sexta-feira, 8 de abril de 2011

Caso Realengo: saída à direita.

Em seu editorial, O Globo ver como resposta à chacina de Realengo o recrudescimento dos órgãos de segurança.
Depois da tragédia de Realengo

A dor, a incredulidade e o espanto são sentimentos inescapáveis nestas horas que se seguem à tragédia de Realengo, uma das mais cruentas da crônica da violência no país. Um assassino que, a sangue-frio, atira contra vítimas indefesas choca a sociedade em qualquer parte do mundo - e, se o alvo são crianças e adolescentes que, numa sala de aula, mal haviam começado a desenhar suas histórias pessoais, o ato sanguinário ganha uma dimensão ainda mais dantesca. É com esta sensação, com não poucas manifestações de extrema aflição da população e, por óbvio, daqueles que perderam seus filhos na Escola Tasso da Silveira, que o Rio atravessou ontem um dos mais penosos dias de sua história - e é ainda em comoção que a cidade e o país haverão de acordar hoje. A tristeza e o luto provocados pelo episódio no subúrbio carioca ficarão como marca trágica na crônica policial brasileira. 
O poder público deu, à primeira hora do assassinato em série, respostas adequadas à emergência da situação. Mas tem o dever de dar outras, no day after da tragédia - a primeira delas, o descarte de eventuais teses que atribuam o horror em Realengo à fatalidade, ao fortuito. Ainda que haja alguma dose desses ingredientes no episódio, dobrar-se preferencialmente a eles para tentar explicar o ato de terror será a pior das reações, com danos irreparáveis à credibilidade das autoridades e à preservação da segurança da sociedade. 
O momento é de extremo sofrimento, mas o poder público não pode confinar o atentado em Realengo ao desequilíbrio isolado de um serial killer, mesmo que haja na tragédia traços evidentes de desequilíbrio mental. A sociedade está chocada e há o compromisso moral da solidariedade com as famílias atingidas, mas, para as autoridades, há lições imediatas a tirar da barbárie. O Rio e o país, por exemplo, precisam aperfeiçoar os mecanismos de vigilância e de prevenção da violência, não só para o dia a dia de cidades superpovoadas, mas também em razão dos grandes eventos - a Copa de 2014 e os Jogos de 2016 - que, por sua natureza, atrairão grande fluxo de turismo e potencialmente colocarão o Brasil na rota do terror internacional. 
Para desestimular outras manifestações de bestialismo, tanto devido à alta criminalidade no país quanto em relação a grupos movidos pelo ódio ideológico, ou loucura, é fundamental que instrumentos e órgãos de segurança (polícia e organismos afins) deem inquestionáveis e crescentes demonstrações de eficiência. No caso específico das escolas, é certo que elas não devem ser fechadas à comunidade, mas disso não deve decorrer relaxamento com a integridade daqueles que as frequentam. 
A chacina de Realengo também chama a atenção para outro viés da segurança pública - a que trata das ações de controle de armas. Avançou-se neste quesito com a edição do Estatuto do Desarmamento, mas há brechas na lei que ainda permitem a circulação de armamento em perigosa escala. Junte-se a isso a inexplicável omissão da Polícia Federal no rastreamento de armas e munição que, compradas no comércio legal, acabam sendo desviadas para o arsenal do banditismo. 
O país chora de tristeza. Mas que do sofrimento advenha o ensinamento de ver no crime de Realengo não uma manifestação isolada, mas um alerta para a necessidade de o poder público aperfeiçoar seus instrumentos de prevenção contra qualquer tipo de violência. 

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