quarta-feira, 30 de março de 2011

O exemplar José Alencar.

Ontem, o seu Deus o chamou, porque como ele mesmo disse não precisaria do câncer para morrer. José Alencar foi exemplo de político honesto, habilidoso e de homem com coragem para enfrentar as dificuldades impostas pela jornada da vida. No fundo, viver é exatamente isso: um "eterno" enfrentamento de dificuldades. A busca incansável pela solução dos problemas diários, dos mais simples aos mais complexos. Seguem, enfim, o editorial extraído do jornal Correio Braziliense e o link para o áudio das palavras lúcidas de Arnaldo Jabor com que fala que José Alencar humilhou a morte durante 14 anos. Essa foi a mais pura verdade. Parabéns Alencar.

http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/ARNALDO-JABOR.htm

Visão do Correio :: Uma vida exemplar
José Alencar certamente seguirá vivo na memória de brasileiros de todos os cantos do país. O menino que aos 14 anos deixou a casa dos pais para trabalhar em uma loja de armarinhos terminou por construir um império industrial, eleger-se senador e, por dois mandatos consecutivos, exercer a Vice-Presidência da República. Deixa as marcas da simplicidade, da força, da perseverança, da serenidade, da integridade e do patriotismo.

Símbolo do capital numa surpreendente aliança com o trabalho (representado pelo sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva), o vice-presidente construiu identidade forte com o presidente. Em expressas manifestações de confiança mútua, ambos fizeram aflorar as afinidades. Mas a amizade não abalou o foco nem a coerência do empresário.

Desenvolvimentista, Alencar jamais se furtou de criticar franca e abertamente a política monetária do governo que integrava. Não viveu para ver a nação praticar taxas de juros civilizadas. Mas a obrigação de honrar a cruzada que deflagrou, na qual parecia ser a própria encarnação do slogan governista “sou brasileiro e não desisto nunca”, fica como herança aos sucessores.

Fora essa batalha política, que não pôde levar a cabo, José Alencar travou uma outra, pessoal, feroz, enfrentando o câncer por mais de 13 anos, ao longo dos quais manteve a altivez e até o bom humor, sem temer a morte. Guerreiro, passou a merecer cada vez mais respeito e solidariedade do brasileiro. Encarou 17 cirurgias, hemodiálises, transfusões de sangue, insuficiências renais, enterites (inflamação intestinal), infecções decorrentes de baixa no sistema imunológico, infarto agudo do miocárdio, cateterismos, quimioterapias. Enquanto isso, era estimulado pelo povo com orações, água benta, garrafadas, ervas medicinais, sugestões de tratamentos alternativos, cartas, e-mails.

Em 79 anos, esse filho de Muriaé, cidade da Zona da Mata de Minas Gerais, 11º de 15 filhos, colecionou sucessos como quem ensina o empreendedorismo. Ao renunciar ao mandato de senador, em dezembro de 2002, para compôr a chapa com Lula na disputa presidencial, ele começou seu discurso citando poema de Gilberto Freyre, de 1926: “Eu ouço as vozes,/ vejo as cores, / eu sinto os passos/ de outro Brasil que vem aí:/ mais tropical, mais fraternal, mais brasileiro. / O mapa desse Brasil, em vez das cores dos estados, / terá as cores das produções e dos trabalhos...”

Se o Brasil ideal continua longe do Brasil real, é igualmente verdade que José Alencar contribuiu para diminuir a distância entre os dois. A recuperação do trabalho e da renda, posta em marcha nos últimos oito anos, é passo imprescindível nesse sentido. Outros são a redução dos juros a níveis de Primeiro Mundo, a preservação da estabilidade econômica, ora ameaçada pelo recrudescimento da inflação, e a garantia de ambiente de negócios saudável. Avanços que somente serão alcançados com qualidades como perseverança, integridade, patriotismo.

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