O Brasil inteiro conhece as divergências entre os ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Também acompanha o duelo que o PSDB e o PT travam pelo poder central desde 1994. Os dois ex-presidentes e seus partidos dominam a cena política das últimas duas décadas.
Pessoas respeitáveis criticam a polarização PT-PSDB. Veem uma imposição ao debate público de uma contenda mais paulista do que brasileira. Acreditam que essa disputa causa ao país mais perdas do que ganhos. É importante discordar desse ponto de vista.
Essa polarização garantiu a eleição para a Presidência dos melhores quadros da atual geração de políticos. Os benefícios parecem superiores aos eventuais malefícios, como, supostamente, asfixiar o surgimento de novos líderes.
Aliás, quais novos líderes? Para defender o quê? O conservadorismo de alguns e de algumas chega a dar medo.
De volta aos dois ex-presidentes, FHC e Lula são responsáveis por reformas estruturais que, combinadas, resultaram no período de maior prosperidade de nossa história: mais abertura econômica, inflação baixa, renda em alta, quase pleno emprego, políticas sociais eficientes e inclusão de milhões de pessoas num mercado consumidor antes acessível a uma elite.
É fato que o Brasil mudou para melhor, apesar do longo percurso que falta até melhorar mesmo a saúde, a educação e a segurança pública.
Os eleitores entendem isso. Não são ingênuos manipuláveis por marqueteiros, políticos e jornalistas. Sabem o que desejam. Deram duas vitórias presidenciais a FHC em primeiro turno porque acreditaram que o programa apresentado pelo tucano era o mais adequado ao Brasil. Alçaram Lula à Presidência após duas tentativas frustradas porque queriam mais.
Reelegeram o petista e ainda atenderam ao seu pedido para fazer a sucessora, Dilma Rousseff.
O PSDB foi trocado pelo PT porque os eleitores enxergaram nas propostas petistas o caminho mais rápido para dar cidadania a milhões de pessoas. A moderação política e econômica do PT até hoje não foi bem entendida pelo PSDB. Dominado por cores lacerdistas, o discurso dos candidatos tucanos nas três últimas eleições presidenciais refletiu essa incapacidade de compreensão.
O PT não aceita que o PSDB lhe dirija a mesma cobrança moralista que o petismo exigia de todos os outros partidos no passado. O pragmatismo excessivo de setores petistas levou o partido a abusar de práticas que antes condenava.
Criou-se, assim, um estado de guerra quase permanente entre tucanos e petistas. Há pequenas tréguas, como a bonita e educadora fotografia que Lula e FHC tiraram quando o tucano visitou o petista no hospital.
2012 é ano de eleição. O saudável embate será inevitável. Mas Lula e FHC, os verdadeiros líderes de seus partidos, poderiam tentar estabelecer uma convivência mais civilizada, que tirasse do debate público propostas que seriam mais bem defendidas pela TPF e pela antiga Arena. Os dois deveriam congelar suas divergências. Deveriam se unir em torno de suas convergências para acelerar reformas necessárias ao país.
O caso Demóstenes Torres, senador por Goiás que se desfiliou do Democratas, é um exemplo perfeito da fragilidade dessa hipócrita agenda udenoide. Seria excelente se FHC e Lula se aliassem para ajudar o Brasil a ter uma política mais de causas do que de casos.
Kennedy Alencar escreve na Folha.com às sextas. Na rádio CBN, é titular da coluna "A Política Como Ela É", no "Jornal da CBN", às 8h55 de terças e quintas. Na RedeTV!, apresenta o "É Notícia", programa dominical de entrevista, e o "Tema Quente", atração diária com debate sobre assuntos da atualidade.
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