Candidatos de oposição aos atuais prefeitos foram eleitos em 50 das 85 cidades mais importantes do país nas eleições deste ano.
O número representa um aumento de 56% em relação ao desempenho das oposições municipais na campanha anterior, em 2008.
Naquele ano, o panorama foi o inverso: os situacionistas ganharam em 53 cidades, e os oposicionistas, em 32.
Esse conjunto de prefeituras inclui as capitais e os municípios com mais de 200 mil eleitores.
Um dos fatores que ajudaram os governistas quatro anos atrás foi o alto número de tentativas de reeleição.
À época, 41 prefeitos desses municípios foram reeleitos --outros sete tentaram.
Agora, houve apenas 22 reeleições, e o número de prefeitos derrotados nas urnas dobrou: passou para 16.
Para Ricardo Ismael, cientista político da PUC-RJ, houve, em 2012, mais competitividade nas eleições com uma maior participação de partidos menores, o que dificultou a situação para aqueles que tentavam a reeleição.
"A ausência de adversários favorece quem está na administração", afirma Ismael.
Ele cita o exemplo de Eduardo Paes (PMDB), reeleito em primeiro turno no Rio com 20 partidos na coligação.
A tendência, segundo Ismael, é que os partidos grandes tenham de negociar mais.
Nas 26 capitais estaduais, os índices são ainda mais chamativos: foram seis vitórias oposicionistas em 2008 e 20 nas eleições deste ano.
O fenômeno não tem relação direta com o posicionamento desses candidatos com o governo Dilma Rousseff.
Há petistas e tucanos tanto entre perdedores como entre os vencedores. Pelo país, grupos políticos instalados há décadas no poder local sofreram reveses neste mês.
Em Curitiba, por exemplo, o prefeito Luciano Ducci (PSB) não chegou nem ao segundo turno. A cidade elegeu Gustavo Fruet (PDT), encerrando um domínio de 24 anos de uma corrente que incluiu prefeitos de PMDB, o antigo PFL (hoje DEM) e PSDB.
Em Campo Grande (MS), o PMDB vai deixar a prefeitura após 20 anos. Em Diadema (SP), o PT tentou reeleger o atual prefeito, mas perdeu para o PV. Petistas comandaram a prefeitura por 30 anos, com exceção de 1996 a 1999.
ESTAGNAÇÃO
Uma outra explicação para o fenômeno pode estar na economia, com a redução de poder de investimento dos prefeitos: a eleição de 2008 ocorreu quando surgiam os primeiros sinais da crise financeira fora do Brasil.
De 2005 a 2008, período de duração do mandato anterior aos dos atuais prefeitos, o país cresceu em média 4,6%.
Nos últimos tempos, o crescimento desacelerou. A média destes quatro anos deve ficar abaixo dos 3% ao ano.
O professor José Paulo Martins, do departamento de Ciências Políticas da UniRio, atribui os números à dificuldade de renovação que os grandes partidos enfrentam.
"Isso pode explicar o bom desempenho do PSB e, em menor escala, do PSOL."
O PSB venceu em 11 das 85 cidades, sendo em nove delas como oposição. A direção da sigla diz que decidiu "ousar" e lançar candidatos próprios em cidades onde apoiava outras legendas.
A estratégia deu certo em duas das maiores metrópoles do país: Fortaleza e Recife, onde rompeu com o PT e vai assumir as prefeituras.
"Ninguém está como dono, com uma vitória esmagadora. É importante porque garantiu o pluralismo", afirma Carlos Siqueira, primeiro-secretário nacional do PSB.
Para o secretário-geral do PSDB, Rodrigo de Castro, a renovação também explica os resultados deste ano.
Ele diz que o "recado" das urnas é que "aquela história de que era muito fácil se reeleger não existe mais". "Onde a gente ia a população pedia caras novas."
No grupo dessas capitais e de maiores municípios moram o equivalente a 37% dos eleitores do país.
Fonte: Folha de SP
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