Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Política. Mostrar todas as postagens

sábado, 7 de abril de 2012

FHC e Lula, uni-vos

O Brasil inteiro conhece as divergências entre os ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Também acompanha o duelo que o PSDB e o PT travam pelo poder central desde 1994. Os dois ex-presidentes e seus partidos dominam a cena política das últimas duas décadas.

Pessoas respeitáveis criticam a polarização PT-PSDB. Veem uma imposição ao debate público de uma contenda mais paulista do que brasileira. Acreditam que essa disputa causa ao país mais perdas do que ganhos. É importante discordar desse ponto de vista.

Essa polarização garantiu a eleição para a Presidência dos melhores quadros da atual geração de políticos. Os benefícios parecem superiores aos eventuais malefícios, como, supostamente, asfixiar o surgimento de novos líderes.

Aliás, quais novos líderes? Para defender o quê? O conservadorismo de alguns e de algumas chega a dar medo.

De volta aos dois ex-presidentes, FHC e Lula são responsáveis por reformas estruturais que, combinadas, resultaram no período de maior prosperidade de nossa história: mais abertura econômica, inflação baixa, renda em alta, quase pleno emprego, políticas sociais eficientes e inclusão de milhões de pessoas num mercado consumidor antes acessível a uma elite.

É fato que o Brasil mudou para melhor, apesar do longo percurso que falta até melhorar mesmo a saúde, a educação e a segurança pública.

Os eleitores entendem isso. Não são ingênuos manipuláveis por marqueteiros, políticos e jornalistas. Sabem o que desejam. Deram duas vitórias presidenciais a FHC em primeiro turno porque acreditaram que o programa apresentado pelo tucano era o mais adequado ao Brasil. Alçaram Lula à Presidência após duas tentativas frustradas porque queriam mais.

Reelegeram o petista e ainda atenderam ao seu pedido para fazer a sucessora, Dilma Rousseff.

O PSDB foi trocado pelo PT porque os eleitores enxergaram nas propostas petistas o caminho mais rápido para dar cidadania a milhões de pessoas. A moderação política e econômica do PT até hoje não foi bem entendida pelo PSDB. Dominado por cores lacerdistas, o discurso dos candidatos tucanos nas três últimas eleições presidenciais refletiu essa incapacidade de compreensão.

O PT não aceita que o PSDB lhe dirija a mesma cobrança moralista que o petismo exigia de todos os outros partidos no passado. O pragmatismo excessivo de setores petistas levou o partido a abusar de práticas que antes condenava.

Criou-se, assim, um estado de guerra quase permanente entre tucanos e petistas. Há pequenas tréguas, como a bonita e educadora fotografia que Lula e FHC tiraram quando o tucano visitou o petista no hospital.

2012 é ano de eleição. O saudável embate será inevitável. Mas Lula e FHC, os verdadeiros líderes de seus partidos, poderiam tentar estabelecer uma convivência mais civilizada, que tirasse do debate público propostas que seriam mais bem defendidas pela TPF e pela antiga Arena. Os dois deveriam congelar suas divergências. Deveriam se unir em torno de suas convergências para acelerar reformas necessárias ao país.

O caso Demóstenes Torres, senador por Goiás que se desfiliou do Democratas, é um exemplo perfeito da fragilidade dessa hipócrita agenda udenoide. Seria excelente se FHC e Lula se aliassem para ajudar o Brasil a ter uma política mais de causas do que de casos.

Kennedy Alencar escreve na Folha.com às sextas. Na rádio CBN, é titular da coluna "A Política Como Ela É", no "Jornal da CBN", às 8h55 de terças e quintas. Na RedeTV!, apresenta o "É Notícia", programa dominical de entrevista, e o "Tema Quente", atração diária com debate sobre assuntos da atualidade.


quinta-feira, 14 de abril de 2011

Bastidores da política nacional.

Abaixo segue uma seção interessante do jornal Estado de Minas de hoje. Refere-se aos bastidores da política nacional. Ou melhor, fofocas políticas. Com elas, aprendemos como as coisas acontecem em Brasília. 
Em dia com a política :: Baptista Chagas de Almeida
Primeira derrota e com voto nominal
Resultado: 333 votos pela extensão dos incentivos a Minas e ao Espírito Santo contra 41. Números eloquentes, que Vaccarezza tenta disfarçar
Não foi por falta de insistência, mas a base aliada ao Palácio do Planalto não conseguiu se entender ontem. O líder do governo na Câmara dos Deputados, Cândido Vaccarezza (PT-SP), bem que tentou fingir que não era com ele, mas foi derrotado na votação da medida provisória que incluiu as áreas mineira e capixaba na zona de incentivos fiscais para a indústria automotiva, que antes só beneficiava o Norte, Nordeste e Centro-Oeste. É aquela MP que o ex-presidente Lula editou só para levar a fábrica da Fiat para Pernambuco. No fim, foi uma goleada.
A votação era para ter sido concluída na terça-feira, mas o governo impediu e forçou uma reunião extraordinária ontem de manhã. E ela entrou pela tarde adentro. Vaccarezza chegou a pedir um destaque para votação em separado da emenda. E com requerimento de votação nominal. Quando viu que o palácio iria perder no voto, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) retirou o pedido de votação nominal. A presidente em exercício da Câmara dos Deputados, Rose de Freitas (DEM-ES) chegou a dar a vitória aos mineiros. Só que o deputado José Guimarães (PT-CE) tinha feito outro pedido de votação em separado. Consultadas as notas taquigráficas, a proposta teve de ser mais uma vez submetida a voto.
A insistência rendeu a primeira derrota do governo em plenário. E de goleada. No bate-cabeça da base aliada ao Palácio do Planalto, até a liderança do PT liberou a bancada. Resultado: 333 votos pela extensão dos incentivos a Minas e ao Espírito Santo contra 41. Números eloquentes, que Vaccarezza tenta disfarçar. Só que não tem jeito. O governo tomou uma invertida. 
Líder independente
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, ao anunciar a criação do PSD, foi enfático ao dizer que o novo partido não será governista em relação ao Palácio do Planalto e nem fará oposição. Como a legenda, pelo menos da boca para fora dá sinais de que não vai se alinhar automaticamente ao governo, criou-se um vácuo na Câmara. Há os cargos de líderes da maioria e da minoria, que representa a oposição. Agora haverá o cargo de líder dos independentes? 
Curto-circuito
O PMDB mineiro continua de olho numa diretoria de Furnas, já que não conseguiu emplacar, como queria, o presidente da estatal. Só que enfrentou briga ruim de comprar. O novo comandante da estatal é Flávio Decat, muito ligado ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Não foi à toa que o senador Clésio Andrade (PR-MG) pregou a transferência da sede de Furnas para Minas Gerais. Ele quer ajudar o PMDB a conseguir uma diretoria para o ex-deputado Marcos Lima. 
Temer em ação
No exercício da Presidência da República, o vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) aproveita para tentar negociar uma proposta mais clara para a reforma política. Quer que os maiores partidos apresentem suas sugestões para os principais temas, em especial os mais polêmicos, em busca de chegar a um texto que seja possível de aprovar em plenário, tanto na Câmara dos Deputados, quanto no Senado. O medo é que apareçam mais de 2 mil emendas. Aí, não vota nunca. 
Bom argumento
Os deputados federais de Minas têm na ponta da língua um argumento para tentar emplacar mais cargos no segundo escalão do governo. Alegam que o estado chegou a ter quatro ministros no governo Lula: Patrus Ananias, de Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Walfrido Mares Guia, de Turismo e depois de Articulação Política; Hélio Costa, nas Comunicações; e Luiz Dulci, na chefia da Secretaria Geral da Presidência. Hoje, tem apenas Fernando Pimentel, no Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. 
Primeira mulher
O deputado Romário (PSB-RJ) chutou a bola no que viu e acertou no que não viu. Ao convidar o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), para assistir ao jogo entre Barcelona e Real Madrid, ele acabou abrindo a possibilidade para que a primeira mulher presidisse a Casa oficialmente. É Rose de Freitas (foto) que foi muito cumprimentada pelo fato inédito. Em tempo: Marco Maia não vai mais ao jogo. 
PINGA FOGO 
O PSD, o novo partido, deve enfraquecer a oposição ao governo Dilma Rousseff. E olha que ela já tinha ampla maioria. Não faz bem para a democracia. 
Aliás, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso lança, em junho, portal para discutir o papel da oposição. Como se vê, muito oportuno. 
A nomeação do ex-deputado federal Edmar Moreira (PR) para um cargo no governo de Minas virou piada na Assembleia Legislativa na terça-feira. “Essa não foi uma nomeação palaciana, foi casteliana”, disse o deputado Sávio Souza (PMDB). 
Já o deputado estadual João Leite (PSDB), que tentava discursar no plenário, foi interrompido por um pedido de verificação de quorum da oposição. Saiu pisando duro. “O Minas sem Censura está me censurando”. 
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) entrega defesa na Câmara. Como sempre, saiu atirando. Alegou se sentir “perseguido pór fascismo das minorias”. Eu, hein! 
Falta pouco para conseguir consenso para a votação do novo Código Ambiental, diz o relator Aldo Rebelo (PCdoB-SP). Resta saber que consenso. Entre os ruralistas ou entre eles e os ambientalistas?

sexta-feira, 18 de março de 2011

O Começo.

O início das coisas sempre é um pouco complicado. Não se sabe muito bem o que vai fazer, o que vai falar. Sempre existe o medo de dá errado, de como será compreendido e criticado. É angustia, frio na barriga, garganta entalada. Mas será que não é isso que dá o prazer de começar? Não se sabe ao certo, mas achamos que sim. Então vamos lá. E seja o que deus quiser. "Alea jacta est", já disse um romano.

O Xiquexiquense é apaixonado por política, o que não se confunde com politicagem. Mas esse blog não se resumirá a isso. Iremos tratar de tudo o que se relaciona com as ciências sociais. Caso goste de um bom texto e de uma boa reflexão, pode entrar.

Como boas vindas, segue abaixo uma reflexão muito interessante sobre a relação entre política e verdade. O texto foi retirado de uma prova de concurso da Fundação Carlos Chagas. Tem pois suas adaptações. A íntegra é encontrada aqui: http://hannaharendt.org.br/2009/09/14/sobre-a-mentira/


SOBRE A MENTIRA.
(Celso Lafer. O Estado de S. Paulo, A2, 20 de julho de 2008, com adaptações)

Não é usual tratar da política na perspectiva da afirmação da verdade. Platão afirmou, na República, que a verdade merece ser estimada sobre todas as coisas, mas ressalvou que há circunstâncias em que a mentira pode ser útil, e não odiosa. Na política, a derrogação da verdade pela aceitação da mentira muito deve à clássica tradição do realismo que identifica no predomínio do conflito o cerne dos fatos políticos. Esta tradição trabalha a ação política como uma ação estratégica que requer, sem idealismos, uma praxiologia, vendo na realidade resistência e no poder, hostilidade.

Neste contexto, política é guerra e, como diz o provérbio, "em tempos de guerra, mentiras por mar, mentiras por terra". Recorrendo a metáforas do reino animal, Maquiavel aponta que o príncipe precisa ter, ao mesmo tempo, no exercício realista do poder, a força do leão e a astúcia ardilosa da raposa. Raposa, leão, assim como camaleão, serpente, polvo – metáforas que frequentemente são utilizadas na descrição de políticos – não podem, com propriedade, caracterizar o ser humano moral que obedece aos consagrados preceitos do "não matar" e do "não mentir", como lembra Norberto Bobbio.

No plano político, o realismo da força torna límpida, numa disputa, a bélica contraposição amigo-inimigo. Já o realismo da fraude é mais sutil, pois opera confundindo e aumentando a opacidade e a incerteza na arena política, como acentua Pier Paolo Portinaro. Maquiavel salienta que a fraude é mais importante do que a força para assegurar o poder e consolidá-lo. É por esse motivo que a simulação, o segredo e a mentira são temas da doutrina da razão de Estado e a veracidade não é usualmente considerada uma virtude característica de governantes.

Sustentar a simulação e a mentira como expedientes usuais na arena política é desconhecer a importância estratégica que a confiança desempenha na pluralidade da interação humana democrática. A confiança requer a boa-fé que pressupõe a veracidade. O Talmude equipara a mentira à pior forma de roubo: "Existem sete classes de ladrões e a primeira é a daqueles que roubam a mente de seus semelhantes através de palavras mentirosas." O padre Antônio Vieira afirmou que a verdade é filha da justiça, porque a justiça dá a cada um o que é seu, ao contrário da mentira, porque esta "ou vos tira o que tendes ou vos dá o que não tendes". Montaigne observou que somente pela palavra é que somos homens e nos entendemos. Por isso mentir é um vício maldito. Impede o entendimento.