segunda-feira, 16 de maio de 2011

Modernização vs. privatização do Estado.

Editoriais de alguns dos principais jornais do país tratam hoje do órgão criado pela presidenta Dilma para desenvolver políticas de modernização da gestão pública. A Câmara de políticas de gestão, desempenho e competitividade será composta por empresários brasileiros de renome e ministros mais destacados do atual governo. As últimas medidas de tentativa de modernização do aparelho estatal deram-se no governo FHC, quando se entendeu que a melhor forma para isso seria transferindo atividades do Estado para a iniciativa privada. A política agora é inversa. Dilma traz a experiência privada para tenta modernizar os órgãos do Estado. O Xiquexiquense pensa ser essa a medida mais acertada, uma vez que reconhece o mérito dos empresários de serem melhores administradores, mas não deixa o usuário do serviço público vulnerável à filosofia do lucro, própria da iniciativa privada. Seguem nessa ordem os editoriais do Correio Braziliense e do Zero Hora.
Modernização do Estado e o setor privado
Sabe-se que a democracia não é fórmula estática de garantir o bem comum e assegurar o exercício pleno das liberdades individuais e coletivas. Está em constante evolução para acompanhar as mudanças na ordem social, política e econômica e e dar-lhes consequências nos programas governamentais. Com propriedade, diz-se no universo acadêmico que o regime de franquias democráticas jamais alcança a plenitude porque sempre pode ser aperfeiçoado. No Brasil, só em parte o conceito é verdadeiro, uma vez que o Estado, desde sempre, é espécie de mamute, pesado e lerdo, esclerosado e míope.
Pois, agora, se levanta contra o cenário insólito a política de modernização da máquina estatal recém-anunciada pela presidente da República, Dilma Rousseff. Para provê-la das ferramentas concretas de ação, a chefe do governo criou a Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade. Além dos ministros da Casa Civil, da Fazenda, do Planejamento e do Desenvolvimento, Dilma empossou no novo órgão quatro dos mais bem-sucedidos empresários brasileiros: Abílio Diniz (do Grupo Pão de Açúcar), Jorge Gerdau (do Grupo Gerdau), Antonio Maciel Neto (da Suzano Papel) e Henri Phillipe (presidente da Petrobras no governo Fernando Henrique). Chamou-os de “craques” e “campeões”. 
São extensas as iniciativas cometidas à Câmara. Entre tantas, destacam-se a redução da ineficiência e dos desperdícios da administração, a melhoria dos gastos públicos, maior sinergia entre governo e setor privado, mais produvidade dos recursos humanos, rompimento dos gargalos burocráticos. Em suma, fazer do Brasil um “Estado meritocrático e profissional”, conforme expressão usada pela presidente. Há aí, também, resgate de promessa da então candidata Dilma de que o governo precisa “fazer mais com menos”. 
Ao reconhecer que o Estado brasileiro carece de agilidade, é inapto e movido por histórica alienação, Dilma deixa patente que, na atual conjuntura, o maior problema é ousar e avançar. Daí assegurou que a inflação será contida e mantido o potencial de desenvolvimento do país. “Temos que garantir que os 190 milhões de brasileiros sejam, de fato, grandes consumidores. Isso significa renda, emprego de qualidade, agregação de valores e redução da miséria”, disse. 
É da parceria institucional com os representantes mais bem qualificados da iniciativa privada que deverão aflorar os métodos, as disciplinas e as soluções tecnológicas para reformar o modelo operacional do Estado. Assim, também, a pedagogia aplicável ao investimento racional dos recursos e os meios para a conquista de produtividade crescente. O projeto é ambicioso. Mas gera expectativas bastante favoráveis à coleta de efeitos com alguma rapidez. Pelo menos, quanto a mudar a cabeça dos gestores no tocante à nova realidade em marcha.

A eficiência como antídoto
É emblemática a nomeação do empresário Jorge Gerdau Johannpeter para a presidência da Câmara de Políticas de Gestão, Desempenho e Competitividade, órgão consultivo da Presidência da República, que contará também com outros nomes ilustres do mundo corporativo e terá como atribuição o aprimoramento da gestão pública. Ao convocar lideranças reconhecidas da iniciativa privada para assessorá-la, a presidente Dilma Rousseff não apenas ignora antigos ranços ideológicos das alas mais radicais do partido do governo como também sinaliza para um saudável pragmatismo. Se essas pessoas podem contribuir para o desenvolvimento do país, o que menos deve importar é o fato de, em algum momento, terem se posicionado criticamente em relação ao governo.
O que realmente deve contar é a experiência comprovada desses gestores no comando de organizações que prosperaram pela eficiência. Jorge Gerdau leva para a nova função o conhecimento adquirido no Programa Gaúcho de Qualidade e Produtividade, referência internacional no uso e na disseminação de ferramentas de qualidade na gestão. O PGQP soma mais de 1,3 milhão de pessoas envolvidas, tem mais de 9 mil organizações associadas e uma rede de comitês operando na capacitação de profissionais tanto da área privada quanto do setor público.
Pelo que se sabe, o ponto de partida da Câmara de Políticas de Gestão de Desempenho e Competitividade será avaliar e diagnosticar o funcionamento de órgãos como a Funasa, a Anvisa, a rede hospitalar do Rio de Janeiro e o sistema carcerário nacional. São áreas que carecem de gestão séria e eficiente, assim como outras da administração pública que nem sempre devolvem ao contribuinte serviços compatíveis com os seus custos. A implantação de mecanismos de controle dos gastos públicos e a adoção de diretrizes de qualidade tendem a funcionar como antídotos eficientes de prevenção do desperdício e até mesmo da corrupção. Mas é imprescindível que as políticas públicas sugeridas tenham executores qualificados.

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