra cultural se instalou entre nós, e agora atinge também a cultura no sentido estrito.<br />
<br />
O fenômeno se excarcerou esta semana, depois da <a href="http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/1254745-contra-casamento-gay-vocalista-de-banda-compara-gays-a-drogados.shtml">entrevista</a>
de Joelma à revista "Época". Não foi a primeira vez que a cantora
soltou declarações homofóbicas, só para em seguida dizer que ama os gays
e não tem nada contra eles.<br />
<br />
Claro que tem. Joelma, como muitos brasileiros, acha que homofobia é
pregar a violência contra os homossexuais, e mais nada. Basta o sujeito
não sair de lâmpada na mão pelas ruas para não ser considerado
preconceituoso: o resto é só "liberdade de expressão".<br />
<br />
As posições de Joelma causaram um maremoto nas redes sociais. Tão forte
que a cantora precisou gravar um vídeo tentando se explicar, mas só
conseguiu se enrolar ainda mais.<br />
<br />
E então surgiu a notícia de que o filme sobre a banda Calypso estaria
cancelado, devido à dificuldade em conseguir patrocínio. O diretor nega,
mas o fato é que o projeto já não estava conseguindo captar a grana
necessária antes desse bafafá. Agora, então, duvido que algum grande
anunciante queira associar sua marca ao nome da banda.<br />
<br />
A poeira ainda estava no ar quando Daniela Mercury <a href="http://f5.folha.uol.com.br/celebridades/1256528-daniela-mercury-assume-namoro-com-mulher-e-a-chama-de-esposa.shtml">publicou</a>
as fotos com sua esposa no Instagram. Nova comoção na internet, com
muita gente aplaudindo a coragem da cantora baiana e outros tanto
vaiando-a.<br />
<br />
Daniela vem se juntar a um time que já conta com Fernanda Montenegro,
Chico Buarque, Xuxa, Caetano Veloso, Wagner Moura e muitos outros.
Enquanto isto, nenhum nome de peso saiu em defesa de Joelma.<br />
<br />
Essa briga está só começando, e muita água ainda vai rolar. Se nos
mirarmos no exemplo dos Estados Unidos, temos alguns anos de guerra
cultural pela frente. Que, por lá, já está praticamente decidida:
adivinha quem venceu?<br />
<br />
<br />
Fonte: Folha de São Paulo - Coluna de Tony Goes O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-75901549017794965692013-04-03T10:19:00.001-03:002013-04-03T10:19:06.213-03:00Conscientização do Autismo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div id="divMateria" style="background-color: white; color: #666666; font-family: 'trebuchet ms', sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: start;">
<div style="color: #333333; font-size: 1em; line-height: 19px; margin-bottom: 20px; padding: 0px;">
Se você sente fome, frio ou dor e precisa de ajuda, o que fazer? Imagine você impossibilitado de dizer o que quer, o que precisa? Se conseguiu imaginar, então entendeu um pequeno fragmento do mundo de uma pessoa com autismo.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />“O autismo me prendeu dentro de um corpo que não posso controlar”, disse Carly Fleishmann. A menina canadense quebrou uma espécie de barreira invisível e descobriu, aos 10 anos de idade, como mostrar aos pais o que queria. Mesmo sem ter aprendido a escrever, Carly encontrou no teclado de um computador a voz que lhe faltava.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Os comportamentos típicos do autismo continuavam, entre eles gritar, balançar os braços violentamente e realizar movimentos repetitivos. No entanto, esse comportamento passou a ter uma explicação: “Se não fizer isso, parece que meu corpo vai explodir. Se pudesse parar, eu pararia, mas não há como desligar. Sei o que é certo e errado, mas é como se estivesse travando uma luta contra o meu cérebro”, disse.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Carly aplicou conhecimentos absorvidos ao longo dos anos e escreveu as primeiras palavras. Desde então, foi estimulada por seus pais a digitar o que sentia. Assim, a menina mostrou à sociedade que os autistas não vivem em um universo particular, construído para isolá-los do mundo.</div>
<div style="color: #333333; font-size: 1em; line-height: 19px; margin-bottom: 20px; padding: 0px;">
Eles apenas precisam reagir de certa forma para se concentrar ou controlar uma intensa atividade cerebral. “Eu gostaria de ir à escola como as outras crianças, mas sem que me achassem estranha quando eu começasse a bater na mesa ou gritar. Eu gostaria de algo que apagasse o fogo”.<br style="margin: 0px; padding: 0px;" /><br style="margin: 0px; padding: 0px;" />Ontem (2), Dia Mundial de Conscientização do Autismo, a Agência Brasil apresentou uma série de matérias sobre o tema. O autismo é uma condição encontrada em 20 de cada 10 mil nascidos. Manifesta-se antes dos 3 anos de idade e sua causa ainda não é clara, muito embora fatores genéticos sejam considerados sua principal origem.</div>
<div style="color: #333333; font-size: 1em; line-height: 19px; margin-bottom: 20px; padding: 0px;">
O diagnóstico é feito a partir da observação do comportamento da criança. Normalmente, os pais detectam algum traço de indiferença ou isolamento excessivos. Resistência ao aprendizado e às mudanças de rotina, uso de objetos de forma incomum, inexistência de medo em situações potencialmente perigosas, agressividade e hiperatividade são alguns sintomas de autismo. </div>
</div>
<div style="background-color: white; color: #666666; font-family: 'trebuchet ms', sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px; padding: 0px; text-align: start;">
<div class="fonte" style="color: #333333; font-size: 1em; font-style: italic; line-height: 19px; margin-bottom: 20px; padding: 0px;">
Fonte: Agência Brasil</div>
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen='allowfullscreen' webkitallowfullscreen='webkitallowfullscreen' mozallowfullscreen='mozallowfullscreen' width='320' height='266' src='https://www.youtube.com/embed/M5MuuG-WQRk?feature=player_embedded' frameborder='0'></iframe></div>
<br />O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-43289405622337599212013-04-03T00:26:00.001-03:002013-04-03T00:34:20.053-03:00Entrevista: Jaques WagnerO governador da Bahia, Jaques Wagner, do PT, diz que se inventou no Brasil uma tradição, uma "regrinha", segundo a qual, depois de dois mandatos, os governadores sem direito à reeleição precisam concorrer ao Senado. Ele não deve seguir este caminho em 2014. Seu futuro pode ser um ministério num eventual segundo governo Dilma Rousseff ou mesmo atender ao pedido da presidente e se lançar a deputado federal.<br />
<br />
Mas tem uma "regrinha" não escrita que o governador da Bahia aponta como uma coincidência que diria muito sobre a escada política rumo à Presidência da República. Um novo candidato do governo à sucessão presidencial é sempre um ministro.<br />
<br />
Foi assim com Itamar Franco, que elegeu seu ex-ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, em 1994. Ocorreu com o próprio FHC, cujo nome para sucedê-lo, foi seu então ministro da Saúde, José Serra, derrotado na eleição de 2002. Aconteceu também com Luiz Inácio Lula da Silva, que escolheu Dilma, sua ministra-chefe da Casa Civil, em 2010.<br />
<br />
Foi com esta lógica que Jaques Wagner tentou demover o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, do PSB, de sair da base aliada e disputar a corrida presidencial contra o PT, no ano que vem. Numa conversa que durou longas seis horas, no fim de fevereiro, Wagner e Campos analisaram o cenário e levantaram hipóteses. O principal conselho do petista ao colega foi: costure seu projeto "por dentro". Por este plano, o governador de Pernambucano desistiria de 2014 e tentaria ser ungido o candidato da coalizão em 2018. Para isso, deveria batalhar para ser o ministro de uma Pasta forte.<br />
<br />
Campos, como se sabe, evita depositar confiança na generosidade alheia. Mas Wagner afirma que, depois de 16 anos no poder (caso vença a eleição no próximo ano), seria natural, sim, que o PT ceda a cabeça de chapa a uma legenda parceira. "Acho que 16 anos em política é um número mágico, até porque eu ganhei do grupo do PFL [hoje DEM] quando eles completaram 16 anos [de poder na Bahia]. O PT quando completou 16 anos perdeu a Prefeitura de Porto Alegre. Tem a chamada fadiga de material", afirma Jaques Wagner.<br />
<br />
Ao mesmo tempo, o governador reconhece que nenhum partido oferece a cabeça de chapa "graciosamente". Em entrevista exclusiva concedida ao Valor, Wagner lembra outra lógica que regeria as disputas eleitorais. "A racionalidade da política é governo e oposição". Logo, o melhor caminho para Eduardo Campos, se ele não quiser costurar sua candidatura por dentro, é se transformar num candidato de oposição. É para ela que os votos desaguarão, caso a economia vá mal, diz o governador, que reconhece ser ele próprio uma opção para a Presidência em 2018.<br />
<br />
"Dentro do PT, se fizer uma lista de três, quatro nomes para 2018 o meu está no meio. Não é uma obsessão. Pois desejo alimenta a alma; obsessão cega. Quando vira obsessão, começa a fazer bobagem", afirma Jaques Wagner, que tem viajado pelo exterior para buscar investimentos para seu Estado, cujo PIB em 2012 foi de 3,1%, contra 0,9% do nacional. A seguir, os principais trechos da entrevista:<br />
<br />
<br />
<br />
Valor: Como estão os investimentos na Bahia?<br />
<br />
Jaques Wagner: Somos o terceiro investimento alemão no país, depois de São Paulo e Paraná. Isso por conta do investimento da Basf, o maior feito de uma vez só, nos cem anos da empresa no Brasil. É um investimento na cadeia acrílica no Polo Petroquímico de Camaçari, que termina no superabsorvente. Por conta disso, a Kimberly-Clark já está começando a produzir na Bahia. É a maior produtora mundial, já está programando em dezembro a começar a duplicar, por conta do mercado nordestino. Creio que eles estão com um olhar pro Nordeste, por ser a região que mais cresce. Nós mesmos [a Bahia] crescemos 3,1% contra 0,9% [do país, em 2012]. Foi o segundo no Nordeste, o Ceará cresceu 4%.<br />
<br />
Valor: E a previsão para 2013?<br />
<br />
Wagner: Estou fazendo a conta deste mesmo tanto. Porque a base de cálculo vai apertando. No PIB industrial nós crescemos 4,2%. Foi o maior índice do Brasil, seguido de Goiás, com 3,8%.<br />
<br />
<br />
"O adversário mais forte de Dilma será o candidato da oposição, não sei se Eduardo vai aceitar esse lugar"<br />
<br />
<br />
Valor: Os empresários não se queixam da regulação?<br />
<br />
Wagner: Já me perguntaram algo semelhante. Se eu teria sentido uma queda nesta demanda. O volume do que a gente tem encaixado, implantado e por implantar ao todo representa 160 empresas. A taxa de procura é muito grande. Óbvio que as reclamações vêm, mas não junto com a desistência. Reclamam da lentidão nas licenças ambientais, de muita paralisação quando é obra pública, de infraestrutura, por conta do Ministério Público etc.<br />
<br />
Valor: Por que o senhor acha que há um encantamento dos empresários por estas candidaturas de oposição ou nem tanto assim, como a de Eduardo Campos?<br />
<br />
Wagner: Nenhum empresário, em qualquer lugar do mundo, gosta de um poder muito forte. Porque pode oprimir, e o Estado mandar na sociedade. Fazer o jogo do contraponto é um jogo super-sadio da democracia. Eduardo Campos é meu amigo, tive uma longa conversa com ele e não vejo nenhum problema na pretensão dele, porque o político que diz que não tem pretensão já morreu ontem. Ele não pode fazer outra coisa se não dizer que quer. O vento está batendo. Ele vai recolher a vela?<br />
<br />
Valor: Não é arriscado?<br />
<br />
Wagner: Se o cara tomar gosto e tiver a decisão, não tem quem segure. A mesma coisa é o empresário. Na hora em que resolve fazer um investimento, mil pessoas dizem assim: "Você está maluco, vai dar errado". O risco é próprio da atividade política e empresarial. É um cara que tem potencial, mas prefiro que ele desenvolva o potencial dentro do grupo. Muita gente tem se encantado com essa novidade porque como o candidato de oposição [o senador mineiro Aécio Neves, do PSDB] não encanta até agora, não agrega, não mostra substância, fica sem graça se não tiver contraponto.<br />
<br />
Valor: Os empresários estão nesta corte ao Eduardo Campos para pressionar a presidente?<br />
<br />
Wagner: Não para pressionar, mas para dizer que tem uma taxa de correção de caminho que eles gostariam. É óbvio que entre isso e concretizar uma candidatura é um longo caminho. Fui lá conversar com ele e dizer: "Você deveria tentar fazer isso por dentro". É óbvio que alguém pode dizer: "Mas o PT nunca vai abrir a possibilidade para alguém de outro partido". Não acho. Sou defensor de que o PT pense também nesta hipótese. Porque nós não podemos ser um grupo político de um partido só. Tem que admitir a prosperidade de outros parceiros. Não é agora porque ela [Dilma] carrega a legitimidade da reeleição. O tempo certo da discussão é 2018. O PT vai estar completando 16 anos no poder e 16 anos em política é um número mágico, até porque eu ganhei do grupo do PFL quando eles completaram 16 anos. O PT quando completou 16 anos perdeu a Prefeitura de Porto Alegre. Então, acho que tem a chamada fadiga de material.<br />
<br />
Valor: Mas ele, talvez com toda razão, não acredita em acordo com quatro anos de antecedência.<br />
<br />
Wagner: Entre os nossos aliados ele é o nome mais colocado. Tem uma longa trajetória. Ser candidato agora também não garante nada para ele [tornar-se nacionalmente conhecido e vencer] em 2018. O Ciro [Gomes, em 1998 e 2002] foi candidato, bem votado, e não prosperou. O Garotinho [em 2002] foi bem votado e não prosperou. Ele também tem este problema. Apesar de termos 30 partidos, as pessoas, querendo ou não, trabalham com o conceito governo e oposição.<br />
<br />
Valor: Mas o PT cederia para o Campos em 2018?<br />
<br />
Wagner: Ninguém cede o poder graciosamente. O PSDB desde que FH foi candidato em 1994 nunca cedeu lugar para o DEM para puxar a fila. Agora estão discutindo o Serra, o Alckmin, e não o Agripino [Maia, senador do DEM] ou qualquer outro nome. Ninguém oferece. Mas todos os meus aliados cresceram muito nos seis anos de governo, o PDT, o PSB, o PSD que não existia lá. Eu gosto de ter aliado forte. Aí depende da sua competência de fazer a gestão da aliança.<br />
<br />
Valor: É possível o Eduardo Campos montar palanques com dissidentes do PSDB, a exemplo da aproximação dele com o prefeito de Manaus Arthur Virgílio?<br />
<br />
Wagner: Na racionalidade - e a política não é só racionalidade - o grande caminho é se ele se transformar num candidato de oposição. É o jogo pra ser jogado. Óbvio que ele poder ir como terceira ou quarta via. Acho que vai ter o PT, o PSDB e a Marina [Silva], que tem um espaço próprio, numa espécie de negação da política, aliada a uma bandeira ambiental e evangélica, e teve resultado espetacular [votação de quase 20% em 2010].<br />
<br />
Valor: Ela repete esse resultado?<br />
<br />
Wagner: Eleição envolve muita emoção. Ela ganhou em Brasília, mas não no Estado dela [Acre].<br />
<br />
<br />
"O problema é que Dilma é muito ciosa e quer saber de tudo antes de ir para a rua, mas é que ela tem urticária com o malfeito"<br />
<br />
<br />
Valor: O que há de racional?<br />
<br />
Wagner: O candidato mais forte para enfrentar a Dilma é o candidato de oposição, em tese do PSDB. Se o Eduardo vira o comandante do PSB, do PSDB, do DEM... Mas aí não sei se ele vai aceitar ou não. São decisões dele. Porque montar palanques nos Estados é outro problema. A lógica dos partidos no Estado é crescer; a lógica de quem está na campanha majoritária é ganhar. Essas duas lógicas nem sempre se combinam. Quem ganhou em São Paulo? Não foi o Russomanno [PRB]. Tinha tudo para ganhar, estava na frente, era outsider na dicotomia PT e PSDB.<br />
<br />
Valor: Mas o senhor acha que o PSDB que governou o país duas vezes e tem oito governos estaduais abriria para o governador de um partido bem menor?<br />
<br />
Wagner: Só se eles acharem que não tem ninguém para concorrer. Não quero fechar nenhuma porta porque tenho uma missão muito clara. Quero manter o Eduardo na aliança. Vou trabalhar por isso.<br />
<br />
Valor: Foi esse seu objetivo nesta conversa de seis horas?<br />
<br />
Wagner: Não tinha missão dada por ninguém. Eu, na verdade, fui lá [em Pernambuco] para um debate [em seminário] da [revista] "Carta Capital". Sentamos para uma conversa de uma hora e meia, e saí de lá, da governadoria, meia-noite e meia. Fui fazer intriga do bem. Ele é um quadro do lado de cá, tem história. Agora, é óbvio que tem que ter espaço para crescer.<br />
<br />
Valor: O que vocês conversaram?<br />
<br />
Wagner: De coisas pessoais até a conversa que ele tinha tido com a Dilma, que ele achou excepcional, e aí ficamos conversando sobre estas hipóteses todas. Porque ser vice não necessariamente é o caminho para ser presidente. Quem é que foi candidato do Fernando Henrique? O ministro dele da Saúde [José Serra, em 2002]. Quem é que foi a candidata do Lula? A ministra da Casa Civil. Então, me parece que é muito mais próprio para alguém que queira se projetar, fazer uma conversa, que não é agora naturalmente.<br />
<br />
Valor: O senhor propôs essa possibilidade de ele vir a ser ministro ou foi ele que sugeriu?<br />
<br />
Wagner: Não, isso tudo fui eu que falei. Ele ouviu e deve ter ficado refletindo.<br />
<br />
Valor: Em que ministério seria mais apropriado?<br />
<br />
Wagner: Não sou eu que vou escalar os ministros da Dilma. Evidentemente eu converso com ele e vou para ela [Dilma] e digo: "Olha, tive uma conversa ótima, ele adorou a sua conversa".<br />
<br />
Valor: E por que ele adorou a conversa com a Dilma?<br />
<br />
Wagner: Não entrei em detalhes, mas ele disse que foi uma conversa muito franca, na qual ela tocou em pontos como esse, da importância do sucesso dele, acho que foi uma coisa muito do tipo, "não tenho interesse nenhum em empurrar ninguém para fora". Ele me disse que gostou bastante da conversa. Teve o episódio da [disputa entre PT e PSB pela] Prefeitura do Recife que aí foi um show de coisas equivocadas feita por todo mundo. Então aquilo é que acendeu muito a ideia de que o Eduardo está preparando a luta contra o PT. Mas o PT está no governo dele em Pernambuco, como ele está no governo da Dilma, como eles estão no meu governo, e como devem estar em outros governos do PT.<br />
<br />
Valor: Como se iniciaram as conversas com o Eduardo?<br />
<br />
Wagner: Evidentemente não sou articulador político da Dilma, mas converso muito com ela. No réveillon, ela foi passar lá [na Bahia] e o chamou para almoçar. Ele foi com Renata [mulher de Campos] e eu fui com Fatinha [mulher de Wagner]. E também foi uma conversa de quatro horas, quatro horas e meia. Mas foi uma conversa em que ninguém falou de eleição de 2014. Depois, ela o chamou para uma conversa que eu diria mais política, lá no Palácio da Alvorada, entre janeiro e fevereiro. Foi a conversa que ele relatou para mim.<br />
<br />
Valor: Mas a decisão política do Eduardo Campos de se candidatar já não está tomada?<br />
<br />
Wagner: Ele me disse que não. Alguns acham que dessa conversa que tivemos em fevereiro para cá, a sucessão de declarações dele ou de aliados dele aponta que teria tomado uma decisão. Só ele que sabe e vai anunciar. [O encontro entre os governadores foi em 25 de fevereiro]<br />
<br />
Valor: Ele não cresceria politicamente ao receber apoios de partidos descontentes, de empresários?<br />
<br />
Wagner: Esse campo intermediário é fundamental, mas se chegar maio e junho, perto da época das convenções, e ele tiver 5%, 6%, 7% não é todo mundo que vai botar as suas fichas. Principalmente no mundo da política. Porque uma coisa é o comandante do partido. Outra coisa é em cada Estado e os deputados federais e estaduais que querem se reeleger e dependem de um palanque forte. Se não tiver a visualização de um palanque forte, não sei nem se terá unidade no PSB inteiro. Tem lugar em que o aliado está doido para que ele seja candidato; e tem lugar que é exatamente o contrário, em que o cara está todo encaixado numa aliança de governo e que prefere não quebrar isso. Esse é o problema.<br />
<br />
Valor: O que falta à Dilma fazer?<br />
<br />
Wagner: Do ponto de gestão dela seria - qualidade pode virar problema - não ser tão ciosa como ela é de cada coisa que vai acontecer no governo dela.<br />
<br />
Valor: Por exemplo.<br />
<br />
Wagner: De tudo, porque ela quer ver o que está acontecendo. O boi só engorda com o olho do dono. Eu diria que isso a Dilma tem até porque ela vem de ser chefe da Casa Civil. Mas é a cabeça dela. E repare que a cabeça dela vem ao encontro de tudo o que a sociedade quer. Ela tem urticária com malfeito.<br />
<br />
Valor: Ela deve descentralizar?<br />
<br />
Wagner: Não estou falando em descentralizar porque os ministérios existem. O problema é que ela, eu diria, quer saber, antes de ir para rua, de tudo. Agora, não é só ela, não. Temos um momento mundial e temos o Estado brasileiro. Alguém fala aqui com tranquilidade quando um órgão de controle paralisa uma obra? O [empresário Jorge] Gerdau falou comigo: deveria ser proibido parar uma obra. Quem para não é o governo federal. Quem para é Tribunal de Contas e ai do governo federal se disser que é contra. É um bom debate saber qual é o melhor ponto de equilíbrio. Porque vivemos a República da desconfiança. Todo mundo é ladrão até prova em contrário.<br />
<br />
Valor: Na Bahia, o PMDB pode aglutinar a oposição em torno da candidatura de Geddel. Neste caso, ele pode dar um palanque para um adversário de Dilma?<br />
<br />
Wagner: Fica meio perna quebrada. Porque se o Michel [Temer, vice-presidente da República, líder do PMDB] estiver lá de vice [na chapa], não vai ter nem o Michel no palanque dele. Não acho que isso vai acontecer. O [ACM] Neto [prefeito de Salvador] está fazendo a conta dele para 2018.<br />
<br />
Valor: Quem é o seu candidato à sucessão?<br />
<br />
Wagner: Por enquanto, a gente ainda não escolheu.<br />
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Valor: E o senhor, o que fará?<br />
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Wagner: Eu, quase certamente, irei até o fim do mandato.<br />
<br />
Valor: Aí o senhor vai para o ministério.<br />
<br />
Wagner: Primeiro, é preciso ela [Dilma] ganhar. Depois, me convidar.<br />
<br />
Valor: O senhor tem alguma dúvida de que ela ganhando o senhor iria para o governo?<br />
<br />
Wagner: Posso ir para um ministério ou para uma posição mais da equipe em torno dela. Ela até gostaria que eu fosse ao menos deputado federal, para ter mandato no governo. Posso até ser, mas 90% [da probabilidade] hoje é ir até o fim do governo. É que se criou essa regrinha: presidente da República acaba o segundo mandato, e acaba. Prefeito acaba o segundo mandato, e acaba. Como governador coincide com eleição para senador, aí se criou a regrinha: eleito, reeleito, senador. Tem nada a ver.<br />
<br />
Valor: Num eventual segundo governo Dilma, como ministro, o senhor se torna, de imediato, o candidato número 1 na sucessão dela.<br />
<br />
Wagner: Repare: hoje, dentro do PT, se fizer uma lista de três, quatro nomes para 2018 o meu nome está no meio. Mas eu acho que o caminho é pegar a segunda geração do PT e botar para começar a ocupar.<br />
<br />
Valor: Quem é a nova geração?<br />
<br />
Wagner: Eu falo que tem que começar a ocupar, tem o Haddad [prefeito de São Paulo], por exemplo. O meu nome está, não estou tirando da lista. Essa não é uma obsessão minha. Eu brinco: desejo alimenta a alma, obsessão cega. Quando vira obsessão começa a fazer bobagem para caramba.<br />
<br />
Valor: Lula não poderia voltar?<br />
<br />
Wagner: Não vejo o Lula voltando em 2018. Não tem cabimento, porque a gente tem um compromisso que a democracia brasileira não pode ser dependente de um ou de dois nomes, tem que ser cada vez mais madura. Eu acredito muito em partido político, acho que um dos problemas que a gente tem é que a gente tem poucos partidos políticos. Os dois grandes que surgiram depois da ditadura foram o PT e o PSDB.<br />
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© 2000 – 2012. Todos os direitos reservados ao Valor Econômico S.A.O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-72145871018484788212013-03-27T17:11:00.001-03:002013-03-27T17:11:44.178-03:00Entrevista: LulaO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu o Valor num hotel na zona sul de São Paulo depois do seminário "Novos Desafios da Sociedade", promovido pelo jornal. A seguir, os principais trechos da entrevista.<br />
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Valor: Como está sua saúde?<br />
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Luiz Inácio Lula da Silva: Agora estou bem. Há um ano vou à fisioterapia todos os dias às 6h da manhã. Minha perna agora está 100%. Estou com 84 quilos. É 12 a menos do que já pesei mas é oito a mais do que cheguei a ter. Não tem mais câncer, mas a garganta leva um bom tempo para sarar. A fonoaudióloga diz que é como se fosse a erupção de um vulcão. Tem uma pele diferenciada na garganta que leva tempo para cicatrizar. Quando falo dá muita canseira na voz. Já tenho 67 anos. Não é mais a garganta de uma pessoa de 30 anos.<br />
<br />
Valor: O senhor deixou de fumar e beber?<br />
<br />
Lula: Não dá mais porque irrita a garganta.<br />
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Valor: Dois anos e três meses depois do início do governo Dilma, qual foi seu maior acerto e principal erro?<br />
<br />
Lula: Quando deixei a Presidência, tinha vontade de dar minha contribuição para a Dilma não me metendo nas coisas dela. E acho que consegui fazer isso quando viajei 36 vezes depois de deixar o governo. Fiquei um ano imobilizado por causa do câncer. Estou voltando agora por uma coisa mais partidária. Sinceramente acho que no meu governo eu deixei muita coisa para fazer. Por isso foi importante eleger a Dilma, para ela dar continuidade e fazer coisas novas. O Brasil nunca esteve em tão boas mãos como agora. Nunca esse país teve uma pessoa que chegou na Presidência tão preparada como a Dilma. Tudo estava na cabeça dela, diferentemente de quando eu cheguei, de quando chegou Fernando Henrique Cardoso. Você conhece as coisas muito mais teóricas do que práticas. E ela conhecia por dentro. Por isso que estou muito otimista com o sucesso da Dilma e ela está sendo aquilo que eu esperava dela. Foi um grande acerto. Tinha obsessão de fazer o sucessor. Eu achava que o governante que não faz a sucessão é incompetente.<br />
<br />
Valor: A presidente baixou os juros, desonerou a economia, reduziu tarifas de energia e apreciou o câmbio. Ainda assim não se nota entusiasmo empresarial por seu governo ou sua reeleição. A que o senhor atribui a insatisfação? Teme-se que esse governo não tenha uma política anti-inflacionária tão firme ou é pela avaliação de que o governo Dilma seja intervencionista?<br />
<br />
Lula: Não creio que haja má vontade dos empresários com a presidente. Passamos por algumas dificuldades em 2011 e 2012 em função das políticas de contração para evitar a volta da inflação. Foi preciso diminuir um pouco o crédito e aí complicou um pouco, mas Dilma tem feito a coisa certa. Agora tem conversado mais com setores empresariais. Acho que os empresários brasileiros, e eu vivi isso oito anos assim como Fernando Henrique também viveu, precisam compreender que uma economia vai ter sempre altos e baixos. Não é todo dia que a orquestra vai estar sempre harmônica. O importante é não perder de vista o horizonte final. O Brasil está recebendo US$ 65 bilhões de investimento direto. Então não dá para se ter qualquer descrença no Brasil nesse momento. Nunca os empresários brasileiros tiveram tanto acesso a crédito com um juro tão baixo. Vamos supor que a Dilma não tivesse a mesma disposição para conversar que eu tinha. Por razões dela, sei lá. O dado concreto é que, de uns tempos para cá, a Dilma tem colocado na agenda reuniões com empresários e partidos políticos.<br />
<br />
Valor: Os empresários acham que ela é ideológica demais...<br />
<br />
Lula: O que é importante é que ela não perde suas convicções ideológicas, mas não perde o senso prático para governar o país. Ela não vai governar o país com ideologia. Se alguém ainda aposta no fracasso da Dilma, pode começar a quebrar a cara. Ela tem convicção do que quer. Esses dias liguei para ela e disse para tomar cuidado para não passar dos 100%. Porque há espaço para ela crescer. Vai acontecer muito mais coisa nesse país ainda. Não adianta torcer para não ter sucesso. Não há hipótese de o Brasil não dar certo.<br />
<br />
Valor: A queixa é de que tudo que eles [os empresários] precisam têm que falar com a presidente porque os ministros não têm autonomia para decidir, ela não delega. É isso?<br />
<br />
Lula: Se isso foi verdade, já acabou. Sinto, nos últimos meses, que a Dilma tem feito muito mais reuniões. Tem soldado muito mais o governo. A pesquisa mostra que o governo vem crescendo e vai chegar perto dela nas pesquisas. E os ajustes vão acontecendo. É a primeira vez que a gente tem uma mulher. O papel dela não é tão fácil quanto o meu porque 99% das pessoas que recebia eram homens, e homem fala coisa que mulher não pode falar, conta piada. Não há hábito do homem ainda perceber a mulher num cargo mais importante. Mas os homens vão ter que se acostumar. Uma mulher não pode se soltar numa reunião onde só tenha homem. Então acho que as pessoas têm que aprender a gostar das outras pessoas como elas são. A Dilma é assim e é assim que ela é boa para o Brasil. A mesma coisa é a Graça [Foster]. É uma mulher muito respeitada também. Não brinca nem é alegre, mas cada um tem seu jeito de ser.<br />
<br />
Valor: Seu governo viabilizou projetos essenciais para o rumo que a economia pernambucana tomou, como o polo petroquímico e a fábrica da Fiat. A pré-candidatura Eduardo Campos, que agrega adversários fidagais de seu governo, como Jarbas Vasconcelos e Roberto Freire, e anima até José Serra, é uma traição?<br />
<br />
Lula: Não. Minha relação de amizade com Eduardo Campos e com a família dele, que passa pela mãe, pelo avô e pelos filhos, é inabalável, independentemente de qualquer problema eleitoral. Eu não misturo minha relação de amizade com as divergências políticas. Segundo, acho muito cedo pra falar da candidatura Eduardo. Ele é um jovem de 40 e poucos anos. Termina seu mandato no governo de Pernambuco muito bem avaliado. Me parece que não tem vontade de ser senador da República nem deputado. O que é que ele vai ser? Possivelmente esteja pensando em ser candidato para ocupar espaço na política brasileira, tão necessitada de novas lideranças. Se tirar o Eduardo, tem a Marina que não tem nem partido político, tem o Aécio que me parece com mais dificuldades de decolar. Então é normal que ele se apresente e viaje pelo Brasil e debata. Ainda pretendo conversar com ele. A Dilma já conversou e mantém uma boa relação com ele.<br />
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<br />
"Ainda é cedo para falar de Eduardo candidato, mas se ele for não é da minha índole tentar demover candidaturas"<br />
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Valor: O Fernando Henrique teve como candidato um ministro e o senhor também. O senhor acha que ainda é possível demover Eduardo Campos com a proposta de que ele se torne um ministro importante no governo Dilma e depois seu candidato? É possível se comprometer com quatro anos de antecedência?<br />
<br />
Lula: Somente Dilma é quem pode dizer isso. Não tenho procuração nem do Rui Falcão [presidente do PT] nem da Dilma para negociar qualquer coisa. Vou manter minha relação de amizade com Eduardo Campos e minha relação política com ele. Até agora não tem nada que me faça enxergá-lo de maneira diferente da que enxergava um ano atrás. Se ele for candidato vamos ter que saber como tratar essa candidatura. O Brasil comporta tantos candidatos. Já tive o PSB fazendo campanha contra mim. O Garotinho foi candidato contra mim. O Ciro também. E nem por isso tive qualquer problema de amizade com eles. Candidaturas como a do Eduardo e da Marina só engrandecem o processo democrático brasileiro. O que é importante é que não estou vendo ninguém de direita na disputa.<br />
<br />
Valor: Já que o senhor tem uma relação tão forte de amizade com ele, vai pedir para Eduardo Campos não se candidatar?<br />
<br />
Lula: Não faz parte da minha índole pedir para as pessoas não se candidatarem porque pediram muito para eu não ser. Se eu não fosse candidato eu não teria ganho. Precisei perder três eleições para virar presidente. Eu não pedirei para não ser candidato nem para ele nem para ninguém. A Marina conviveu comigo 30 anos no PT, foi minha ministra o tempo que ela quis, saiu porque quis e várias pessoas pediram para eu falar com ela para não ser candidata e eu disse: "Não falo". Acho bom para a democracia. E precisamos de mais lideranças. O que acho grave é que os tucanos estão sem liderança. Acho que Serra se desgastou. Poderia não ter sido candidato em 2012. Eu avisei: não seja candidato a prefeito que não vai dar certo. Poderia estar preservado para mais uma. Mas Serra quer ser candidato a tudo, até síndico do prédio acho que ele está concorrendo agora. E o Aécio não tem a performance que as pessoas esperavam dele.<br />
<br />
Valor: Quem é o adversário mais difícil da presidente: Aécio, Marina ou Eduardo?<br />
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Lula: Não tem adversário fácil. O que acho é que Dilma vai chegar na eleição muito confortável. Se a gente trabalhar com seriedade, humildade e respeitando nossos adversários e a economia estiver bem, com a inflação controlada e o emprego crescendo, acho que certamente a Dilma tem ampla chance de ganhar no primeiro turno.<br />
<br />
Valor: Como vai ser sua atuação na campanha de 2014? Vai atuar mais nos bastidores, na montagem das alianças, ou vai subir em palanque em todos os Estados?<br />
<br />
Lula: Eu quero palanque.<br />
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Valor: Vai subir em Pernambuco e pedir votos para Dilma?<br />
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Lula: Vou. Vou lá, vou em Garanhuns, vou no Rio, São Paulo, na Paraíba, em Roraima...<br />
<br />
Valor: Seus médicos já liberaram?<br />
<br />
Lula: Já. Se eu não puder eu levo um cartaz dela na mão (risos). Não tem problema. Acho que ela vai montar uma coordenação política no partido e eu não sou de trabalhar bastidores. Eu quero viajar o país.<br />
<br />
Valor: Nem às costuras de alianças o senhor vai se dedicar?<br />
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Lula: Não precisa ser eu. O PT costura.<br />
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Valor: Quais são as alianças mais difíceis? Como resolver o problema do Rio?<br />
<br />
Lula: No Rio tem uma coisa engraçada porque nós temos o Pezão, que é uma figura por quem eu tenho um carinho excepcional. Nesses oito anos aprendi a gostar muito do Pezão, um parceiro excepcional. E tem o Lindbergh.<br />
<br />
<br />
"Vai que precisam de um velhinho para fazer as coisas [em 2018] mas não é da minha vontade, já dei minha contribuição"<br />
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<br />
Valor: Ele disse que vai fazer o que o senhor mandar...<br />
<br />
Lula: Não é bem assim. Eu não posso tirar dele o direito de ser candidato. Ele é um jovem talentoso, um encantador de serpentes, como diriam alguns, com uma inteligência acima da média, com uma vontade de trabalhar, como poucas vezes vi na vida. Ele quer ser. Cabe ao partido sempre tratar com carinho, porque nós temos que ter sempre como prioridade o projeto nacional. Ou seja: a primeira coisa é a eleição da Dilma. Não podemos permitir que a eleição da Dilma corra qualquer risco. Não podemos truncar nossa aliança com o PMDB. Acho que o PT trabalha muito com isso e que Lindbergh pode ser candidato sem causar problema. Acho que o Rio vai ter três ou quatro candidaturas e ele, certamente, vai ser uma candidatura forte. Obviamente Pezão será um candidato forte, apoiado pelo governador e pela prefeitura. Na minha cabeça o projeto principal é garantir a reeleição de Dilma. É isso que vai mudar o Brasil.<br />
<br />
Valor: Aqui em São Paulo o candidato é o Padilha?<br />
<br />
Lula: Olha, acho que a gente não tem definição de candidato ainda. Você tem Aloizio Mercadante, que na última eleição teve 35% dos votos, portanto ele tem performance razoável. Tem o Padilha, que é uma liderança emergente no PT, que está em um ministério importante. Tem a Marta que eu penso que não vai querer ser candidata desta vez. Tem outras figuras novas como o Luiz Marinho, que diz que não quer ser candidato. Tem o José Eduardo Cardozo, que vira e mexe alguém diz que vai ser candidato e você pode construir aliança com outros partidos políticos. Para nós a manutenção da aliança com o PMDB aqui em São Paulo é importante.<br />
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Valor: Isso passa até pelo PT aceitar um candidato do PMDB?<br />
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Lula: Se tiver um candidato palatável, sim. Nós nunca tivemos tanta chance de ganhar a eleição em São Paulo como agora. A minha tese é a mesma da eleição de Fernando Haddad. Ou seja, alguém que se apresente com capacidade de fazer uma aliança política além dos limites do PT, além dos limites da esquerda. Como é cedo ainda, temos um ano para ver isso. Eu fico olhando as pessoas, vendo o que cada um está fazendo. E pretendo, se o partido quiser me ouvir, dar um palpite.<br />
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Valor: Em 2012, em São Paulo, o senhor defendeu a renovação do partido, com um candidato novo. Essa fórmula será mantida para o governo do Estado?<br />
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Lula: Hoje temos condições de ver cientificamente qual é o candidato que o povo espera. Por exemplo, quando Haddad foi candidato a prefeito, eu nunca tive qualquer preocupação. Todas as pesquisas que a gente trabalhava, as qualitativas que a gente fazia, toda elas mostravam que o povo queria um candidato como ele. Então era só encontrar um jeito de desmontar o Russomanno, que em algum lugar da periferia se parecia com o candidato do PT. Na época eu não podia nem fazer campanha direito. Estava com a garganta inchada. Eu subia no caminhão para fazer discurso sem poder falar, mas era necessário convencer as pessoas de que o candidato do PT era o Haddad, não era o Russomanno. Quando isso engrenou, o resto foi mais tranquilo. Para o governo do Estado é a mesma coisa. Não é quem sai melhor na pesquisa no começo. É quem pode atender os anseios e a expectativa da sociedade.<br />
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Valor: E quem pode?<br />
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Lula: Não sei. Temos que ter muito critério na escolha. A escolha não pode ser em função só da necessidade da pessoa, de ela querer ser. Tem que ser em função daquilo que é importante para construir um leque de aliança maior. Temos que costurar aliança, temos que trazer o PTB, manter o Kassab na aliança e o PMDB. Precisamos quebrar esse hegemonismo dos tucanos aqui em São Paulo, porque eles juntam todo mundo contra o PT. Precisamos quebrar isso. Acho que temos todas as condições.<br />
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Valor: Desde que deixou a Presidência, o senhor tem sido até mais alvejado que a presidente. Foi acusado de tentar manter a chefe do gabinete da Presidência da República em São Paulo. Agora foi acusado de ter suas viagens financiadas por empreiteiras. Como o senhor recebe essas críticas e como as responde?<br />
<br />
Lula: Quando as coisas são feitas de muito baixo nível, quando parecem mais um jogo rasteiro, eu não me dou nem ao luxo de ler nem de responder. Porque tudo o que o Maquiavel quer é que ele plante uma sacanagem e você morda a sacanagem. É que nem apelido: se eu coloco um apelido na pessoa e a pessoa fica nervosa e começa a xingar, pegou o apelido. Se ela não liga, não pegou o apelido. Tenho 67 anos de idade. Já fiz tudo o que um ser humano poderia fazer nesse país. O que faz um presidente da República? Como é que viaja um Clinton? A serviço de quem? Pago por quem? Fernando Henrique Cardoso? Ou você acha que alguém viaja de graça para fazer palestra para empresários lá fora? Algumas pessoas são mais bem remuneradas do que outras. E eu falo sinceramente: nunca pensei que eu fosse tão bem remunerado para fazer palestra. Sou um debatedor caro. E tem pouca gente com autoridade de ganhar dinheiro como eu, em função do governo bem-sucedido que fiz neste país. Contam-se nos dedos quantos presidentes podem falar das boas experiências administrativas como eu. Quando era presidente, fazia questão de viajar para qualquer país do mundo e levar empresários, porque achava que o presidente pode fazer protocolos, assinar acordo de intenções, mas quem executa a concretude daquilo são os empresários. Viajo para vender confiança. Adoro fazer debate para mostrar que o Brasil vai dar certo. Compre no Brasil porque o país pode fazer as coisas. Esse é o meu lema. Se alguém tiver um produto brasileiro e tiver vergonha de vender, me dê que eu vendo. Não tenho nenhuma vergonha de continuar fazendo isso. Se for preciso vender carne, linguiça, carvão, faço com maior prazer. Só não me peça para falar mal do Brasil que eu não faço isso. Esse é o papel de um político que tem credibilidade. Foi assim que ganhei a Olimpíada, a Copa do Mundo. Quando Bush veio para cá e fomos a Guarulhos, disse a ele que era para tirarmos fotografia enchendo um carro de etanol. Tinham dois carros, um da Ford e um da GM, e ele falou: "Eu não posso fazer merchandising". Eu disse: "Pois eu faço das duas". Da Ford e da GM. E o Bush tirou foto com chapéu da Petrobras. Sem querer ele fez merchandising da Petrobras. Você sabe que eu fico com pena de ver uma figura de 82 anos como o Fernando Henrique Cardoso viajar falando que o Brasil não vai dar certo. Fico com pena.<br />
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Valor: O senhor acha que São Paulo corre risco de perder a abertura da Copa porque o Banco do Brasil não vai liberar dinheiro sem garantias?<br />
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Lula: Sinceramente não acredito que as pessoas que fizeram o sacrifício para chegar onde chegaram vão se permitir morrer na praia agora. A verdade é que o Corinthians precisa de um estádio de futebol independentemente de Copa do Mundo. São Paulo não pode ficar fora da Copa. Acho que seria um prejuízo enorme do ponto de vista político e simbólico o Estado mais importante da Federação, com os times mais importantes da Federação - com respeito ao Flamengo - esteja fora da Copa do Mundo. É impensável. Eles que tratem de arranjar uma solução.<br />
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Valor: O senhor voltará à política em 2018?<br />
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Lula: Não volto porque não saí.<br />
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Valor: Voltará a se candidatar?<br />
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Lula: Não. Estarei com 72 anos. Está na hora de ficar quieto, contando experiência. Mas meu medo é falar isso e ler na manchete. Não sei das circunstâncias políticas. Vai saber o que vai acontecer nesse país, vai que de repente eles precisam de um velhinho para fazer as coisas. Não é da minha vontade. Acho que já dei minha contribuição. Mas em política a gente não descarta nada.<br />
<br />
Valor: Que análise o senhor faz do julgamento do mensalão?<br />
<br />
Lula: Não vou falar por uma questão de respeito ao Poder Judiciário. O partido fez uma nota que eu concordo. Vou esperar os embargos infringentes. Quando tiver a decisão final vou dar minha opinião como cidadão. Por enquanto vou aguardar o tribunal. Não é correto, não é prudente que um ex-presidente fique dizendo "Ah, gostei de tal votação", "Tal juiz é bom". Não vou fazer juízo de valor das pessoas. Quando terminar a votação, quando não tiver mais recursos vou dizer para você o que é que eu penso do mensalão.<br />
<br />
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Quando eu era pequena, sabia pela voz do Cid Moreira se era hora da janta, pela do Chico Anysio se era hora de dormir, e pelo riso do Dick Vigarista se era hora de ir para a escola. A TV, como os primeiros relógios públicos da idade média, regulava a vida dos brasileiros.<br />
<br />
Esse fenômeno não existe mais na geração dos meus filhos. O cotidiano deles é pautado por desenhos animados e filmes, pelos realities e programas de curiosidade científica. Todos veiculados na TV paga.<br />
<br />
Mas a TV por assinatura dá traço de audiência no Brasil. Como explicar? Pode ser que minha família faça parte de uma elite sem nenhum significado para a economia, mas sempre que olho o meu guri entretido com o computador e a TV, me pergunto se esse zero está correto.<br />
<br />
Os "gatonets" conectam os bairros populares há tempos e nunca foram contabilizados. Para combater as redes clandestinas, comandadas por milícias organizadas, foram oferecidos contratos a um custo de R$ 30 às comunidades pacificadas do Rio de Janeiro.<br />
<br />
Que mudança trará a legalização e subsequente inclusão da TV paga nas pesquisas?<br />
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O público não está trocando de canal, mas de mídia. Foi-se o tempo dos 100% de ibope. O número de aparelhos ligados segue uma tendência de queda, enquanto os milhares de sites de relacionamento e vídeo games on-line se multiplicam. Em um quadro tão pulverizado, o pequeno resultado tem relevância.<br />
<br />
Antes, as empresas de telecomunicações controlavam o conteúdo e a emissão de sinal. Hoje, a telefonia detém a transmissão, enquanto as antigas emissoras se consolidam como produtoras de programação.<br />
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A TV por demanda aponta um futuro em que o espectador monta a sua própria grade. Algo já praticado na internet, onde os comerciais são destinado a um público alvo e os navegadores trocam indicações entre si. Porta dos Fundos é um fenômeno de views.<br />
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Perde-se por um lado, ganha-se por outro. Uma empresa que produz novelas, séries, programas de esporte e notícia não contará apenas com as 24 horas do dia, os sete dias da semana, ela possuirá um catálogo disponibilizado em incontáveis janelas simultâneas.<br />
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A concorrência com os importados será ainda mais dura. As dezenas de seriados americanos entram aqui pagos e com um nível de qualidade que ainda não possuímos. A TV americana está na vanguarda da cultura de massa. É experimental e popular, arriscada e bem-sucedida.<br />
<br />
Se a ampliação do mercado não servir para fortalecer o que se faz no Brasil, serviremos apenas de pasto, não criaremos nada capaz de dialogar com o que é feito no resto do planeta.<br />
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Na contramão da ameaça estrangeira, raras multinacionais coproduzem séries brasileiras. É um modelo. Mas a maioria dos programas nacionais exibidos na TV fechada é de entrevistas, realities e alguma ficção de baixo custo. Ela ainda é um celeiro de ideias subutilizado no Brasil.<br />
<br />
A ministra Marta Suplicy voltou atrás na decisão de incluir a TV por assinatura na lista de beneficiados do Vale-Cultura. A classe artística respirou aliviada, era uma competição desleal. Mas a proposta, não sei se consciente, ou inconscientemente, fez circular a ideia do Vale-TV e mostrou que o MinC deseja influir no setor.<br />
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Caso o faça, é preciso cuidado para que não só as duas extremidades da transação, o povo e as "über" "teles", saiam ganhando, mas também a faixa intermediária, que inclui os grandes e pequenos produtores de TV.<br />
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O modelo de atender à base e ao topo da pirâmide social, jogando o miolo para escanteio, faz parte da nova ordem econômica mundial.<br />
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Remando contra a maré, François Hollande conseguiu que o Google ressarcisse os periódicos franceses pela exibição de links de notícia nos resultados de busca. Foi firmado um acordo para aumentar a receita de publicidade on-line e criou-se um fundo de € 60 milhões (cerca de R$ 156 milhões) para fortalecer as mídias digitais.<br />
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É preciso preservar o mundo material. É ser Hollande, ou assistir, agora com a televisão, único setor cultural do país que vingou como negócio, a tragédia vivida pela música. Nela, ganharam as empresas de tecnologia e o internauta, enquanto a indústria fonográfica amargou perdas irreparáveis.<br />
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Fernanda Torres é atriz e colunista da Folha desde 2010. Escreve aos sábados, a cada duas semanas, na versão impressa do caderno "Ilustrada".O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-32727218437261534152013-03-17T17:18:00.002-03:002013-03-17T17:18:19.374-03:00'A igreja está caindo!' O jovem Francisco pertencia a uma família nobre e rica de Assis, uma cidadezinha na Úmbria, paraíso verde da Itália. Não dava muita bola para a sua classe, gostava de passarinhos, flores, chamava o Sol de "Irmão Sol" e a Lua de "Irmã Lua". Era poeta e místico, gostava de rezar.<br />
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Faz parte de sua história e de sua lenda. Estava na pequenina igreja próxima de sua casa quando ouviu a voz do Senhor: "Francisco, a igreja está caindo!". Apavorado, ele parou de rezar e deu o fora, ficou a certa distância, esperando a capelinha desabar.<br />
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Foi preciso que o Senhor se explicasse melhor. Nada contra a capela, Francisco entendera mal o aviso, a igreja que estava caindo não era aquela capelinha, era a igreja mesmo, como um todo, que mais uma vez atravessava uma crise daquelas.<br />
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Era necessário que alguém consertasse as coisas, fazendo a igreja voltar a seus valores essenciais de amor, humildade e pobreza. E não havia ninguém mais capaz do que o jovem Francisco, que já renunciara às pompas do mundo, para recuperar a mensagem fundamental do cristianismo.<br />
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Francisco criou uma ordem. Para não concorrer com outras, chamou-a de Ordem dos Frades Menores. Não quis se ordenar padre, não se julgava digno do ofício divino. Pouco depois surgiu um companheiro, por sinal um português que se chamava Fernando, mas mudou o nome para Antônio, que foi missionário e ficou famoso pelos milagres que fazia --dizem que faz milagres até hoje. É doutor da igreja, pregava aos peixes.<br />
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Francisco nada tinha de espetacular. Era, pura e simplesmente, um santo, irmão do Sol e da Lua. Nunca houve um papa que deu a si mesmo o nome de Francisco. O recado que o último conclave recebeu foi bastante claro: a igreja está precisando de alguém para consertar as coisas.<br />
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<!--noindex--><div class="biography">
<b>Carlos Heitor Cony</b> é membro da Academia Brasileira de Letras desde 2000. Sua carreira no jornalismo começou em 1952 no "Jornal do Brasil". É autor de 15 romances e diversas adaptações de clássicos.</div>
O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-43424086087086476642013-03-05T18:56:00.001-03:002013-03-05T18:58:06.444-03:00Hugo Chavez está mortoSegundo o Vice presidente da Venezuela, o presidente Hugo Chávez faleceu na tarde de hoje, de acordo com o pronunciamento oficial transmitido ao vivo pela Globo NewsO Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-87701577732520969432013-03-01T21:30:00.001-03:002013-03-01T21:30:42.778-03:00Com a palavra: Tourinho NetoPerto da aposentadoria, juiz que mandou soltar Carlinhos Cachoeira diz que delação premiada é traição e acusa seus colegas de decretar prisões preventivas com base apenas em suposições.<br />
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O juiz Fernando da Costa Tourinho Neto vai pendurar a toga em abril, aos 70 anos, 42 deles dedicados ao Judiciário. Constitucionalista, apegado aos direitos humanos, contra a lei seca, fã do MST e crítico à indicação política de magistrados, Tourinho Neto não se enquadra facilmente em classificações. Mas corre o risco de encerrar a carreira com a alcunha de “juiz de bandido”. Este ano, ele mandou soltar o bicheiro Carlinhos Cachoeira e anulou provas da operação da Polícia Federal contra o ex-presidente da Valec José Francisco das Neves, o Juquinha. O magistrado, contudo, não teme o linchamento público. Em entrevista exclusiva à ISTOÉ, considera a “reação natural” de uma sociedade indignada com a crescente corrupção. Mas pondera: “Que o povo pense assim, tudo bem! Mas não as autoridades.” <br />
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Tourinho alerta para o que chamou de “afã” em condenar que, segundo ele, ameaçaria garantias individuais e contaminaria inquéritos, denúncias e julgamentos – para ele, o do mensalão, inclusive. Sem medo de polêmica, o juiz critica a teoria do domínio do fato usada pelo Supremo para condenar o ex-ministro José Dirceu. Para o magistrado, a impunidade deve ser combatida com celeridade processual.<br />
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ISTOÉ -<br />
O sr. se aposenta em abril. Vai fazer o quê?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Pensei em dar aulas, mas não gosto de horário fixo. Então, acho que vou advogar.<br />
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ISTOÉ -<br />
Como recebe as críticas por ter liberado o bicheiro Carlinhos Cachoeira e anulado as provas da Operação Trem Pagador, da PF?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Não sou a favor do crime. Quero o rigor, mas também a defesa intransigente dos direitos e garantias individuais previstos na Constituição. Sou um constitucionalista e também um humanista. Falam que eu concedi habeas corpus para o Cachoeira porque ele é rico e influente. Ora, isso é uma bobagem, um absurdo! Todos os dias eu concedo para gente pobre que ninguém conhece.<br />
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ISTOÉ -<br />
Mas não havia o risco de Cachoeira destruir provas ou fugir?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Se esse risco existe, ele não foi demonstrado pela polícia e o Ministério Público. Não se pode manter alguém preso por suposição. Hoje o que mais tem é juiz decretando prisão preventiva com base em conjecturas. A lei proíbe isso, está no artigo 312. Tem que ter prova da existência do crime, indícios suficientes, não só a suspeita.<br />
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ISTOÉ -<br />
No caso do Cachoeira não havia esses indícios?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Não posso ficar falando do caso em que atuo, mas o fato é que um juiz não pode decretar a quebra de sigilo ou a prisão temporária de quem quer que seja com base em suposições. No caso da quebra de sigilo, ela deve ser o último meio de prova. Antes, o delegado deve tentar de tudo.<br />
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ISTOÉ -<br />
Por isso anulou as provas da Operação Trem Pagador, da Polícia Federal?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Essa é talvez a operação recente da PF com mais erros que já vi. Eles começaram a investigação com a quebra do sigilo telefônico, que foi deferida pelo juiz, sem antes ter uma investigação. Aí você anula a interceptação telefônica e não resta nada. Ora, isso é ilegal. Dizem que acabaram com as investigações policiais, mas não é assim. Se cumprirem a lei, não anulo, como não anulei várias outras. O STJ também anulou aqueles grampos da Operação Boi Barrica (Facktor) pelo mesmo motivo. A polícia e o MP trabalham muito mal.<br />
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ISTOÉ -<br />
O sr. se acha mal compreendido?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Por boa parte do Ministério Público e 80% da polícia. Mas não posso ser cúmplice de inquéritos malfeitos, denúncias do MP com base em notícias de jornal. Juiz não está aí para combater o crime, mas para julgar com imparcialidade.<br />
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ISTOÉ -<br />
Os delegados, promotores e juízes de primeira instância estão despreparados?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Eles são preparados. O problema é que há um afã em prender e condenar. A polícia às vezes prende 80 pessoas numa operação, mas será que todos participaram do crime da mesma forma? Parece que há uma necessidade em prestar contas à sociedade para alimentar a mídia com notícias.<br />
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ISTOÉ -<br />
Isso aconteceu no mensalão?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Não entendo essa teoria do domínio do fato usada pelos ministros. É muito perigosa. Julgaram o ex-ministro José Dirceu sem provas. Claro, tudo levava a crer que ele comandava, pois os outros não podiam fazer nada sem a decisão dele, mas não tinha ato de ofício.<br />
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ISTOÉ -<br />
Mas a sociedade está cansada da impunidade...<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Que o povo pense assim, tudo bem, admite-se. Mas que a autoridade pense assim, não dá. Às vezes a pessoa pode parecer culpada, mas é preciso concluir a investigação, tem que fazer perícia, ouvir testemunhas. Imagina se tivéssemos pena de morte? E tudo começa com a imprensa. Ela pressiona pela condenação.<br />
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ISTOÉ -<br />
O sr. acredita que o Supremo agiu pressionado?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Pelo que a gente vê dos votos do mensalão, em parte sim. Tinha essa coisa de dar satisfação ao povo. Nesse caso não estou dizendo que agiu errado, pois também havia esse estigma de que o Supremo não condena ninguém por crime de colarinho-branco. Aí chegou o momento.<br />
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ISTOÉ -<br />
Como ex-promotor e filho de promotor, como o sr. vê a proposta de emenda constitucional que tira o poder de investigação do MP?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
A política investiga, o MP acusa e o juiz julga. Essa separação de poderes garante o estado democrático de direito. A quebra dessa lógica é uma miséria. Sou contra o poder de investigação do Ministério Público, porque normalmente o procurador ou promotor se envolve na investigação. Ele vira um delegado, mas é ele quem deve fiscalizar o trabalho do delegado. Ir à delegacia para acompanhar uma oitiva, pedir à polícia que colha determinada prova e não sair recolhendo dados a seu bel prazer, apresentando denúncia com base em notícia de jornal. Tinha um procurador aqui em Brasília que escaneava as matérias para fundamentar a investigação.<br />
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ISTOÉ -<br />
Quem era?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
O Luiz Francisco e o Guilherme Schelb. Muitos juízes até julgavam com base nas reportagens. Sou a favor do jornalismo investigativo, mas a matéria deve ser um ponto de partida. E só.<br />
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ISTOÉ -<br />
E qual a saída para não ficar a sensação de impunidade?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Temos que ser céleres. Dar celeridade no trâmite proces-sual e nos julgamentos. Não precisa o MP oferecer denúncia que parece sentença condenatória, invadindo a competência do juiz.<br />
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ISTOÉ -<br />
Celeridade no Judiciário é possível?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Sou um exemplo dela. Tenho uma rotina intensa de trabalho. Eu tinha 1.400 processos, mas zeramos tudo.<br />
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ISTOÉ -<br />
Essa rapidez também foi criticada no caso do habeas corpus do Cachoeira.<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Pedido de liminar é para ser decidido em qualquer lugar, até no capô do carro. A liberdade de uma pessoa não pode ser bloqueada por formalismos. Em 2002, tive que conceder um habeas para o senador Jader Barbalho. Era um sábado, eu estava em casa de bermuda, relaxado. Despachei e mandei cumprir. Ele chegou a ser algemado, um absurdo<br />
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ISTOÉ -<br />
O sr. é contra o uso de algemas?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Sou. Só deveriam usar algemas em quem resiste à prisão. Mas a polícia algema idosos, mulheres, pessoas em cadeiras de rodas. Invadem a casa da pessoa e levam a mulher de camisola para a delegacia. É tudo para saciar a sede de justiça do povo. Mas a lei não é um instrumento de vingança.<br />
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ISTOÉ -<br />
E quanto às novas denúncias de Marcos Valério contra Lula, elas devem ser ou não apuradas?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Sou contra a delação premiada. É traição. O homem não pode ser um traidor de seus companheiros. Ele estava participando do crime. Ele, ali na quadrilha, dava suas opiniões, praticava o crime. Depois quer os benefícios da delação. É um oportunista, que quer se safar!<br />
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ISTOÉ -<br />
Mas sem a delação premiada o que seria da Operação Mãos Limpas, que desbaratou a máfia siciliana?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Para combater o crime, a polícia italiana se valeu da fraqueza de um dos réus. É a falência dos instrumentos de investigação do Estado, que não precisa violar a lei e a Constituição. Hoje, no Brasil, o Estado viola a Constituição diuturnamente.<br />
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ISTOÉ -<br />
Como assim?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Para ficar num exemplo, veja o regime disciplinar diferenciado que instituíram nos presídios federais para isolar criminosos de alta periculosidade. Voltamos à ditadura militar. É como a tortura no Dops. Se naquela época tinha um médico que não deixava o sujeito morrer, só para continuar sendo torturado, agora também tem lá o psicólogo que não deixa o preso enlouquecer.<br />
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ISTOÉ -<br />
Na sua opinião, então, o Fernandinho Beira-mar está sendo torturado?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Não tenha dúvida que está sendo torturado. O sujeito ficar numa sala pequena, vigiado 24 horas, não pode usar o banheiro ou tomar banho sem ser filmado.<br />
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ISTOÉ -<br />
O sr. é membro do Conselho Nacional de Justiça. Acha que o conselho cumpre suas funções?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
O problema do CNJ é a Corregedoria, que, no afã de punir, comete erros. A ex-corregedora Eliana Calmon estava doida para punir juiz. Eu disse a ela que as sindicâncias eram legítimas, mas ela exagerava nos pedidos.<br />
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ISTOÉ -<br />
Ela foi contemporânea sua no Tribunal Regional Federal. O que explica ela ter ascendido ao STJ e o sr. não?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Nunca concordei com apadrinhamentos políticos para chegar aos tribunais superiores. Eliana dizia o mesmo, mas depois foi lá e pediu a bênção do ACM e do próprio Jader Barbalho, que me acusam de ter beneficiado.<br />
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ISTOÉ -<br />
Teme que seu apoio à tese dos mensaleiros lhe valha a alcunha de petista?<br />
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TOURINHO NETO -<br />
Já disseram que sou amigo de bandido, mas petista ainda não. Posso dizer que votei no Lula duas vezes, na Dilma e não votei em FHC. Mas não tenho filiação partidária.<br />
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O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-53509749687086252562013-02-21T09:25:00.001-03:002013-02-21T09:25:46.887-03:00O milagre do PTDepois de dez anos, uma amiga voltou em janeiro para o interior da Paraíba, sua terra natal, e ficou espantada. Mesmo com a seca dura, a vida está mole, muito melhor do que quando emigrou para São Paulo em busca de emprego.<br />
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"Sérgio, fiquei impressionada. Melhorou muito. Tem fartura como nunca teve, mas quase ninguém trabalha. Todo mundo ganha bolsa do governo, bolsa família, bolsa da seca, bolsa da pesca (no interior)... Depois do almoço, a cidade inteira dorme."<br />
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Por muito menos, Padre Cícero tornou-se um santo na região. É o milagre do PT, que nem o mensalão nem o pibinho abalam ou abalarão.<br />
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Já são 70 milhões de brasileiros, de uma população total de quase 200 milhões, listados no Cadastro Único para receber assistência federal.<br />
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Dilma anunciou recentemente que o governo está buscando mais 2,5 milhões de brasileiros que ainda estariam fora do cadastro nacional de pobres e miseráveis, dentro de sua meta-slogan de erradicar a extrema pobreza no país.<br />
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A oposição grita irritada que a presidente manipula estatísticas sociais e está antecipando o ano eleitoral, como no evento de ontem marcando a primeira década da Era PT.<br />
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Mas o PT não está antecipando nada, pois está sempre em campanha. Trocou a revolução permanente pela eleição permanente. E a oposição parece amadora diante da eficiente máquina eleitoral petista.<br />
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Com a herança benigna de FHC, Lula, este herói macunaímico, fechou o consenso brasileiro em torno do capitalismo e da democracia, coisa que só ele seria capaz de fazer. E colocou o pobre no centro da política e da economia, coisa que só ele seria capaz de fazer.<br />
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A emergência do pobre é a emergência do mercado interno, que, mesmo com essa crise global, essa política econômica e esse ambiente de negócios, segura a economia do país.<br />
A dificuldade está em dar o próximo salto.<br />
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Depois de exterminar a direita brasileira, o PT vai se gabar nas eleições de ter exterminado a pobreza extrema, segundo seus próprios e duvidosos critérios: é miserável todo brasileiro em família com renda per capita até R$ 70, um número congelado desde 2009, que deveria ser cerca de R$ 90 hoje para acompanhar a inflação.<br />
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"Só pode comemorar um feito dessa magnitude um país que teve a capacidade e a competência de construir a tecnologia social mais avançada do mundo", disse Dilma nesta semana em evento da campanha, quer dizer, do governo.<br />
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De fato, deve-se aplaudir o alívio mínimo que um país rico como o Brasil finalmente proporciona às massas excluídas. Mas depois da tecnologia social, precisamos da tecnologia econômica: estabelecer bases competitivas e estáveis para destravar o potencial brasileiro.<br />
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A louvada tecnologia social basta para garantir a hegemonia nacional petista. Mas não basta para o Brasil dar o próximo passo. Quem conseguir renda de R$ 71 por mês pode sair da faixa da extrema pobreza nas contas do governo e garantir discurso eleitoral a Dilma em 2014, mas seguirá tendo vida miserável e sem perspectivas.<br />
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O sertanejo paraibano que dorme tranquilo depois do almoço está muito melhor de vida hoje do que há dez anos, e isso é muito bom. Mas se ele não sair da rede para trabalhar, o progresso parou ali.<br />
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Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve às quintas no site da Folha.<br />
O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-51387663204922184522013-02-15T15:59:00.001-02:002013-02-15T15:59:09.716-02:00Djalma Bessa: Biografia<br />
<div class="bioNomParlamentrPartido" style="background-color: white; color: #747474; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
DJALMA BESSA - PDS/BA</div>
<div class="bioFotoDetalhes" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px; padding: 0px;">
<div class="bioFoto" style="float: left; margin: 0px 10px 0px 0px; padding: 0px;">
<img height="150px" src="http://www.camara.gov.br/internet/deputado/bandep/131892.jpg" style="border: none;" width="114px" /></div>
<div class="bioDetalhes" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<strong style="color: #747474;">Djalma Alves Bessa</strong><br />Nascimento: <strong style="color: #747474;">8/10/1923</strong><br />Naturalidade: <strong style="color: #747474;">Xique-Xique, BA</strong><br />Profissões: <strong style="color: #747474;">Advogado, Professor e Promotor de Justiça</strong><br />Filiação: <strong style="color: #747474;">Luiz Alves Bessa e Adalgisa de Souza Bessa</strong><br />Escolaridade: <strong style="color: #747474;">Superior</strong></div>
</div>
<div class="clear" style="background-color: white; clear: both; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Mandatos (na Câmara dos Deputados):</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Deputado Federal, 1971-1975, BA, ARENA. Dt. Posse: 01/02/1971; Deputado Federal, 1975-1979, BA, ARENA. Dt. Posse: 01/02/1975; Deputado Federal, 1979-1983, BA, . Dt. Posse: 01/02/1979; Deputado Federal, 1983-1987, BA, PDS. Dt. Posse: 01/02/1983.</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Filiações Partidárias:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
ARENA; PDS; PFL; PTB, 1954-; PSD, 1958-.</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Atividades Partidárias:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Presidente, Diretório Regional, ARENA, BA; Delegado da ARENA junto ao TRE da Bahia e ao TSE; Vide-Líder, ARENA; Vice-Líder, PDS, 1980;Vice-Líder, Bloco Democrático Social, 1980; Líder do Governo e da Oposição, ALBA.</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Atividades Parlamentares:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
CÂMARAS MUNICIPAIS, ASSEMBLÉIAS LEGISLATIVAS E CÂMARA LEGISLATIVA DO DF:<br />ALBA: Mesa: Vice-Presidente; Comissão de Constituição e Justiça: Presidente.<br /><br />CONGRESSO NACIONAL:<br />COMISSÕES MISTAS: Mensagem 2/71,que submete ao CN o texto do DL 1135/70, que dispõe sobre a organização, a competência e o funcionamento do Conselho de Segurança Nacional e dá outras providências: Membro, 1971; Mensagem 19/71, que submete ao CN o texto do DL 1152/71, que reajusta os vencimentos dos servidores civis e militares do DF e dá outras providências: Membro, 1971; PL 7/71, que dispõe sobre o quadro de juizes e o quadro permanente da justiça 1º instância, extingue as seções judiciárias dos territórios do Amapá, Roraima e Rondônia e dá outras providências: Membro, 1971; PL 15/71, que dá nova redação aos artigos 25 da lei 4595/64, 60 e 61 da lei 4728/65 e art. 69 do DL 32/66 e adota outras providências: Membro, 1971; PL 29/71, que dispõe sobre o Estatuto dos Militares: Membro, 1971; PL 1/72, que dispõe sobre processo e julgamento das representações de que trata a alínea "d" do § 3º, art. 15 da Constituição Federal e dá outras providências: Relator, 1972; Mensagem 14/72, que submete ao CN o texto do DL 1206/72, que autoriza o Ministério do Transportes a prestar assistência técnica e assuntos rodoviários: Membro, 1972; Mensagem 26/74, que submete ao CN o texto do DL 1310/74, que altera a legislação referente ao fundo do exército e dá outras providências: Vice-Presidente, 1974.<br /><br />SENADO FEDERAL:<br />Comissão de Assuntos Sociais: Titular; Comissão de Educação: Titular; Comissão de Assuntos Econômicos: Suplente; Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania: Suplente; Comissão Especial Senatorial Temporária do Desemprego e Subemprego no País: Relator; Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o Judiciário: Suplente; Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional: Suplente; Comissões Temporárias: Centro-Leste e Político-Partidária: Titular; Comissão Temporária de Dívida Interna Pública: Suplente; Comissão da Reforma do Regimento Interno: Vice-Presidente.<br /><br />CÂMARA DOS DEPUTADOS:<br />MESA DIRETORA: 1º Secretário, 1977-1978.<br />COMISSÕES PERMANENTES: Constituição e Justiça: Membro efetivo, 1971, 1975, 1979 e 1980-1981, Vice-Presidente, 1975, Presidente, 1976; Economia: Suplente, 1971; Minas e Energia: Suplente, 1975 e 1979; Redação: Vice-Presidente, 1979, e Membro, 1980-1981.<br />COMISSÕES ESPECIAIS: Bacia do São Francisco: Suplente; 1971; Para elaborar Projetos de Leis Complementares à Constituição: Membro, 1972; Código de Processo Civil: Relator, 1972.<br /><br />CPIs: Investigar denúncias de atos de corrupção que teriam sido praticados na esfera da Administração Direta e Indireta da União, Suplente, 1980-1981; Situação Penitenciária do Brasil: Titular, 1975.</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Mandatos Externos:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Deputado Estadual, BA, Partido: N/D, Período: 1955 a 1971 Senador, N/D, Partido: N/D, Período: 1998 a 1999</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Atividades Profissionais e Cargos Públicos:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Promotor Público, BA; Técnico Legislativo, Câmara dos Deputados.</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Atividades Sindicais, Representativas de Classe e Associativas:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Primeiro-Secretário, Fundação Mílton Campos para Pesquisas e Estudos Políticos, 1975</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Condecorações:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Medalha da Ordem do Congresso Nacional, no Grau de Grande Oficial; Ordem do Rio Branco, no Grau de Grande Oficial; Ordem do Mérito da Bahia, no Grau de Grande Oficial.</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Estudos e Cursos Diversos:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Bacharel, Ciências Jurídicas e Sociais, Fac. de Direito, Univ. do Recife, 1948; Licenciado em Geografia e História, Fac. de Filosofia, Ciências e Letras Manoel de Nóbrega..</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Missões Oficiais:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Representante, Câmara dos Deputados, posse de D. Avelar Brandão, Arcebispo Primaz da Bahia, em Salvador, BA, 1971; Designado pelo Presidente da Câmara dos Deputados, visita à Transamazônica, 1971; Observador parlamentar, Delegação do Brasil à XXXV Sessão da Assembléia-Geral das Nações Unidas, 1981; Integrante, Delegação do Grupo Brasileiro do Parlamento latinoamericano, posse do presidente eleito da Argentina, 1983; Integrante, Delegação do Grupo Brasileiro da Associação Interparlamentar de Turismo, Encontro da Direção Internacional do òrgão e da organização Mubndial de Turismo, Madrid, Espanha, 1987.</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Seminários e Congressos:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Participou de Congressos das Assembléias Legislativas em São Paulo, Porto Alegre, Recife, como representante da Assembléia Legislativa da Bahia.</div>
</div>
<div class="bioOutros" style="background-color: white; color: #333333; font-family: Verdana, 'Lucida sans', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 13px; margin: 0px 0px 8px; padding: 0px;">
<div class="bioOutrosTitulo" style="font-size: 1.1em; font-weight: bold; margin: 0px 0px 5px; padding: 0px;">
Obras Publicadas:</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Atividade Parlamentar, 1974; Manual para as eleições municipais de 1996, co-autor; Manual do Vereador, co-autor, 1996.</div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
<br /></div>
<div class="bioOutrosTexto" style="margin: 0px; padding: 0px;">
Fonte: http://www2.camara.leg.br/deputados/pesquisa/layouts_deputados_biografia?pk=123118&tipo=0</div>
</div>
O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-88850087357626774312013-01-31T13:30:00.002-02:002013-01-31T13:30:40.091-02:00Depoimento: Digo a mim mesmo que as imagens que vejo são ficção<div id="articleBy" style="margin-bottom: 0px;">
<b>EROS GRAU</b><br />
ESPECIAL PARA A <b>FOLHA</b>
<br />
</div>
<br />
<br />
Caminhávamos pela "primeira quadra" --como se diz na minha terra. O
primeiro quarteirão da rua principal, a "doutor Bozano". A rua que
desemboca na praça, onde em noites não tão frias as moças passeavam em
um sentido, os rapazes pelo lado oposto, como que compondo um carrossel.
Era em Santa Maria, minha terra.<br />
<br />
Eu a deixara menino, pequeno. Mas voltávamos sempre, embora nunca mais
de uma vez por ano. E sempre que ia a Santa Maria, com o pai e a mãe
--como se diz na minha terra-- eu me sentia voltando, retornando ao
começo.<br />
<br />
Certo dia bem no início dos anos 1950, caminhávamos pela "primeira
quadra". Meu pai encontrava velhos amigos e, apontando-me, dizia: "Este é
o Eros Roberto, meu filho". Sorríamos e o guri que eu era sentia-se
firme no mundo.<br />
<br />
Santa Maria que deixei tão cedo. Por isso mesmo, talvez, com vontade de
voltar. Vontade de recuperar imagens, vozes, gestos. Coisas da década
dos 1940, meu avô Justino descascando-me laranjas e fazendo, nos seus
ventres aloirados, pocinhos bem marcados.<br />
<br />
O tempo vai passando e, nesse ir-se indo, leva pessoas, sopra memórias.
Guardo-as cuidadosamente, de modo que, se hoje passeasse pela "primeira
quadra", lá as encontraria. Seria tão bom, como se em meu tempo de
menino, caminhar agora por ali, encontrar amigos do pai, olhar as moças
na praça.<br />
<br />
De quando em quando vêm notícias da minha terra. Falo ao telefone com os
primos, prometo de repente aparecer. Vamos logo nos ver --garantimo-nos
uns aos outros.<br />
<br />
<br />
Assim fluía o tempo, a areia escorrendo docemente na ampulheta, até que meu sonho de menino foi bruscamente interrompido.<br />
<br />
De repente foi como se aquela fumaça me envolvesse, acordasse sufocado e
descobrisse que --mais do que frágil, passageira, inconsistente-- a
vida que surpreende para o belo repentinamente apunhala. Um punhal
cravado em nosso peito.<br />
<br />
Não quero ver as imagens que passam no vídeo. Digo a mim mesmo que é
ficção. Não estou a fim de assistir filmes de mau gosto. Procuro mudar
de canal, penso ligeiramente em um livro que ando a ler, sobre universos
ocultos. Isso não há de ser real, digo a mim mesmo. Há de estar
acontecendo em outro mundo.<br />
<br />
Não obstante, lá está, de verdade, a realidade. O guri em mim envelhece.
As lágrimas em meus olhos já não são como as que os alcançam quando
enlaço ternuras de minha cidade. Agora é como se eu a abraçasse,
trazendo-a para mais perto de mim, e nos uníssemos ainda mais sob essa
enorme tristeza.<br />
<br />
<div class="tagline">
<b> </b></div>
<div class="tagline">
<b>EROS ROBERTO GRAU</b> É membro da Academia Paulista de Letras, professor titular aposentado da USP e ministro aposentado do Supremo Tribunal Federal.</div>
O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-66762983448758741892012-12-27T15:54:00.001-02:002012-12-27T15:54:33.167-02:00Reajuste do salário mínimo em 2013 leva a aumento real de 70% em dez
anosO reajuste de 9% no salário mínimo, anunciado neste final de ano pelo governo, levará a 239% o reajuste acumulado em dez anos, para uma inflação (INPC) estimada em aproximadamente 99%. Com isso, o aumento real dado ao mínimo nesse período vai superar os 70%. O Dieese estima que apenas o acréscimo de R$ 56 (de R$ 622 para R$ 678) deve representar um acréscimo de R$ 32,7 bilhões na economia. Segundo o coordenador de Relações Sindicais do instituto, José Silvestre, o impacto na arrecadação tributária sobre o consumo ficará em torno de R$ 15,9 bilhões.<br />
<br />
“É um estímulo para a economia. E é talvez a política pública que atinge o maior número de pessoas, um instrumento que ajuda na distribuição de renda”, afirma o economista. Ele lembra que há no país aproximadamente 45,5 milhões de pessoas que têm, em alguma medida, o salário mínimo como referência de seus rendimentos. A soma inclui aposentados, empregados, trabalhadores por conta própria e trabalhadores domésticos.<br />
<br />
Silvestre enfatiza a importância de existir uma política de reajustes para o salário mínimo. “Você pode até discutir a questão do critério, mas o fato de ter uma regra clara não deixa à mercê do governo que entra ou sai”, comenta. Ele também desconsidera a tese dos críticos dessa política, de que os aumentos reais “quebrariam” a Previdência ou aumentariam a informalidade no mercado de trabalho. “A história tem mostrado o contrário”, diz o economista.<br />
<br />
A Lei 12.255, de 2010, estabeleceu diretrizes para a política de valorização do salário mínimo de 2012 a 2023, o que deveria ser feito por projeto de lei. O PL 382, de 2011, fixa critérios até 2015: reajuste pelo INPC e, a título de aumento real, a variação do PIB de dois anos antes. Em 2014, por exemplo, além da inflação, seria aplicado o percentual equivalente ao PIB de 2012. De acordo com o Dieese, se a economia crescesse 5% ao ano até 2023, o mínimo dobraria em termos reais, atingindo aproximadamente R$ 1.400.<br />
<br />
O valor oficial segue abaixo das necessidades do trabalhador, mas não se pode desconsiderar o incremento dos últimos anos, acrescenta o técnico do Dieese. “O salário mínimo necessário chegou a ser quase oito vezes maior. Hoje, essa relação é de quatro vezes”, lembra. Segundo o dado mais recente, relativo a novembro, o mínimo necessário para um trabalhador e sua família adquirirem os gêneros essenciais deveria ser de R$ 2.514,09. Mas, com o aumento anunciado, a relação entre mínimo e cesta básica será a melhor desde 1979. Em 1995, o mínimo comprava 1,02 cesta – em janeiro, passará comprar 2,26 cestas.<br />
<br />
Fonte: Rede Brasil Atual <br/><br/><div class="separator"style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcEcYZVXO9fdXZXMgLo1raITdOVAI_R2LYZBkWBGLDwDYjbBR8hoCxOCj2gm7-ox7QTc5KGCQaHPLf0saeVAw7Cb3dNsqhQ9bV6xLVSl91QnEGGlNEiRwH8B2JscqXIFHjmIJB84GIoWfT/s640/blogger-image--1442426742.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhcEcYZVXO9fdXZXMgLo1raITdOVAI_R2LYZBkWBGLDwDYjbBR8hoCxOCj2gm7-ox7QTc5KGCQaHPLf0saeVAw7Cb3dNsqhQ9bV6xLVSl91QnEGGlNEiRwH8B2JscqXIFHjmIJB84GIoWfT/s640/blogger-image--1442426742.jpg" /></a></div>O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-39619487012710677732012-12-06T10:29:00.001-02:002012-12-06T10:31:36.233-02:00Com a palavra: Oscar NiemeyerEntrevista em 1994 ao jornal Folha de São Paulo:<br />
<br />
Família<br />
<br />
Minha família vinha de Maricá [RJ]. Meu avô Ribeiro de Almeida nasceu lá. Já o meu avô Niemeyer não o conheci. Sempre morei com esse avô Ribeiro de Almeida. Ele foi juiz de direito em Maricá e depois foi para o Rio.<br />
<br />
Ele chegou a ministro do Supremo, e a casa era muito frequentada. Ele era um sujeito correto. De modo que, em tempos de esculhambação, a lembrança dele é muito boa.<br />
<br />
Para visualizar o infográfico que acompanha essa reportagem, é preciso baixar o Flash Player.<br />
<br />
Morávamos numa casa feita para minha mãe. Embaixo ficavam o meu avô e os dois filhos. Em cima, nós: eu, minha mãe, meu pai e irmãos.<br />
<br />
A gente vivia tranquilo, mas não éramos ricos. Depois de ser ministro, meu avô morreu deixando só uma casa hipotecada. Mas vivíamos bem, e eu lembro da casa grande, da maneira que a gente vivia.<br />
<br />
Religião<br />
<br />
Fui para o colégio dos padres barnabitas e lembro como resisti a essa ideia da religião, que era a católica. Tinha missa em casa. Mas nunca acreditei nessas coisas porque achava o mundo injusto e o ser humano tão frágil.<br />
<br />
Diversões<br />
<br />
Lembro-me de dois pianos, um no hall de entrada e outro na sala de visitas. O pessoal gostava de música, minha mãe cantava, minhas irmãs tocavam piano, eu jogava futebol na rua.<br />
<br />
Boêmia<br />
<br />
Morava perto do Fluminense, era o clube que frequentava.<br />
<br />
Minha mocidade era o Fluminense, era o Clube de Regatas --cheguei a correr numa regata!--, era o Lamas [restaurante tradicional, na Lapa], onde a gente se reunia. Era feito um escritório. A gente ia para lá e jogava bilhar, batia papo, ia para a zona da Lapa.<br />
<br />
Eu me lembro da Lapa. A gente ia ao cinema na avenida Rio Branco e me incomodava ver na orquestra um velhinho, que tocava violino.<br />
<br />
Depois a gente pegava o bonde e saltava na Lapa. Tinha aqueles cabarés, um ar de vadiagem, de briga.<br />
<br />
Depois, voltávamos para o Lamas. Lembro de quando tinha que acordar cedo, quem me acordava era o garçom do Lamas. Ele ligava para casa.<br />
<br />
Às vezes, a gente tinha uma festa e, em vez de ir, ficava jogando bilhar até de manhã.<br />
<br />
Vida adulta<br />
<br />
Nunca me preocupei com nada até me casar, em 1928 [referindo-se ao casamento com Anita Niemeyer Soares, que morreu em 2004, aos 94 anos]. Envelhecemos juntos. Nesse período todo, eu não pude me queixar da vida.<br />
<br />
Ao me casar, comecei a pensar na vida e entrei na escola. Lembro que fui trabalhar com meu pai, que tinha uma tipografia. Gostava de desenhar, e o desenho é que me levou à escola de arquitetura.<br />
<br />
Anos de formação<br />
<br />
Já era casado [quando entrei para a Escola de Belas Artes]. Quando me casei, estava ajudando meu pai. Eu tinha uma prima, uma senhora velha, que morou sempre com meus avós, que tinha uma casa. Vivíamos do aluguel da casa.<br />
<br />
Eu trabalhava de graça para o Lucio Costa. Eu queria aprender, porque na escola ainda é assim. Durante a escola, o sujeito vai trabalhar num escritório de arquitetura, de construção, e recebe um salário que vai ajudando a passar esse tempo.<br />
<br />
Mas eu, apesar de casado, não quis salário, queria aprender. Como me disseram que o escritório do Lucio era o melhor, foi lá que fui trabalhar e onde fiquei uns anos.<br />
<br />
Le Corbusier, o papa<br />
<br />
Eu conheci primeiro o Lucio [Costa]. Depois, foi o [Gustavo] Capanema [ministro da Educação e da Saúde entre 1934 e 1945]. Em seu governo, ele abriu as coisas. Surgiram Drummond, Mário de Andrade, expoentes que aquele clima provocou.<br />
<br />
O Le Corbusier [arquiteto franco-suíço, um dos principais nomes do modernismo; 1887-1965] veio para fazer umas palestras e o projeto da Cidade Universitária.<br />
<br />
Nesse meio tempo, o Lucio pediu para ele examinar o projeto [do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Capanema, considerado marco inicial do modernismo no país, 1947]. Então, ele fez outro projeto, linear. Ele é o autor. Sempre dissemos isso. Fomos uma equipe unida.<br />
<br />
O mais importante foi o contato que eu tive com os livros dele. Porque o que ele escreveu influenciou gerações. Depois que ele saiu daqui, me senti mais livre. Naquele tempo, a gente estava no caminho da arquitetura moderna. Ainda presos a preconceitos. Sua ideia de que arquitetura é invenção me libertou.<br />
<br />
Projeto da sede da ONU<br />
<br />
Fui convidado, com dez arquitetos estrangeiros, para projetar a sede da ONU. Fui como representante do Brasil e, no dia em que cheguei, o Corbusier me telefonou.<br />
<br />
Fui encontrá-lo na Quinta Avenida. Ali ele explicou que havia dúvidas sobre o projeto dele --cada um apresentava um projeto-- e queria ver se eu ficava do lado dele.<br />
<br />
Disse que sim, ele era o mestre mesmo. Então, fui para o escritório e comecei a ajudar.<br />
<br />
Passaram-se os dias e o diretor do serviço me chamou e disse: "Oscar, chamei você para fazer o projeto como os outros, não para ajudar o Corbusier".<br />
<br />
Disse: "Bom, mas eu acho que o projeto dele é o melhor". Ele respondeu: "Não, eu preciso ver o seu". Falei com Corbusier, que disse: "É melhor você fazer o seu, estão esperando".<br />
<br />
Aí fiz, e meu projeto foi aprovado. Então ele disse que queria que botasse a assembleia no meio [como previa o projeto de Corbusier]. Eu não queria, mas ele insistiu. Sentia que estava meio constrangido.<br />
<br />
Então apresentamos juntos nossos projetos, que foram a base para a construção.<br />
<br />
Ele era um grande arquiteto, só isso. Era incompreendido e egoísta. Comigo ele fez uma malandragem. Mas era um grande arquiteto.<br />
<br />
Ângulo reto x curva<br />
<br />
Eu não tinha muito apreço pelo ângulo reto, que Le Corbusier defendia. Achava que a arquitetura feita em concreto podia ser diferente.<br />
<br />
Quando o espaço é maior, e o vão é grande, o concreto armado sugere a curva. De modo que a curva não é coisa imposta pelo homem. É algo que surge naturalmente.<br />
<br />
Quando fiz Pampulha, achavam que era contra o ângulo reto. Não que não o aceitasse, mas achava que era uma arquitetura mais rígida, fria, que Mies van der Rohe [arquiteto alemão, diretor da Bauhaus nos anos 1930] tão bem fazia.<br />
<br />
Construção de Brasília<br />
<br />
Quando cheguei lá no fim do mundo, a terra era agreste, hostil, não tinha árvore, não tinha nada.<br />
<br />
Na época, o divertimento era a Cidade Livre. Tomávamos caipirinha, ríamos. Todos trabalhando juntos --operários, engenheiros, arquitetos--, dava a sensação de que o mundo seria melhor.<br />
<br />
Quando inaugurou, veio a muralha separando pobres e ricos --e Brasília passou a ser uma cidade como as outras.<br />
<br />
Por quatro anos andamos na estrada que estavam construindo. Pegávamos o carro a qualquer hora. Tive um desastre, fiquei um mês machucado e quase morri.<br />
<br />
O avião que ia para Brasília levava três horas. Na primeira viagem do Juscelino, fui junto. Lembro de sentar ao lado do Lott [general Henrique Teixeira Lott, ministro da Guerra de Kubitschek]. Ele disse: "Dr. Niemeyer, o senhor vai projetar prédios bem clássicos para nós, não é?". Eu respondi: "General, o senhor, na guerra, prefere arma clássica ou moderna?".<br />
<br />
Evolução de sua obra<br />
<br />
Quando eu fui para a Pampulha, eu queria lutar contra o ângulo reto. Depois eu fui para Brasília. Mas, antes mesmo, já senti que o racionalismo não tinha sentido. Os que lutavam por racionalismo, pureza estrutural contra a arquitetura livre, mudaram.<br />
<br />
A arquitetura de que eu gosto é: cada um faz o que quer. É a que utiliza técnica em todas as possibilidades.<br />
<br />
Para ser arte, ela tem de primeiro ser diferente e, depois, ser uma coisa que cria espanto, beleza.<br />
<br />
A arquitetura que faço não aceita regras. Procuro fazer lógica, funcional, mas criando, partindo de um desenho, de uma ideia, de um croqui. Mas que seja coisa diferente.<br />
<br />
Beleza e praticidade<br />
<br />
Acho que o prédio deve ser correto. Mas para chegar a ser uma obra de arte, ele tem de ser bonito. E, para ser bonito, tem de ser diferente, porque arte está ligada à invenção.<br />
<br />
Agora, às vezes querem criticar e dizem: "É, é bonito, mas não funciona bem". A gente sabe que é a mediocridade querendo se defender.<br />
<br />
Hoje a gente não pode dizer que o Memorial [da América Latina] é ruim. Dizem: "A praça podia ter árvores".<br />
<br />
É por sacanagem, porque sabem que na França, na Itália tem praças sem nada. O povo não se informa e se deixa levar pela ideia de que parece estacionamento. Se fosse assim, praças da Europa também poderiam ser estacionamento.<br />
<br />
É o abrigo do homem. Serve para ele trabalhar, viver. A ideia é fazer algo bonito. Beleza sempre cercou o homem. Nosso ancestral mais antigo pintava as cavernas.<br />
<br />
A leveza é encontrada em qualquer objeto, não é uma coisa que eu inventei. A ideia é simplificar, reduzir. Na arquitetura é isso também.<br />
<br />
Liberdade criativa<br />
<br />
O arquiteto não pode sair para a vida como desenhista. Ele deve saber como se comportar diante do mundo.<br />
<br />
Em livros que li encontrei a frase que é justamente a que eu gostaria de ter escrito para explicar o meu trabalho. [Martin] Heidegger [filósofo alemão] diz que a razão é inimiga da imaginação.<br />
Isso é o que quero dizer com arquitetura. Quero dizer que coisas que limitam o trabalho do arquiteto são ruins. Ele deve ter liberdade. Não é só a razão que funciona.<br />
<br />
Processo criativo<br />
<br />
Às vezes tudo é tão claro que leva logo à solução. O museu de Niterói surgiu espontaneamente por ser um promontoriozinho à beira do mar, e o projeto tinha de ter só um apoio central. Então, surgiu feito uma flor, um cálice.<br />
<br />
O Memorial surgiu também de repente. Uma vez, lá na França, estava pensando na mesquita de Argel e fiz. Levantei de madrugada e desenhei<br />
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Projetos favoritos<br />
<br />
A Universidade de Constantine [em Argel] tem coisas de que eu gosto mais. De Brasília, do Congresso, eu gosto. Gosto quando sinto que causou espanto, causou dúvida. Do Itamaraty todo mundo gosta. Eu prefiro a praça dos Três Poderes, a Catedral.<br />
<br />
Arquitetura soviética<br />
<br />
Estive na União Soviética no stalinismo. Quando ia sair da cidade [Moscou], a direção da escola de arquitetura me perguntou: "Que acha da arquitetura soviética?".<br />
<br />
Eu disse: "Estou com vocês na política, mas, nesse ponto, não tenho argumentos para defender o que fazem".<br />
<br />
Eles até disseram: "Bom, então faça suas críticas". Disse: "Não estou aqui para criticar, mas esta universidade, por exemplo, é muito ruim". Os espaços são pequenos. A circulação é deficiente.<br />
<br />
Um deles falou: "Por que não apresenta as críticas ao arquiteto?". Disse: "Não. Respondo ao que perguntaram".<br />
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O arquiteto [da Universidade de Moscou] tinha me dado um quadro que fez, uma paisagem, também muito ruim.<br />
<br />
Disse o que achei, porque na União Soviética eu tinha que responder com franqueza, não? Deviam querer isso em vez de elogios, não é?<br />
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Luiz Carlos Prestes<br />
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Eu o conheci quando acomodei no escritório uns 15 comunistas que tinham saído da prisão. Eu o conheci e, 15 dias depois, entreguei a minha casa para ele e disse: "Fique com a casa, que seu trabalho é mais importante". Às vezes, um cliente reacionário telefonava, e eu respondia: Partido Comunista Brasileiro. O sujeito tomava um susto.<br />
<br />
Fidel Castro<br />
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Ele me convidou para fazer o projeto na praça da Revolução, mas era muito difícil chegar lá. Tinha que pegar o avião na Espanha e acabei não indo. E ele disse: "Ah! Vou mandar um navio buscar o Niemeyer".<br />
<br />
Nós temos muita afinidade. Quando ele veio aqui a última vez, ele fez uma palestra. Quando ele desceu, o prédio, que não é de comunistas, estava todo aceso e todo mundo bateu palmas para ele.<br />
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Comunismo<br />
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Sou comunista, nunca achei que tivesse acabado. É uma ideia justa, estou velho demais para mudar de ideia.<br />
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O que ocorreu na União Soviética em 70 anos foi uma evolução fantástica. Transformaram um país de mujiques em potência mundial.<br />
<br />
Eles foram à Lua, ajudaram todos os povos em libertação. Apoiaram todos os partidos políticos. Impediram que Cuba fosse invadida. Eles não se preocuparam economicamente, e a coisa falhou.<br />
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Crise do socialismo<br />
<br />
O que eu penso é que o ser humano não estava preparado. Quando a gente fala em uma sociedade melhor, justa, em que todos se compreendem, tudo pede que o ser humano esteja disposto.<br />
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Cuba, por exemplo, está cercada, é o cerco mais horrível da história, e o povo está lá resistindo. É porque eles seguem o exemplo de Fidel.<br />
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Uma mudança para melhor vai acontecer quando o homem compreender que é fruto da natureza. Que é um bicho, que nasce e morre.<br />
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Quando eu faço um projeto, fico quebrando a cabeça e procuro lutar por ele, mas, no fundo, quando fico sozinho, sei que não tem importância.<br />
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Como essa conversa agora: aqui, um dia, não vai ter mais ninguém também. Penso que tanto faz ser feliz ou infeliz, a vida é um sopro, um minuto. <br/><br/><div class="separator"style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb8IcVx3NWtvCmHDnRmF7CDNJt_tir3I6hYd4oc437wCXZp2BRdIt91q-xZ705dsjsNKbU_xixoJHh1DHjx65_CcMT91-iUhF84A1ur3nSL-_RvzkzK1chyphenhyphenQWY2ovkO0penaHPKk8d34VJ/s640/blogger-image--413721480.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgb8IcVx3NWtvCmHDnRmF7CDNJt_tir3I6hYd4oc437wCXZp2BRdIt91q-xZ705dsjsNKbU_xixoJHh1DHjx65_CcMT91-iUhF84A1ur3nSL-_RvzkzK1chyphenhyphenQWY2ovkO0penaHPKk8d34VJ/s640/blogger-image--413721480.jpg" /></a></div>O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-44401810756034749312012-12-06T09:02:00.001-02:002012-12-06T09:02:18.483-02:00Oscar Niemeyer: Conversa de arquitetoO texto "Conversa de arquiteto", de Oscar Niemeyer, foi publicado na seção "Tendências/Debates", da Folha, em 16 de julho de 2006, em que fala de soluções e preferências arquitetônicas. Leia a íntegra abaixo.<br />
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Um dia, Darcy Ribeiro me contou uma história engraçada. Tinha organizado uma mesa-redonda para debater os problemas dos índios brasileiros. Entre os convidados, havia um índio seu conhecido, e, durante uma hora, as questões foram discutidas sem que ele dissesse uma única palavra.<br />
<br />
Surpreso, Darcy o interrogou: "Você não que falar?". "Não", foi a resposta. O nosso antropólogo insistiu: "Por quê?". "Estou com preguiça", respondeu o rapaz.<br />
<br />
Todos riram, e eu fiquei a matutar: será que o índio não acreditava mais em certo tipo de promessa, naquelas boas intenções a que os nossos irmãos mais pobres já estão tão habituados?<br />
<br />
Confesso que, tal qual o índio, tenho preguiça de participar de congressos, simpósios que surgem sobre arquitetura, de escutar as opiniões mais ridículas, os pontos de vista já superados, que, neles, impacientes, somos obrigados a ouvir.<br />
<br />
Certa vez, Alvar Aalto, cansado de tais conversas, declarou que não existe arquitetura antiga e moderna. O que existe, no seu modo de ver, é boa e má arquitetura.<br />
<br />
É evidente que Alvar Aalto tinha razão. Mas como eram limitadas, nos velhos tempos, as possibilidades de se caminhar na arquitetura!<br />
<br />
É sempre bom exemplificar. Lembrar como era penoso para Michelangelo limitar o diâmetro de suas cúpulas a 30 ou 40 metros. É lógico que ele teria gostado de poder fazê-las com 80 metros de diâmetro, como tive a oportunidade de realizar agora no museu de Brasília.<br />
<br />
E recordo outro exemplo de como os arquitetos daqueles tempos ficavam a sonhar soluções arquitetônicas que só agora é possível concretizar. Lembro Calendario, o arquiteto que projetou o Palácio dos Doges, em Veneza, desejoso de nele criar um espaço mais amplo e obrigado a recorrer a uma enorme treliça de madeira. Problema esse que, hoje, uma simples laje de concreto resolveria.<br />
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Não acredito numa arquitetura ideal, por todos adotada. Seria a repetição, a monotonia. Cada arquiteto deveria ter a sua arquitetura, não criticar os colegas, fazer o que lhe agrada, e não aquilo que outros gostariam que ele fizesse. E, ainda, ter a coragem de procurar a solução diferente, mesmo quando sentisse que era radical demais para ser aceita.<br />
<br />
Reconheço, sem falsa modéstia, que não me faltou coragem para desenhar as cúpulas do Congresso Nacional, que espantaram até Le Corbusier, a nos afirmar: "Aqui há invenção". E, pelos mesmos motivos, agrada-me lembrar a praça do Havre, que projetei na França, eu a dizer ao seu prefeito diante do terreno escolhido: "Gostaria de rebaixar o piso desta praça quatro metros". Recordo que ele me olhou surpreso, mas eu falava com tanta convicção que a praça foi rebaixada como pedi.<br />
<br />
É claro que eu tinha razão. Minha ideia era protegê-la dos ventos e do frio que vinham do mar.<br />
<br />
Hoje, das calçadas que a contornam, o povo, de cima, a vê e, espantado, desce pelas rampas para apreciá-la melhor. Eu, pelo menos, não conheço nenhuma praça como aquela, agora tombada e escolhida um dia pelo crítico italiano Bruno Zevi como uma das dez melhores obras da arquitetura contemporânea.<br />
<br />
Confesso que vacilei em falar desse trabalho meu com tanto entusiasmo. É um exemplo de determinação profissional que cabia aqui mencionar.<br />
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Se examinarmos a questão da intervenção da técnica na arquitetura, basta lembrarmos o seguinte: antigamente, as paredes é que sustentavam os prédios; com o aparecimento da estrutura independente, elas passaram a simples material de vedação.<br />
<br />
E surgiram a leveza arquitetural, as fachadas livres e os grandes panos de vidro que caracterizam a arquitetura atual. E, quando, por razões urbanísticas --para encurtar distâncias--, os prédios começaram a ganhar altura, foi a descoberta do elevador que tudo tornou possível.<br />
<br />
E apareceram os grandes arranha-céus, uma solução que espalha o caos por toda parte se não forem observados os afastamentos horizontais indispensáveis, como tão bem ocorreu na Défense, em Paris.<br />
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Não foi apenas o progresso da técnica construtiva que marcou a evolução da arquitetura mas também as transformações das ciências e da sociedade.<br />
<br />
Na Universidade de Constantine, na Argélia, por exemplo, projetamos somente dois grandes edifícios: um de classes, e o outro, de ciências. O objetivo era atender a Darcy Ribeiro, evitar a construção de prédios separados (um para cada faculdade). Desses dois edifícios todos os alunos se serviriam, criando a troca de experiências que o meu amigo considerava indispensável.<br />
<br />
E foi assim, atendendo ao progresso da técnica e da própria evolução social, que foi possível chegar a esta etapa do concreto armado, que abriu aos arquitetos um campo novo de possibilidades.<br />
<br />
Sempre digo que podemos voltar ao passado por simples curiosidade, lembrar a primeira verga, o primeiro arco, as grandes catedrais, mas o vocabulário plástico do concreto armado é tão rico que com ele devemos trabalhar.<br />
<br />
Infelizmente, a simplicidade com que se busca explicar a evolução da arquitetura não impede que, por ignorância ou falta de sensibilidade, os problemas continuem a ser discutidos da maneira mais medíocre. Uns a insistir na importância da ligação com o passado, outros a defender uma arquitetura mais simples, indiferentes à técnica do concreto armado que nos permite todas as fantasias.<br />
<br />
É claro que ele abre aos arquitetos os caminhos mais diferentes, e o que adotamos é, em princípio, reduzir os apoios, tornando a arquitetura mais audaciosa e variada.<br />
<br />
E, como a procura da surpresa arquitetural nos ocupa e a curva nos atrai, é nas próprias estruturas que intervimos.<br />
<br />
Esse é o momento em que o arquiteto define a sua arquitetura --uns, como nós, voltados para a curva livre e inesperada, outros, com igual empenho, para a linha reta por eles preferida. Às vezes me perguntam qual é a razão da predominância da curva em minha arquitetura. E recordo logo André Malraux a dizer: "Guardo dentro de mim um museu de tudo que vi e amei na vida". E, como ele, é desse museu imaginário que muita coisa me ocorre com certeza, ao elaborar os meus projetos.<br />
<br />
Na realidade, aprecio as coisas mais diferentes. Gosto de Le Corbusier como gosto de Mies van der Rohe. De Picasso como de Matisse. De Machado de Assis como de Eça de Queiroz.<br />
<br />
Somente no campo da política sou radical, intransigente com o império assassino de Bush ou com os que, em nosso país, tentam combater o governo de Lula, que, diante dos problemas da América Latina, tão importantes para nós, tem sabido se manifestar.<br />
<br />
Nestes momentos de pausa e reflexão é que me permito dizer que a vida é mais importante do que a arquitetura. Que, um dia, o mundo será mais justo e a vida a levará a uma etapa superior, não mais limitada aos governos e às classes dominantes, atendendo a todos, sem discriminação.<br />
<br />
Releio este artigo e lembro Le Corbusier a escrever o poema sobre o ângulo reto, e eu a falar da curva que tanto me fascina:<br />
<br />
"Não é o ângulo reto que me atrai Nem a linha reta, dura, inflexível, Criada pelo homem.<br />
<br />
O que me atrai é a curva livre e sensual, A curva que encontro nas montanhas do meu país, No curso sinuoso dos seus rios, Nas ondas do mar, No corpo da mulher preferida.<br />
<br />
De curvas é feito todo o universo, O universo curvo de Einstein."<br />
<br/><br/><div class="separator"style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibI8gtXm6TziclLA1veMZ9Ny0VMKs3OId05571lsjDnt-CTmpimQ7CjEAAUVcXEBfk_PUfnDah95Snpa9bB7GOKVw6rwc7baM546NpWdPy_TcVbplmYrp0yoZloj9vOhnGD5QFugU0hLVJ/s640/blogger-image--579570149.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEibI8gtXm6TziclLA1veMZ9Ny0VMKs3OId05571lsjDnt-CTmpimQ7CjEAAUVcXEBfk_PUfnDah95Snpa9bB7GOKVw6rwc7baM546NpWdPy_TcVbplmYrp0yoZloj9vOhnGD5QFugU0hLVJ/s640/blogger-image--579570149.jpg" /></a></div>O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-23967704714555604252012-11-26T07:42:00.001-02:002012-11-26T07:42:29.008-02:00Um horror em Jussiape, BahiaCaçador de pequenos animais, um comerciante decidiu se vingar dos rivais de um antigo prefeito ficha suja do interior da Bahia. Com revólver e espingarda em mãos, três cinturões e uma bolsa cheia de balas, ele transformou Jussiape num cenário de terror. Matou o prefeito reeleito, a primeira-dama e um servidor. Os dois últimos foram baleados no meio da rua.<br />
<br />
Antes de ser morto por um PM, o caçador também feriu um mototaxista e dois policiais militares, um deles com um tiro na cabeça.<br />
<br />
O ataque de Claudionor de Oliveira, 43 anos, conhecido como Coló, ocorreu na manhã de sábado. Até o fim da tarde de ontem, o policial atingido na cabeça permanecia internado em estado grave.<br />
<br />
Segundo relato de conhecidos, Coló estava revoltado com a reviravolta política da cidade nos últimos anos. Ele era um ferrenho cabo eleitoral de Wagner Neves, cassado pela Câmara Municipal em julho de 2010. Barrado pela Lei da Ficha Limpa, Neves lançou a mulher, Vânia (PMDB), como candidata neste ano.<br />
<br />
Vânia foi derrotada pelo atual prefeito, Procopio Alencar (PDT). Coló não aceitou o que considerou uma traição, já que que Procopio era o vice de Neves e assumiu com a cassação do titular.<br />
<br />
Para o caçador, Procopio deveria ter apoiado Vânia nas eleições. A derrota dela nas urnas, dizem, foi a gota d'água para a vingança.<br />
<br />
CAÇADA PELAS RUAS<br />
<br />
O primeiro a morrer foi o gerente local da empresa de saneamento do governo da Bahia, Oderlange Pereira, 46. Ele levou um tiro na cabeça na entrada de um bar.<br />
<br />
Armado, Coló seguiu caminhando em direção à casa do prefeito. No caminho, encontrou a primeira-dama Jandira Alencar, 71. Atirou uma vez. Caída e ainda com vida, ela recebeu um segundo tiro.<br />
<br />
Procopio, o prefeito que também trabalhava como médico no município de 8.000 habitantes no pé da Chapada Diamantina, foi morto em seguida no seu consultório.<br />
<br />
Aos gritos, moradores assustados corriam para suas casas e trancavam as portas.<br />
<br />
"Eu ia de carro e dei de frente com ele. Pediu que descesse e falou: 'Já matei três'. Não sei como não me matou", afirmou Expedito da Silva, 39.<br />
<br />
"Parecia [o cangaceiro] Lampião", completou Silva, amigo de infância de Coló.<br />
<br />
Dono de um quiosque na cidade, Coló fez refém um mototaxista, subiu na garupa e pediu que o levasse na casa de dois irmãos apoiadores do prefeito, que, por sorte, não estavam em casa.<br />
<br />
Os únicos PMs do município apareceram. Um foi ferido com um tiro na perna. O outro correu para pedir reforço, que viria após 30 minutos.<br />
<br />
Coló foi morto no centro de Jussiape por policiais de cidades vizinhas. Antes, feriu na cabeça um desses PMs.<br />
<br />
"Ele vivia dizendo que ia fazer uma tragédia na cidade", afirmou o guarda municipal Jacinto dos Santos.<br />
<br />
O governador Jaques Wagner (PT) esteve ontem em Jussiape para o velório do prefeito e da primeira-dama. Até amanhã, Jussiape terá, emergencialmente, 25 homens da Polícia Militar. Depois, ficará com dez PMs fixos, anunciou ontem o governo do Estado.O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-90591676343366765172012-11-18T10:50:00.001-02:002012-11-18T10:52:07.234-02:00Um homem do nosso tempo: Carlos Ayres BrittoFolha - Quando foi sua iniciação no campo da meditação?<br />
Carlos Ayres Britto - De uns 20 anos para cá, tanto a meditação quanto o cardápio vegetariano. Eu tinha em torno de 50 anos, um pouco antes, até.<br />
<br />
Como o sr. se converteu?<br />
Eu recebi influências positivas, de, por exemplo, [Jiddu] Krishnamurti [1895-1986, guru indiano], Osho [Rajneesh, 1931-90, místico indiano], Eva Pierrakos [1915-79, médium austríaca], Eckhart Tolle [pseudônimo de Urich Leonard Tolle, escritor espiritualista nascido em 1948], autor do livro "O Poder do Agora", e a pessoa que mais me influenciou, Heráclito [de Éfeso, c. 540--c. 480 a.C., pré-socrático que elegeu o fogo e a permanente transformação como princípio da ordem universal].<br />
<br />
Depois, de uns 12 anos para cá, comecei a me interessar por física quântica, e ela me pareceu uma confirmação de tudo o que os espiritualistas afirmam. A física quântica, sobretudo os escritos de Dannah Zohar [especializada em aconselhamento espiritual e profissional]. Venho lendo os livros dessa mulher, uma americana que escreveu uma trilogia maravilhosa: "O Ser Quântico", "A Sociedade Quântica" e "QS -- Inteligência Espiritual". Também passei a me interessar muito por neurociência.<br />
<br />
O sr. tinha religião?<br />
Católica, só que, de 20 anos para cá, me tornei um espiritualista.<br />
<br />
Houve um momento de transformação?<br />
Foi meio gradativo. Fui abolindo carne, depois abolindo frango, depois aboli peixe.<br />
<br />
Há países que reconhecem em suas leis os direitos dos animais de forma mais abrangente. Podemos chegar a isso?<br />
É possível que haja uma consciência maior. Pelo menos nas técnicas de abate, mais humanizadas, isso já se observa hoje em dia. Por exemplo, vocês sabem que os frangos são criados sobre um tratamento hormonal intenso e sem possibilidade de dormir? Uma luz acesa em cima dele para ele ficar acordado, o frango de granja? Isso é de uma violência...<br />
<br />
O sr. condena a forma como o gado é abatido?<br />
Condeno. Tudo. Vou dizer uma coisa, é uma observação minha, não falei em lugar nenhum. Sou contemplativo. Não confundir atenção com contemplação. Atenção é um foco, uma centralização do sentido tão intensa, que o mais das vezes resvala para a tensão. A tensão está muito próxima da atenção. Eu sou um contemplativo, porque na contemplação você concilia atenção e descontração. Isso é fato. Quando você é contemplativo, você contempla essa água, o copo antes de beber. O toque da sua mão no cristal. Eu estou acordado, como quem está atento. Mas estou descontraído, como quem está dormindo.<br />
<br />
Então, contemplação é isso, é a conciliação entre a atenção e a distração. É impressionante. É um descarrego, um êxtase. Como vivo em estado contemplativo, eu observo coisas interessantíssimas. Uma dessas coisas é que nenhum pássaro carnívoro canta. Nunca vi ninguém dizer isso.<br />
<br />
Os pássaros carnívoros, corujas, águias, falcões, ou crocitam ou piam, ou grasnam, nenhum canta, como se a natureza dissesse: só tem direito de cantar se for herbívoro. E todos os animais herbívoros, mesmo os mastodontes, elefantes, por exemplo, nenhum agride. Eles não são ativos nem pró-ativos na agressão, são reativos. No olhar de um herbívoro não tem chispa, não tem estresse. Todos os carnívoros são estressados no olhar, todos.<br />
<br />
Assim se dá com o ser humano?<br />
Assim se dá com o ser humano.<br />
<br />
Por que houve tamanha tensão entre o relator Joaquim Barbosa e o revisor Ricardo Lewandowski?<br />
[Se responder] eu vou dar uma de psicólogo, prefiro ficar na objetividade. Eu quero deixar claro: fui presidente, mantive a taxa de cordialidade.<br />
<br />
O ego prevaleceu no julgamento?<br />
Não subscrevo suas palavras, de que foi o ego que deu as cartas.<br />
<br />
Não digo que pautou, mas que se manifestou em vários momentos.<br />
Os ministros do Supremo são seres humanos, suscetíveis a influências, a percalços existenciais. Ora sabemos administrar esses percalços com o consciente emocional no ponto, ora ele baixa um pouco de patamar.<br />
<br />
Mas não houve impasse, não houve pane. Tudo foi administrável. E não precisei, em nenhum momento, suspender a sessão para ver os ânimos refluírem. Quanto à questão de ego, ele prejudica a atuação não só de ministros do Supremo, mas de todo ser humano.<br />
<br />
Quando Sartre disse que o inferno é o outro, ele quis dizer que o outro, com sua diversidade, a sua mundividência, seu peculiar modo de conceber e praticar a vida, afeta o nosso ego. Então, podemos traduzir as palavras dele como "o inferno é outro" ou como "o inferno é o ego". Tenho dito para mim mesmo que, sem o eclipse do ego, ninguém se ilumina.<br />
<br />
Como o sr. definiria a atuação do Ministério Público e a do relator Joaquim Barbosa no julgamento?<br />
Acho que a história vai registrar que [Roberto] Gurgel e Joaquim Barbosa foram médicos-legistas na autópsia dos fatos delituosos. Eles tiveram merecimento extraordinário para reconstituir com fidedignidade os fatos em sua materialidade. E o "link" entre esses fatos e respectivos autores e partícipes.<br />
<br />
Eu só vejo por esse prisma técnico. Joaquim Barbosa, transido de dor [nas costas], um homem "baleado", em linguagem coloquial, a tantos meses, conseguiu levar a termo um processo com quase 600 mil páginas, 600 testemunhas, 40 réus no ponto de partida, sete crimes teoricamente graves e imbricados no mais das vezes.<br />
<br />
O sr. chegou a pensar em suspender as sessões?<br />
Pensei, houve um momento em que pensei.<br />
<br />
Chegamos a ter ofensas pessoais.<br />
Mas no limite palatável.<br />
<br />
Mas nunca houve um julgamento com clima tão tenso, às vezes com atritos tão fortes.<br />
É que esse julgamento é peculiaríssimo. Quando dizem que o Supremo está tomando decisões novas, eu digo que os fatos é que são novos, o imbricamento é que novo, o gigantismo da causa é que é novo, é inédito. O Supremo Tribunal Federal está produzindo decisões afeiçoadas ao ineditismo da causa.<br />
<br />
Advogados reclamam da introdução de novos conceitos como a teoria do domínio do fato [segundo a qual autor de um crime não é só quem o executa, mas também quem detém o poder de decidir e planejar a sua realização].<br />
Assim como o dançarino, que se disponibiliza de corpo e alma para a dança --chega o momento em que se funde com ela, e você já não sabe quem é o dançarino e quem é a dança, é uma coisa só--, o intérprete do dispositivo jurídico pode, também, numa relação de profunda identidade e empatia, se fundir com esse dispositivo. Aí você compõe uma unidade. Você é um com o dispositivo, e o dispositivo é um com você.<br />
<br />
E isso não é invencionice, decola de um juízo de Einstein, que em 1905, físico quântico que era, cunhou uma expressão célebre: "efeito do observador". Ele percebeu que o observador desencadeava reações no objeto observado.<br />
<br />
Ele disse que o sujeito cognoscente, em alguma medida, faz o objeto cognoscível, a depender do grau da intensidade interacional entre eles. Claro que quando você joga teoria quântica para a teoria jurídica, se expõe a uma crítica mordaz. O sujeito diz: "Mas isso não é ciência jurídica".<br />
<br />
O julgamento também é inédito pelo desfecho, com políticos condenados à prisão em regime fechado?<br />
Sabe por que está sendo inédito? Porque vocês esquecem, a sociedade esquece, [mas] nós, ministros, não esquecemos. Isso vem num crescendo, só que agora é no campo penal. No campo científico, liberamos o uso das células tronco embrionárias. No dos costumes, decidimos em prol da homoafetividade, da interrupção da gravidez de feto anencéfalo, no ético cortamos na própria carne proibindo o nepotismo no Judiciário.<br />
<br />
No campo político, afirmamos a Lei da Ficha Limpa. Isso é um crescendo, o Supremo vem tomando decisões que infletem sobre a cultura do povo brasileiro. E agora chegou o campo penal.<br />
<br />
O Brasil muda?<br />
Não se pode dizer que muda, sinaliza mudanças. Há um vislumbre de mudanças. Ninguém pode garantir nada. Agora, há uma sinalização. Mas a decisão não tem nada a ver com reverência à opinião pública, com submissão à opinião pública, com uma postura de cortejamento à opinião pública.<br />
<br />
Os políticos terão mais cuidado, com o risco de irem para a prisão?<br />
Se respondesse sim, estaria fazendo um corte abrupto, radical, de que essa decisão é, sim, um divisor de águas. Não quero ser categórico. Eu digo que essa decisão do Supremo vem num crescendo, que agora alcança o plano criminal. Sinaliza uma nova época, de mais qualidade na vida política.<br />
<br />
Eu não posso dizer que a impunidade está com os dias contados, eu estaria dourando a pílula, sendo ufanista, não posso dizer isso. Agora, eu diria que a impunidade sofreu um duro revés, um tranco, por efeito dessa decisão.<br />
<br />
Este é o julgamento de um partido?<br />
Na minha opinião, não tem nada a ver com julgamento de um partido. Não é o julgamento do PT, são réus, que alguns ocuparam cargos de direção no PT.<br />
<br />
O sr. foi um dos fundadores do PT?<br />
Sabe que não fui? Fazia conferências em aulas e congressos, em seminários, e advogava para coletividades. Só entrei mesmo no PT acho que em 1988, não fui fundador. Passei lá quase 18 anos.<br />
<br />
O sr. costuma dizer que é página virada, mas, olhando no que o PT se transformou ao chegar ao poder, isso de certa forma o entristece?<br />
É interessante. A resposta não seria "me entristece". Vou dizer por quê. Eu vejo a vida por um prisma muito do dinamismo, heracliticamente, meu filósofo preferido.<br />
<br />
Veja o que aconteceu: qual dos dois partidos que encarnaram a resistência ao regime de exceção [1964-85]? São, hoje, o PSDB e o PT. Esses dois, que encarnaram a resistência, foram premiados, chegaram ao poder. O primeiro, por intermédio de Fernando Henrique. O que aconteceu com esse partido, que teve origem no MDB, no PMDB? Foi perdendo um pouquinho do elã, do entusiasmo na sua militância de esquerda.<br />
<br />
Aí, a sociedade disse: está na hora do outro. Qual foi o outro que encarnou a resistência? O PT. Então, vejo por um prisma do exaurimento de fases. A fase ideológica do PSDB se exauriu, a do PT também se exauriu. Não de todo, não podemos ser injustos, porque o PT continua com quadros muito bons. Um desses quadros chegou a escrever um artigo a favor do Supremo, o Tarso Genro [governador do RS]. Vejo isso como parte de um processo histórico previsível.<br />
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Os dois partidos se contaminaram?<br />
Não vejo por esse prisma negativista. Eles perderam o que os gregos chamam de "Deus dentro da gente", entusiasmo. Aquele ímpeto depurador das instituições, aquela ânsia de voltar à democracia. Com o retorno à democracia, você chega à conclusão: foi mais fácil alcançar o objetivo do que preservá-lo. Às vezes você conquista uma mulher dos seus sonhos e não sabe manter o amor dela. Isso é um processo histórico.<br />
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Alguns ministros me disseram, reservadamente, terem recebido reclamações, cobranças, de que, indicados pelo ex-presidente Lula, acabaram traindo-o. O sr. acha que traiu Lula, que o indicou?<br />
Em nenhum momento me senti assim. Ninguém nunca me cobrou, menos ainda o presidente Lula, ele nunca se acercou de mim, se aproximou de mim para cobrar, fazer queixa. Até porque, vamos convir, cargo de ministro não é cargo de confiança. Não é.<br />
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Você não pode ser grato a quem nomeia com a toga. O modo de você, pelo contrário, de honrar a indicação é sendo independente, é transformar os pré-requisitos de investidura no cargo em requisitos de desempenho no cargo. Fui nomeado a partir de dois pré-requisitos, reputação ilibada e notável saber jurídico. Eu transformei isso, como me cabia, em requisitos de desempenho. Então, eu honrei minha nomeação.<br />
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Dos dez ministros no julgamento, sete foram nomeados por Lula ou por Dilma. Essa independência conta a favor deles? Os presidentes petistas erraram nas nomeações?<br />
Isso honra os nomeantes. A nossa postura técnica, independente, isenta, desassombrada, é uma postura que honra os nomeantes. Não só os nomeados.<br />
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Apesar de membros do PT afirmarem que o julgamento foi político?<br />
Sim, a despeito disso. Isso faz parte da liberdade de expressão. Esse tipo de queixa eu recebo como pura liberdade de expressão, aceito sem maiores queixas.<br />
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Como foram os três meses de julgamento? Sua rotina mudou?<br />
Não mudou em nada. Continuei meditando todos os dias, tocando violão quase todos os dias. Eu apenas diminuí muito, o que foi ruim para mim, minhas saídas de casa para me deleitar com espetáculos públicos, teatro, música.<br />
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O vegetarianismo é um passo para a iluminação?<br />
Não chegaria a isso, não. Agora, tudo tem uma lógica elementar. É claro que não vou explicar tudo pela lógica, porque o mundo do mistério existe e o mistério está fora da lógica convencional. Quando você olha para você e diz: "Não há ninguém dentro de mim, o meu corpo não está abrigando ninguém", quando você diz "eu sou um vazio", você enxota o ego.<br />
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Mas não há vácuo na natureza. O que acontece? O vácuo vai ser preenchido pelo universo, pelo Cosmos, pela existência, outros preferem dizer por Deus. Expulse de si o ego que o espaço deixado por ele vai ser instantaneamente ocupado pela existência. Aí você dialoga com a existência, isso é elementar. Aí você tem um vislumbre do eterno, do definitivo, mais clarividente, você abre os poros da lógica, do seu cartesianismo, você vê o direito por um prisma novo.<br />
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Agora, você paga um preço por isso. Qual é? Quando vê as coisas por um prisma totalmente novo, a sociedade não tem parâmetro para avaliar seu prisma diante do inédito para ela. Você é um antecipado, viu antes dela. O que ela faz, lhe desanca, lhe derruba, se não ela vai se sentir menor, inferiorizada, aturdida. O que ela faz, ela lhe desanca, você está errado, ou então você não é um cientista, você é um mistificador.<br />
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A sociedade não tem parâmetro para analisar os antecipados no tempo. Veja a lógica das coisas, o tempo só pode se guiar por quem anda adiante dele. São os espiritualistas, os artistas, porque eles não têm preconceitos, pré-interpretações, pré-compreensões.<br />
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Como definiria os sete meses no comando do Supremo?<br />
Uma honra muito grande, pela oportunidade de, a partir do Supremo, servir à sociedade brasileira. Só faz sentido exaltar a figura da presidência nessa perspectiva, do serviço da coletividade. Fora disso, não é viagem de alma, é viagem de ego.<br />
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E como resumiria os nove anos que passou no Supremo?<br />
Diria o seguinte: Em tudo o que faço, já não faço questão de ser reconhecido. O que faço questão é de me reconhecer. Fui eu mesmo nessas questões. Não perdi minha essência, minha mundividência.<br />
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Eu gravitei em torno dos valores que dão sentido, dão grandeza, dão propósito à existência individual e coletiva. Eu não perdi a viagem. A frase é essa.<br />
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O mensalão é o mais grave escândalo de corrupção do país, como disse o Procurador-Geral da República, Roberto Gurgel, analisando numa perspectiva histórica?<br />
Nunca fiz essa comparação, se esse é o mais grave ou não. Sabe por quê? Na medida que você diz, esse é o mais grave, você já resvalou para o campo da subjetividade, e eu me defendo da minha própria subjetividade, faço o possível para mim, porque as leis têm esse papel, livrar o juiz de si mesmo.<br />
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O sr. disse que PSDB e PT perderam o entusiasmo. Perder o entusiasmo significaria, neste caso, montar um esquema como o do mensalão?<br />
Não estou dizendo isso. Eu digo que os crimes eram graves, todos, mas a corrupção passiva, em mim, despertava uma reflexão até mais aprofundada no sentido de endurecimento das penas, pelo menos para início de discussão.<br />
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Por quê? Porque, se não bastasse nossa tradição ruim de eleitores de cabrestos, agora temos uma era de eleitos de cabrestos. Porque o eleito propinado se torna de cabresto.<br />
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E, nos meus votos, deixei claro, tentei mostrar que não era o Supremo que estava mudando de opinião, é que o caso é diferente, o caso é singularíssimo, a exigir do Supremo ineditismo conceitual, mas na exata medida da singularidade dos fatos. Fatos novos singulares pedem visualizações jurídicas novas também.<br />
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O resultado do julgamento significa um revés também para a política?<br />
A despeito do que disse, a utopia não pode se dissociar da política jamais. Porque, se não, você está dando um ducha fria na atividade política, e não se pode fazer isso. A atividade política é a mais importante atividade social.<br />
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Nesses nove anos de STF, o sr. já ficou emocionado com alguma causa a ponto de chorar?<br />
Muitas, muitas. Quando presidi aquela primeira audiência pública da história do Supremo, do Judiciário, sobre células-tronco embrionárias, subiu Mayana Zatz, aquela geneticista brilhante, autoridade mundial, e deu um depoimento sobre uma criança paraplégica, ou tetraplégica.<br />
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Ela disse que tratava essa criança de uns 7 ou 8 anos em vão. Usava todos os recursos da medicina convencional em vão. Um dia a menina mandou chamá-la e ela foi ao hospital. Eu desabei. Eu já desabei várias vezes, mas essa foi a mais forte.<br />
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A menina disse: "Doutora, eu mandei lhe chamar pelo seguinte. Por que a senhora não abre um buraco nas minhas costas e põe dentro desse buraco uma pilha, uma bateria, para que eu possa andar como minhas bonecas?".<br />
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Quando essa mulher disse isso, respondi para mim mesmo: Essa menina de sete anos acaba de fazer meu voto. Como é que eu posso ser contra? Como? Esse foi um dos momentos mais fortes.<br />
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O sr. acha que o Supremo deveria liberar o aborto para outros casos, além do de feto anencéfalo?<br />
É como a droga. Eu tenho abertura para a tese da descriminalização das drogas, mas não tenho opinião formada. Tenho simpatia, tendência, mas não tenho ponto de vista formado.<br />
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A mesma coisa do aborto, mas não tenho ponto de vista formado. Para mim, o grande problema é o traficante, é o tráfico. Isso é a causa de uma criminalidade mais do que sistemática, contínua ou metódica, é sistêmica. Disseminada e capilarizada.<br />
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O sr. avalia que o Estado está perdendo essa guerra contra o tráfico?<br />
Não, não está perdendo. Eu ainda acredito no poder preventivo e repressivo do Estado nessa matéria. E o melhor é a discussão. Da discussão nasce a luz.<br />
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Olha aí, mais um exemplo, quando dissemos que é legítima a passeata, o ato público, a reunião em praça pública para discutir a descriminalização da maconha. Aliás, o uso puro e simples já está descriminalizado.<br />
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Não ainda. A pena é mais leve. Só que gera distorção.<br />
Isso! O rico, quando é pego com maconha, é reputado como usuário. E o pobre, quando é preso com maconha, é tido como traficante, como pequeno traficante.<br />
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Por que isso, ministro?<br />
Pois é. Nossa cultura elitista. Então veja como o Supremo avançou a dizer que todo tema pode ser manifestado. Nenhuma lei, nem mesmo a Constituição, pode blindar a si mesma de qualquer discussão.<br />
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O que vai ser a vida do presidente do Supremo pós-Supremo?<br />
Olha, vai ser entusiasmada como tem sido aqui. Entusiasmo é Deus dentro da gente. Os gregos dizem isso. Eu ponho alegria e amor no que faço.<br />
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Algum desejo de entrar na carreira política, disputar eleição?<br />
Não. Nenhuma. Aprendi na vida o seguinte: chega uma época em que você, em tudo o que você faz, já não precisa ser reconhecido, precisa se reconhecer. É o caso. Eu me reconheço no que faço.<br />
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Aí você diz, mas por que você se reconhece? Aí eu digo: porque, sem nenhum esforço, não me vejo criando abismo, vácuo, distância entre o que eu prego e o que eu faço. Não me vejo, de jeito nenhum.<br />
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Fonte: Folha de SP<br />
http://www1.folha.uol.com.br/ilustrissima/1186307-ayres-britto-se-aposenta-e-colhe-os-louros-do-julgamento-do-mensalao.shtml<br />
O Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-417994270353848478.post-51045189132686453612012-11-18T09:04:00.001-02:002012-11-18T09:04:48.475-02:00Corrupção legalizada<br />
O STF já condenou vários políticos, dirigentes partidários e empresários por estarem envolvidos em desvio de recursos públicos, corrompendo políticos para que votem a favor de determinados interesses.<br />
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Todos os juízes, em suas argumentações, foram unânimes em condenar esse desvio, a corrupção e a compra de votos de parlamentares, atos altamente lesivos à sociedade brasileira. O desvio de dinheiro público retira recursos da saúde, da educação, dos serviços e investimentos públicos, tão necessários para a população, especialmente para os mais necessitados.<br />
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A compra de votos de parlamentares para que votem a favor dos interesses dos corruptores desvirtua e desmoraliza a democracia, abala a confiança e afasta gente de bem da política. Como o comportamento dos políticos, que deveriam ser os guardiões das leis e da ética, serve de referência para muita gente, a corrupção e o descrédito na política contaminam a sociedade.<br />
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Infelizmente, atos disfarçados de corrupção, desvio de dinheiro público e compra de votos são amplamente praticados no Brasil com respaldo das leis e das legislações.<br />
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O financiamento das campanhas é feito majoritariamente por empresas. Nas eleições de 2010, empresas doaram R$ 2,3 bilhões e foram responsáveis por 70% dos recursos para as campanhas dos deputados federais, 88% dos recursos dos senadores, 90% para os candidatos a governadores e 91% para os candidatos a presidente. Só 1% das empresas doadoras (479) fizeram 41% das doações e 10% das empresas foram responsáveis por 77% das doações.<br />
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A quase totalidade dessas empresas tem negócios com governos e dependem muito dos políticos para realizar suas atividades. O que quase todas estas empresas esperam dos eleitos? Contratos e legislações em seus benefícios.<br />
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Colocam dinheiro nas mãos dos políticos para que estes favoreçam seus negócios. É ou não é uma forma, absolutamente "legal", de corromper comprando votos (no caso de parlamentares) e decisões (no Executivo) para colocar dinheiro público a serviço de interesse privado?<br />
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Outra forma largamente usada para corromper e comprar votos com uso de dinheiro público é a prática dos parlamentares apresentarem emendas ao orçamento, buscando canalizar recursos públicos para projetos do seu interesse.<br />
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Um estudo da Confederação Nacional de Municípios, que prega o fim das emendas parlamentares e a distribuição destes recursos de forma equitativa, mostra que de 2003 a 2007 foram aprovados pelo Congresso R$ 65 bilhões de emendas e foram desembolsados apenas R$ 25 bilhões. O desembolso fica a critério exclusivo do Poder Executivo.<br />
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Todos temos notícias da liberação dos recursos de emendas na véspera de importantes votações para que parlamentares votem com o governo. É ou não é uma forma de corromper parlamentares e o uso do dinheiro público para comprar votos?<br />
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Está na hora da sociedade e de todos aqueles que, com razão, se indignam com a corrupção, com a compra de votos de parlamentares e com o desvio de dinheiro público se mobilizarem para acabar não só com a ilegalidade, mas também com a "legalidade" dessas práticas.<br />
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ODED GRAJEW, 68, empresário, é coordenador-geral da secretaria executiva da Rede Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos<br />
Fonte: Folha de SPO Xiquexiquensehttp://www.blogger.com/profile/03719586231591806535noreply@blogger.com0