terça-feira, 3 de maio de 2011

Osama e o fim da década.

Se o século XXI começou em 11 de setembro de 2001, como julgam os historiadores, e não em 1º de janeiro de 2000, como queriam os geográfos, é forçoso reconher que a primeira década do milênio terminou em 2 de maio de 2011, ao invés de 31 de dezembro de 2009 como alguns esperavam. 

Realmente, tanto o atentado às Torres Gêmeas nos Estados Unidos da América quanto o assassinato do seu mentor, Osama bin Laden, no Paquistão, marcam um fase da história que deixou e continuará deixando muitas consequências para o dia-a-dia dos indivíduos, em qualquer lugar do mundo em que se encontrem.

Portanto, enganam-se nós os xiquexiquense pensarmos que esse fato histórico pouco interfere em nossas vidas. Só para começar, os preços da gasolina e do álcool com que abastecemos nossos carros e motos não são mais os mesmos desde 11 de setembro de 2001. Depois, os juros do crediário em lojas e bancos também foram afetados, assim como a fiscalização sobre os passageiros, seja os de ônibus ou avião.

Mas, uma das consequências mais significativas foi no imaginário coletivo: o medo de estar em um lugar que possa ser alvo de um atentado terrorista. A imagem das duas Torres desambado ficará na cabeça de todos que a assistiram por muito tempo e sempre trará reflexões sobre o número de pessoas que morreram ali e sobre a possibilidade de que o evento venha a acontecer em outro lugar e momento.

E é justamente por conta desse medo coletivo que ficou que a maioria das análises sobre o assassinato de bin Laden tratam do assunto com muita cautela, na medida em que ele deixou muitos admiradores/seguidores, às vezes dispostos a vingar sua morte. 

Seguem abaixo dois editoriais, o do Folha de São Paulo e o do Estado de Minas.

FOLHA DE SP: Euforia e cautela
Morte de Osama bin Laden aumenta prestígio interno de Barack Obama, mas efeitos sobre ações terroristas contra países ocidentais são incertos
Em operação de inteligência que durou oito meses, destacada da guerra travada há quase dez anos no vizinho Afeganistão, forças especiais americanas localizaram e mataram o terrorista saudita Osama bin Laden em fortaleza a cerca de 50 km de Islamabad, capital do Paquistão.
A eliminação do mentor do 11 de Setembro -com quase 3.000 vítimas, o mais letal ataque estrangeiro nos EUA- foi comemorada no país com constrangedora euforia, a quatro meses do décimo aniversário dos atentados. O desfecho deixa, contudo, mais dúvidas que certezas sobre consequências para o terrorismo de inspiração islâmica fundamentalista e para a política exterior norte-americana.
Por ora, é mais fácil constatar o efeito, nos EUA, sobre o prestígio político de Barack Obama, que acaba de lançar sua candidatura à reeleição em 2012. Com aprovação prejudicada pela recuperação lenta da economia, o presidente vinha sendo encurralado por uma oposição radicalizada, que no ano passado conquistou a maioria da Câmara dos Deputados.
Com a estagnação no front afegão e a incerteza trazida pelas rebeliões árabes, Obama era acusado de ser um comandante em chefe titubeante e fraco. Ao anunciar a morte de Bin Laden, ele reivindicou o sucesso da persistência na busca do terrorista e conclamou à volta do "sentido de unidade" que tomou o país dez anos atrás.
Obama foi sóbrio o suficiente, porém, para não declarar vitória final em seu pronunciamento.
Osama bin Laden ainda era o "líder espiritual" da Al Qaeda, rede terrorista que, invocando uma vaga unificação islâmica na guerra aos "infiéis", quis capitalizar a frustração de povos muçulmanos contra governos autoritários e corruptos, submetidos ao domínio de países ocidentais.
A Al Qaeda, no entanto, há anos se tornou uma espécie de franquia, em que filiais no Oriente Médio, no norte da África, na Ásia e no Cáucaso operam com independência relativa. Com o cerco a células terroristas no Ocidente, depois dos atentados de Madri (2004, 192 mortos) e Londres (2005, 52 mortos), ataques de impacto decrescente se concentraram em países muçulmanos.
Essa é considerada uma das razões para o declínio do apelo do discurso fundamentalista, que esteve ao largo das revoltas atuais de populações árabes.
É difícil, porém, predizer que a morte de Bin Laden vá acarretar redução do terrorismo. Na realidade, países ocidentais se preparam para um recrudescimento inicial. Mas ela repõe duas dúvidas sobre a "guerra ao terror".
A primeira diz respeito a intervenções militares e ocupações prolongadas. A derrubada do Taleban no Afeganistão retirou apoio importante para a Al Qaeda, mas foi uma ação focalizada que levou à morte do terrorista.
A segunda se refere à relação entre os EUA e o Paquistão. A planejada retirada de forças americanas da região deixaria aberto o flanco representado pela proximidade do serviço secreto paquistanês com grupos terroristas.

ESTADO DE MINAS: Hora é de prudência
A morte de Osama bin Laden, principal líder da organização terrorista Al-Qaeda, à qual se atribui a autoria dos atentados que, em 11 de setembro de 2001, destruíram as duas torres mais altas de Nova York e atingiram partes do Pentágono, em Washington, encerra um capítulo, mas não a luta contra o terrorismo. É certamente difícil pedir ao governo e a boa parte do povo norte-americano que comemorem com moderação o sucesso da caçada ao terrorista, que, até domingo, consideravam seu inimigo número um. Sem dúvida se trata de uma vitória da estratégia adotada pelo presidente Barack Obama, que, tão logo tomou posse, decidiu retirar suas tropas do Iraque e concentrar esforços na busca de Bin Laden e no desbaratamento da Al-Qaeda. O presidente sabia que o povo da maior potência militar e econômica do mundo fizera disso uma prioridade ditada pelo orgulho nacional, ferido e humilhado pela ousadia dos atentados e pelas imagens chocantes dos aviões sendo atirados contra os imponentes prédios do World Trade Center.
É, portanto, natural que Barack Obama, com a popularidade em baixa e enfrentando o bloqueio das bancadas republicanas no Congresso, capitalize o máximo que puder do episódio. Afinal, Bin Laden foi um dos fracassos de seu antecessor e adversário político George W. Bush. Mesmo assim, o excesso, tão comum à diplomacia americana, pode custar caro demais. Fez bem o presidente ao afirmar no discurso em que anunciou à nação a morte de Bin Laden que todos deveriam permanecer unidos, já que aquela guerra “à qual fomos levados” ainda não terminou. De fato, o mundo vive fase delicada no campo econômico e, no caso dos países árabes, o clima anda tenso sob a pressão de uma onda popular de revoltas contra os regimes totalitários. Nesse ambiente de tensão, é muito fácil associar os problemas políticos daqueles povos a uma suposta ação dos interesses norte-americanos no petróleo da região. Tampouco será difícil incutir nas mentes menos abertas e nos espíritos mais agressivos que a comemoração da morte de Bin Laden é parte de uma ação contra o islã e suas crenças.
Nessa linha de perigos, parece mais ajuizado evitar o que pode parecer uma provocação aos anônimos Bins Ladens instalados não apenas no Paquistão e nos países do Oriente Médio, mas em toda a Europa, regiões em que também vivem cidadãos e atuam empresas norte-americanas. Ninguém tem nada a ganhar ao insuflar mais ódio e desejos de vingança. Mesmo reiterando o repúdio a todo grupo, país ou facção que opte pela prática de atos terroristas para impor suas mensagens ou defender seus interesses supostamente ameaçados, melhor fará o mundo civilizado se externar respeito pelas diferenças culturais, evitar as generalizações fáceis e buscar sem descanso o diálogo e a boa vontade, posturas que tornam possível a convivência. A hora deveria induzir as lideranças à reflexão e à responsabilidade. Em jogo está a paz.

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