As duas vêm da metade norte do país e fazem música com forte apelo
popular. Esbanjam energia no palco, usam roupas provocantes e estão
sempre sorridentes. No entanto, mesmo com tantas semelhanças, neste
momento estão a anos-luz uma da outra.
Bem-vindos à versão brasileira da guerra cultural. O termo foi cunhado
nos Estados Unidos nos anos 80 e descreve a divisão da sociedade em
relação a assuntos como aborto, contracepção, drogas e homossexualidade
(cultura aqui tem um sentido mais amplo, não se limitando apenas à arte e
à educação).
De um lado, conservadores brandindo Bíblias e anunciando o fim dos
tempos; do outro, liberais (no sentido americano) pregando o "liberou
geral". A guerra cultural foi usada como arma pelos dois lados, e serviu
para definir o resultado de inúmeras eleições por lá.
Mas não aqui no Brasil. Apesar das enormes diferenças sociais, aqui
sempre nos orgulhamos de sermos um povo só. Além do mais, temas
polêmicos eram rapidamente descartados do debate político: afinal, temos
mais com que nos preocupar, como a miséria, a falta de infraestrutura e
a corrupção.
Isto mudou de uns anos para cá. De uma hora para outra, liberação do
aborto e aprovação do casamento gay se tornaram assuntos de campanha
eleitoral. E o Brasil se revelou um país muito mais dividido do que se
supunha antes.
A guerra cultural se instalou entre nós, e agora atinge também a cultura no sentido estrito.
O fenômeno se excarcerou esta semana, depois da entrevista
de Joelma à revista "Época". Não foi a primeira vez que a cantora
soltou declarações homofóbicas, só para em seguida dizer que ama os gays
e não tem nada contra eles.
Claro que tem. Joelma, como muitos brasileiros, acha que homofobia é
pregar a violência contra os homossexuais, e mais nada. Basta o sujeito
não sair de lâmpada na mão pelas ruas para não ser considerado
preconceituoso: o resto é só "liberdade de expressão".
As posições de Joelma causaram um maremoto nas redes sociais. Tão forte
que a cantora precisou gravar um vídeo tentando se explicar, mas só
conseguiu se enrolar ainda mais.
E então surgiu a notícia de que o filme sobre a banda Calypso estaria
cancelado, devido à dificuldade em conseguir patrocínio. O diretor nega,
mas o fato é que o projeto já não estava conseguindo captar a grana
necessária antes desse bafafá. Agora, então, duvido que algum grande
anunciante queira associar sua marca ao nome da banda.
A poeira ainda estava no ar quando Daniela Mercury publicou
as fotos com sua esposa no Instagram. Nova comoção na internet, com
muita gente aplaudindo a coragem da cantora baiana e outros tanto
vaiando-a.
Daniela vem se juntar a um time que já conta com Fernanda Montenegro,
Chico Buarque, Xuxa, Caetano Veloso, Wagner Moura e muitos outros.
Enquanto isto, nenhum nome de peso saiu em defesa de Joelma.
Essa briga está só começando, e muita água ainda vai rolar. Se nos
mirarmos no exemplo dos Estados Unidos, temos alguns anos de guerra
cultural pela frente. Que, por lá, já está praticamente decidida:
adivinha quem venceu?
Fonte: Folha de São Paulo - Coluna de Tony Goes
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