quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O milagre do PT

Depois de dez anos, uma amiga voltou em janeiro para o interior da Paraíba, sua terra natal, e ficou espantada. Mesmo com a seca dura, a vida está mole, muito melhor do que quando emigrou para São Paulo em busca de emprego.

"Sérgio, fiquei impressionada. Melhorou muito. Tem fartura como nunca teve, mas quase ninguém trabalha. Todo mundo ganha bolsa do governo, bolsa família, bolsa da seca, bolsa da pesca (no interior)... Depois do almoço, a cidade inteira dorme."

Por muito menos, Padre Cícero tornou-se um santo na região. É o milagre do PT, que nem o mensalão nem o pibinho abalam ou abalarão.

Já são 70 milhões de brasileiros, de uma população total de quase 200 milhões, listados no Cadastro Único para receber assistência federal.

Dilma anunciou recentemente que o governo está buscando mais 2,5 milhões de brasileiros que ainda estariam fora do cadastro nacional de pobres e miseráveis, dentro de sua meta-slogan de erradicar a extrema pobreza no país.

A oposição grita irritada que a presidente manipula estatísticas sociais e está antecipando o ano eleitoral, como no evento de ontem marcando a primeira década da Era PT.

Mas o PT não está antecipando nada, pois está sempre em campanha. Trocou a revolução permanente pela eleição permanente. E a oposição parece amadora diante da eficiente máquina eleitoral petista.

Com a herança benigna de FHC, Lula, este herói macunaímico, fechou o consenso brasileiro em torno do capitalismo e da democracia, coisa que só ele seria capaz de fazer. E colocou o pobre no centro da política e da economia, coisa que só ele seria capaz de fazer.

A emergência do pobre é a emergência do mercado interno, que, mesmo com essa crise global, essa política econômica e esse ambiente de negócios, segura a economia do país.
A dificuldade está em dar o próximo salto.

Depois de exterminar a direita brasileira, o PT vai se gabar nas eleições de ter exterminado a pobreza extrema, segundo seus próprios e duvidosos critérios: é miserável todo brasileiro em família com renda per capita até R$ 70, um número congelado desde 2009, que deveria ser cerca de R$ 90 hoje para acompanhar a inflação.

"Só pode comemorar um feito dessa magnitude um país que teve a capacidade e a competência de construir a tecnologia social mais avançada do mundo", disse Dilma nesta semana em evento da campanha, quer dizer, do governo.

De fato, deve-se aplaudir o alívio mínimo que um país rico como o Brasil finalmente proporciona às massas excluídas. Mas depois da tecnologia social, precisamos da tecnologia econômica: estabelecer bases competitivas e estáveis para destravar o potencial brasileiro.

A louvada tecnologia social basta para garantir a hegemonia nacional petista. Mas não basta para o Brasil dar o próximo passo. Quem conseguir renda de R$ 71 por mês pode sair da faixa da extrema pobreza nas contas do governo e garantir discurso eleitoral a Dilma em 2014, mas seguirá tendo vida miserável e sem perspectivas.

O sertanejo paraibano que dorme tranquilo depois do almoço está muito melhor de vida hoje do que há dez anos, e isso é muito bom. Mas se ele não sair da rede para trabalhar, o progresso parou ali.




Sérgio Malbergier é jornalista. Foi editor dos cadernos "Dinheiro" (2004-2010) e "Mundo" (2000-2004), correspondente em Londres (1994) e enviado especial da Folha a países como Iraque, Israel e Venezuela, entre outros. Dirigiu dois curta-metragens, "A Árvore" (1986) e "Carô no Inferno" (1987). Escreve às quintas no site da Folha.

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